Grandes autores falaram sobre a memória e o tempo. Érico Veríssimo em “O tempo e o vento”, Marcel Proust em seu “Em busca do tempo perdido” também.
Estão interligados. Perder a memória é também perder aquele tempo em que se viveu. Por isso, penso que a maior decrepitude a que pode chegar um ser humano é a decrepitude da memória. Os exemplos mais clássicos são os portadores da doença de Alzheimer.
No final do processo, a pessoa que habitava aquele corpo já não existe mais. O tempo pra ela também já não existe, não passa. Tudo torna-se um eterno presente fosco e vazio. É a pior forma de não-existência.
O maior prêmio a que um ser humano íntegro pode aspirar é terminar a vida consciente. Ter a consciência do momento final, sem medo e podendo se despedir dos entes queridos, agradecer pelo amor e cuidados recebidos e deixar a eles a última mensagem de carinho e amor incondicionais que permearam aquelas vidas.
Se Deus existisse é isso que eu pediria a ele para os meus últimos momentos.
(A propósito do texto de Adélia Prado: "O que a memória ama, fica eterno")