terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Duas tragédias irmãs

Baixada a lama, agora já dá para se comentar a tragédia com a visão mais clara.
Pela segunda vez, atônitos, assistimos ao mesmo mar de lama avassalador destruir vidas humanas, animais, casas, rios, etc.
Parece um destino inevitável - como o daqueles países que de tempos em tempos são abalados por terremotos, erupções vulcânicas ou tornados - que o Brasil seja assolado por tragédias como essa com uma frequência assustadoramente elevada.

Fomos poupados desses sinistros, esses que são injunções da natureza, mas infelizmente fomos bem aquinhoados com todas as demais pragas derivadas diretamente da ação ou da omissão humana.

Nossa tragédia é a proporção de canalhas que vivem entre nós. São brasileiros que, ao invés de se darem por satisfeitos por terem nascido em um país abençoado, ainda querem mais, sempre mais, não se importando com o rastro de destruição que vão deixando por onde passem.

O primeiro mar de lama, o de Mariana, ainda poderia ser atribuído a alguma inexperiência ou falta de informação, apesar de se tratar de uma empresa pertencente a duas das maiores mineradoras do mundo, o que não justificaria a falta de monitoramento adequado e não uso preventivo da tecnologia disponível. Mas, se ainda assim, houvesse tido alguma justificativa, agora jamais poderia ter se repetido a tragédia. Menos ainda com a autoria de uma das empresas envolvida no primeiro caso!

Todo mundo se pergunta: o que aconteceu? Talvez a melhor pergunta fosse: o que NÃO aconteceu? Sabe-se que relatórios foram emitidos informando a precariedade da manutenção da barragem, portanto não foi falta de informação. Por quê a empresa não agiu a tempo, não providenciou ao menos um sistema de alarme suficiente, não mudou os escritórios de posição? 

A triste resposta pode ser encontrada naquilo que o caráter brasileiro tem de pior: a falta de escrúpulos e de empatia com o outro. Dizem que somos um povo cordial. Só na aparência.
Vivemos como se o outro não existisse. Jogamos lixo pelas janelas dos carros, deixamos parques e jardins entupidos com nossos restos, destruirmos as lixeiras nas ruas, os passeios são abandonados, esburacados e dane-se a mobilidade dos deficientes. Não podemos nos distrair um segundo dos nossos pertences em local público, que alguém se encarrega de fazê-los desaparecer. Espantamo-nos de saber que em países como a Suíça, por exemplo, as pessoas compram jornais e depositam as moedas em uma caixinha. Não há ninguém para cobrar e todo mundo paga. O motivo de espanto é porque, para nós, "dar o cano" é natural.

Pois bem, o que isso tem a ver com a recente tragédia? Tem tudo a ver, a começar pela incúria dos funcionários, gerentes e diretores responsáveis pela segurança. É a cultura do "deixa como está, para ver como é que fica". É a cultura ibérica do papelório que (pretensamente) substitui a realidade.

Diferentemente do direito saxão, o "nosso" direito diz: o que não está nos autos (ou seja, nos papéis) não está no mundo. E por aí vamos!

A Vale tinha os papéis "em ordem", mas a realidade é que essa ordem era apenas fictícia, como em muitas outras grandes corporações. Todo mundo brincando à beira do abismo. Daí para o desastre foi um passo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Democracia?

Democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim (Millôr Fernandes)


No terreno pantanoso da política, existem alguns poucos conceitos que são tidos e havidos como verdades fundamentais, as quais ninguém discute. Um deles é o conceito de democracia. Desde os regimes mais liberais até os mais fechados, quase todos usam o conceito de democracia ao se referirem a si próprios. 

O exemplo mais atual é o moribundo regime bolivariano da Venezuela, mas há outros exemplos clássicos, como: a extinta República Democrática Alemã (Alemanha Oriental); o Camboja, durante o regime ultra-fechado e sanguinário de Pol Pot, que matou entre 20 e 25% da população cambojana, e que se denominava Camboja Democrático; mas o melhor exemplo dessa distorção é a República Democrática e Popular da Coreia (mais conhecida como Coreia do Norte). Portanto, democracia é um conceito um tanto elástico, que serve a variados propósitos políticos, e em nome do qual se cometem tantos crimes.

Acontece, porém que, independentemente de qualquer distorção, há uma questão fundamenta que jamais é discutida: será a democracia o melhor regime político para toda e qualquer nação?
Não se faz essa pergunta! Quem sequer ousar perguntar será queimado em praça pública como herege. É assumido, como postulado que não precisa de provas,  que a resposta a essa questão só pode ser afirmativa. A democracia seria o regime ideal, excelente, sob o qual todos os povos deveriam viver felizes para sempre e cuja verdade não se discute.

Entretanto, deveríamos discutir desarmadamente. Vamos começar com um exemplo corriqueiro; não é incomum pais dizerem a seus filhos: Isso aqui é uma família, não uma democracia! 
Nada mais verdadeiro. Numa família, em que os filhos sejam menores ou incapazes, não se decidem coisas pelo "voto majoritário", mas pela autoridade de quem cuida dessa prole. 
As empresas também não são um ambiente democrático e os exemplos em que se tentou implantar uma gestão coletiva (como nos países socialistas), foram retumbantes fracassos.

Há ainda um outro exemplo: as organizações militares, que, para serem eficientes, são estruturadas em uma rígida hierarquia, cuja quebra, quando acontece, leva toda a sociedade ao caos. Ainda poderia citar as organizações religiosas, educacionais, mas já basta. O que se vê, em comum a todas essas organizações não-democráticas, é que elas são mais eficientes em cumprir seu papel. E, onde a democracia impera, a situação às vezes beira o caos. Um exemplo claro e recente foi a decisão democrática britânica do Brexit. Ao fim e ao cabo, ninguém está satisfeito e o Reino Unido nem entra, nem sai da União Europeia.

Quase que daí surge uma conclusão: das democracias não se pode esperar eficiência. A democracia é intrinsecamente um regime de confusão. Os objetivos são mudados de tempos em tempos conforme o governante de plantão, não há garantia de continuidade (até pelo contrário) e, ás vezes, fica-se andando para lugar nenhum.

Dito isso, cabe a pergunta: apesar de tudo, será a democracia o melhor regime mesmo? E por quê seria? Respostas, ou melhor, livres elucubrações, no próximo capítulo.



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