segunda-feira, 21 de abril de 2014

Violência doméstica

Eu não queria tocar nesse assunto, mas diante do horror de tudo que se ficou sabendo e, pior, diante de tudo o que se pode imaginar, não há como fugir do tema. Não se pode agir como os pacatos cidadãos alemães agiram diante das evidências do Holocausto, fingindo que nada estava acontecendo.
O assassinato dessa criança de 11 anos no Rio Grande do Sul traz à tona uma ferida que jaz semi-escondida  no meio da nossa sociedade e na qual ninguém gosta de tocar. Trata-se da violência familiar.
É sabido, conhecido e aceito, que os pais podem e, para alguns, até mesmo devem castigar fisicamente os filhos. Há um ditado que diz: quem dá o pão, dá o castigo. Então somos um povo que admite a violência paterna como meio de educação. E qual seria o limite "normal" para essa violência? Aí é que começam os problemas. Não há como definir isso. Somos animais agressivos e, quando a agressividade se desencadeia, o auto-controle fica comprometido. A relação entre as partes é assimétrica. Os pais tem poder e força, as crianças são indefesas fisica e psicológicamente. É uma relação dominador-dominado. A situação já é ruim para muitas mulheres que são vítimas da violência dos seus parceiros. Para as crianças isso piora.
Em um ambiente sadio, os pais não perderiam jamais o controle sobre suas emoções em relação aos filhos. Infelizmente isso não é a realidade. Ainda por cima, com a deterioração das relações familiares, casamentos desfeitos, uniões instáveis, relações cada vez mais neuróticas, a situação tende a piorar. Nesse estado de coisas as crianças acabam por serem as maiores vítimas. São a parte mais frágil e sempre a mais submetida aos abusos. São usadas como moeda de troca ou de vingança entre ex-parceiros, manipuladas na relação de poder, negligenciadas, maltratadas nos novos núcleos familiares a que são obrigadas a pertencer, humilhadas, degradadas, espancadas, estupradas e mortas. A escala vai assim.
E nós como sociedade fazemos o quê? Nesse último e, sob todos os pontos de vista, deplorável caso, a sociedade brasileira falhou redondamente. Suas instituições simplesmente não funcionaram. O menino procurou espontâneamente a ajuda do Estado. E as instituições, mantidas com o dinheiro dos impostos, o que fizeram durante 1 ano? Nada que valesse a pena. Consumiu-se na burocracia, na papelada, nos procedimetos legais e deixou que uma vida inocente fosse destruída. Pergunta-se: para quê precisamos dessas instituições? Para quê precisamos de Conselhos Tutelares, Juizado de Menores? Não é exatamente para casos como esse? No mínimo, o que o Juiz, o Ministério Público ou o Conselho Tutelar deviam ter feito era ter abrigado a criança sob custódia da avó materna, ou de alguma família que lhe desse segurança até que se investigasse a situação e se determinasse a melhor solução.
É preciso fazer alguma coisa. Não podemos assistir impávidos ao holocausto quotidiano em conta-gotas desses pequenos e indefesos seres humanos.

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