quarta-feira, 27 de abril de 2011

A função pública degradada

Exercer uma função pública deveria causar nas pessoas um certo temor, uma certa apreensão, de não estar à altura, de não ser capaz de exercê-la com a proficiência necessária, de não ter a coragem cívica suficiente para afrontar os inimigos da coletividade. Candidatar-se a uma função pública deveria exigir do cidadão, mais que uma ficha limpa, um exame de consciência, uma avaliação sincera de suas potencialidades e das exigências do cargo, uma auto-análise que revelasse as verdadeiras intenções por trás de tal objetivo. Deveriam os candidatos despir-se primeiro de sua mesquinhez, de seus interesses pessoais, mesmo que legítimos, para dedicar-se de corpo e alma aos interesses da comunidade que os elegeria. Ou seja, é um sacerdócio. A função pública deveria revestir-se do caráter de um dever sagrado e com tal circunspecção deveria ser exercida. 
Não é à toa que os romanos vestiam-se de branco como sinal de pureza quando candidatos a uma função pública. Decorre daí a palavra "candidatus" derivada de "candidus" (branco, limpo). Hoje em dia ninguém é mais cândido. O que vemos é uma profusão de velhacos, espertos, safados, canalhas, torpes, mesquinhos, venais, egoístas, interesseiros, querendo, almejando, salivando de vontade de por a mão no butim do erário.
Novamente os romanos: entre eles o "Aerarium", o tesouro público de Roma, era tão sagrado que ficava guardado no templo de Saturno, junto com os estandartes das legiões e os decretos do Senado gravados em bronze. Isso mostra o quão sério eram as questões públicas para eles. E deveriam continuar a sê-lo, hoje, se houvesse um pouco mais de patriotismo e um pouco menos de cinismo nas figuras públicas.
Mas, ao contrário da pureza de intenções, vivemos uma espécie de Sodoma e Gomorra  na política. Vale tudo. Já nem temos uma oposição digna do nome. É muito difícil exercer a oposição quando o desejo inconfesso é fazer também parte da "festa". E quando nos deparamos com um Roberto Jefferson fazendo oposição ao governo Dilma dá até vontade de chorar. Roberto Jefferson e José Dirceu são as duas faces da mesma moeda. Tanto que brigaram por motivos que jamais saberemos, mas que podemos perfeitamente imaginar. E se não tivessem brigado, o mensalão teria perdurado pelos oito anos e estaria talvez Dirceu agora sentado no trono ao invés da Dilma. Por qualquer ângulo que se olhe é sempre um horror. 
Isso nos leva a outro temor, o da fragilidade de uma democracia sem oposição. O caso do México, em que durante 70 anos reinou o PRI deveria nos servir de alerta. Ou quando a classe política se decompõe sem identidade e nos faz lembrar a República de Weimar que desembocou na ditadura nazista. Ou como quando, na bagunça institucional italiana, criou-se o ambiente político em que proliferou o fascismo. Não há vácuo na política. Quando os verdadeiros líderes abrem mão de seu papel, inevitavelmente surgem os falsos messias querendo "salvar" o povo.
Precisamos urgentemente de candidatos, no sentido original do termo. Precisamos de pessoas que se disponham a fazer política visando o bem comum. Será isso uma utopia? Não existem tais pessoas em nosso país? Estamos condenados eternamente a essa mediocridade? Ou será que, se crescemos e nos desenvolvemos em tantas áreas, conseguiremos enfim desenvolver o nosso sistema político? São perguntas que vão ficando sem resposta em razão dos fatos e do choque de realidade a que somos submetidos todos os dias, mas não podemos perder as esperanças, nem jogar a toalha pois então estaremos admitindo a derrota dos cidadãos de bem.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A inclusão necessária

A única maneira de deter ou mesmo eliminar a violência (urbana ou internacional) é promover a inclusão social, quer dos grupos de pessoas, quer dos países como um todo, na prosperidade e no progresso sustentável. Não haverá paz no mundo enquanto houver ricos de um lado e pobres do outro lado da cerca.
Quando olhamos para o oriente médio e ásia central só vemos aquilo que o nosso preconceito ocidental-cristão nos permite ver. Só identificamos fanatismo, violência e terror e queremos uma cerca de proteção, um fosso, para separar o nosso mundo do "deles". Isso foi possível até o advento do século XX e agora, no século XXI é simplesmente uma utopia irrealizável. Os mundos se entrelaçam e, queiram ou não, serão forçados ao convívio. Podemos escolher se queremos um convívio conflitante ou cooperativo e pacífico.
No caso da escolha de um convívio conflitante (que é o que temos feito até agora) mesmo sendo o ocidente uma potência militar e econômica, não há nada que garanta a supremacia de nenhuma das partes. O império romano caiu sob o domínio dos bárbaros de então, mesmo tendo sido uma civilização espetacular como jamais se repetiu nesse planeta. A terceira lei da termodinâmica também nos garante que é mais fácil destruir do que construir, portanto a lei natural tende a favorecer os processos menos complexos, incluindo aí as civilizações. Depois, basta fazer um cálculo de custo x benefício e ver que a manutenção dessa desigualdade custa muito caro.
Por qualquer ângulo que se olhe, a paz, o convívio respeitoso entre os povos é uma opção melhor. Para que isso se torne realidade é necessário que comecemos por nos despir da arrogância de considerarmos o nosso ponto de vista melhor que o dos outros. Não estou pregando o relativismo cultural radical que despreze a questão dos direitos humanos fundamentais. Ao contrário, penso que podemos concordar em uma agenda comum, respeitando os seres humanos igualmente em seus direitos e deveres, mas devemos aceitar as diferenças e a autodeterminação, e, para mim,  a chave do sucesso está na inclusão. Um bom exemplo foi a inclusão da sociedade japonesa no mundo da prosperidade. Não se percebe nessa sociedade nenhum resquício de ressentimento contra o que os americanos fizeram lá. E acredito que boa parte da explicação está no fato que a sociedade japonesa não se sentiu marginalizada e fechada em um gueto, ao contrário, foi convidada a participar da geração de riqueza mundial. Se isso funcionou com uma sociedade antípoda em muitos aspectos e não só no geográfico, deverá funcionar em outras sociedades que, de certo modo estão mais perto de nós. O oriente médio, ao lado da Grécia, é o berço da nossa civilização e a maior parte dos nossos valores morais e éticos são derivados dalí. "Ex oriente lux" (o sol nasce no leste) já diziam os romanos. Não podemos nos esquecer disso.


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