quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O fundo do poço

"Todos nós aqui somos loucos.Eu sou louco,você é louca".

"Como você sabe que eu sou louca?" indagou Alice.

"Deve ser", disse o gato, "Ou não estaria aqui".



Em "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol, ela diz: "Não sei se o poço era muito fundo, ou se a queda era muito lenta."
Mas afinal, ela acabou chegando ao fundo do poço, coisa que não acontece a nós aqui no Brasil.
A gente nunca chega ao fundo do poço. Ele está sempre mais abaixo do que a gente pensa.
O fundo do poço desapareceu agora quando senadores da República, em conluio com o presidente do Supremo, instituíram a novidade de que o Senado está acima da Constituição e pode tomar uma decisão que a contrarie frontalmente.
Não há outra interpretação para a votação "em separado" da pena de suspensão dos direitos políticos por 8 anos. O texto constitucional é límpido:
"Art. 52 ...Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis."
Qualquer interpretação diferente é mero exercício de exegese "criativa". É uma pedalada jurídica.
Diante disso, o cidadão boquiaberto pergunta: Vai ficar por isso mesmo? O Supremo não exercerá sua função de guardião da Constituição? A Lei, afinal, vale ou não vale nesse país? A resposta até agora obtida é: a lei vale, mas depende...Se o atingido for um despossuído a lei será aplicada com todo o rigor, caso contrário, depende...

Voltando à Alice:
Quando eu uso uma palavra - disse Humpty Dumpty num tom de escárnio - ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique ... nem mais nem menos.- A questão - ponderou Alice – é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes.
- A questão - replicou Humpty Dumpty – é saber quem é que manda. É só isso.
Outro exemplo de poço sem fundo é o caso da confissão pública de Renan Calheiros que intercedeu (ou interferiu, melhor dizendo) pela senadora Gleisi Hoffman e seu marido, retirando o seu indiciamento no Supremo. Em qualquer país sério isso seria um escândalo arrasador. Essa confissão lança uma suspeita (mais uma) sobre a integridade da nossa Suprema Corte, que nem piscou, e confessa sua ação, como presidente do Senado, para obstruir a Justiça. E o que aconteceu até agora? Nada!

O destino de um país assim pode ser descrito também em outro trecho do mesmo livro:
"O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?
Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato.
Eu não sei, retrucou Alice.
 
Então não importa o caminho que você escolha"

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