sexta-feira, 18 de abril de 2014

Macondo é aqui

Morreu, no dia do meu aniversário, Gabriel García Marquez, o grande escritor colombiano. Sou da geração em que ler "Cem Anos de Solidão" era uma exercício obrigatório se você tinha interesse em ser admitido nos círculos mais intelectualizados. Do mesmo modo como era "obrigatório" admirar os filmes de Glauber, Goddard, Buñuel e Bergman.
O tempo passou, a patrulha ideológica se virou para coisas mais comezinhas e o desencanto com muitos dos mitos do passado se tornou uma marca da maturidade. Não que as obras desses grandes artistas tenha perdido seu valor. A obra de Bergman e de Buñuel são e serão clássicos do cinema, mas o mesmo não se pode dizer exatamente de Glauber e de Goddard. Os filmes de Glauber mostram uma centelha de genialidade que entretanto não se concretiza em uma obra com princípio, meio e fim. Os enredos e os diálogos são falhos, pouco naturais e incompletos, às vezes sem pé nem cabeça ou excessivamente delirantes. E Goddard, para mim, é simplesmente um chato de galochas, como se dizia na época.
Quanto ao Gabo, acredito que suas obras mais importantes, "Cem Anos de Solidão", "Crônica de uma Morte anunciada" e "O Amor nos Tempos do Cólera", são clássicos da literatura mundial, que em nada ficam a dever à qualidade de um Shakespeare ou de um Dante Alighieri. 
Politicamente, sua amizade com Fidel Castro foi uma contradição e um paradoxo para uma pessoa que calcou sua obra em uma crítica permanente às ditaduras e caudilhos da América Latina. Isso lhe rendeu até mesmo uma bofetada do grande escritor peruano e também Nobel, Vargas Llosa. 
Mas as posições políticas contraditórias não diminuem a qualidade de sua arte que permanecerá como um símbolo da literatura sulamericana. Foi-se o criador mas Macondo permanece intocada ainda em vários rincões desse triste canto de mundo.

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