segunda-feira, 30 de maio de 2016

A cultura do corpo

Faço atividade física em uma academia. No vestiário masculino, ouço as conversas entre os demais frequentadores. Especialmente entre os chamados "pit-bulls" - aqueles fortões, que gostam de ficar olhando seus próprios músculos no espelho - o tema das conversas, assim como sua forma, é lastimável.

Para começar, a língua portuguesa é destroçada sem dó, nem piedade. O vocabulário é minimalista. O pronome eu é usado e abusado de um modo que chega à infantilidade. O pronome nós é substuído por "a galera". Os adjetivos quase sempre são "cabulosos", "sinistros" e "da hora". De advérbio, acho que só conhecem o "de boa", sem saber é claro, o que é advérbio.

Se fosse apenas a língua portuguesa a ser destroçada estava até bom. O pior é quando passam a se referir às "minas das baladas". É aí que a coisa pega. A atitude é tão agressiva que quase chega à misoginia (*). Freud ficaria deliciado com mais essa confirmação de suas teorias psicanalíticas. O medo reprimido que esses "machos" têm da mulher é algo impressionante.

A figura feminina os ameaça tanto que têm que ser dominada, domada, de certa maneira até destruída, reduzida a um objeto, para que eles consigam lidar com ela. Esse temor inconsciente é o motivo de brotar toda essa agressividade contra a mulher. Psicologicamente, são crianças com medo da bruxa, ou fada malvada, que os irá castrar. Isso, obviamente, não lhes diminui a culpa, nem a responsabilidade. São adultos, que deveriam se comportar como tal e, se não conseguem deveriam procurar tratamento.

Infelizmente, há também, por outro lado, um bando de mulheres tão doentes quanto. Aquelas que se escravizam a uma cultura do corpo e da beleza, que as reduz, mais uma vez, a objetos para o usufruto de outrem.

Nossa sociedade está doente e não se vê perspectiva de tratamento e cura a curto prazo.



(*) Misoginia - medo, pavor, aversão à figura feminina.

domingo, 29 de maio de 2016

A cultura da impunidade

Fomos deixando acontecer! Quando acordamos (será que acordamos?) vimos que uma parte do país, dentro das cidades,  está entregue a um Estado paralelo, o crime organizado do tráfico de  drogas. Outra parte, no topo da escala social, entregue a outro crime organizado, a conivência entre grandes empresas e agentes políticos.
Seja o crime organizado de baixo, seja o crime organizado de cima, os dois estão interligados e sufocam a população brasileira. E um existe por causa do outro.

Se os governos, em todas a esferas, não fossem antros de corrupção, haveria dinheiro e políticas públicas que não permitissem, ou melhor, que reduzissem a criminalidade urbana a patamares civilizadamente aceitáveis. A corrupção policial é apenas uma extensão da corrupção política em níveis mais elevados e, nem sempre, esses mundos estão tão distantes assim. Há políticos que se elegem com o apoio das "comunidades", ou seja, com o apoio dos traficantes. E deles dependem e a eles satisfazem.

E aí chegamos ao estupro coletivo dessa menina. Como ela, existem muitas outras, que frequentam os tais bailes funk, que se submetem aos desejos dos "chefes" locais, que, apesar de menores, bebem, usam drogas, se prostituem. Todo mundo sabe que esses "bailes" são promovidos pelo tráfico como um chamariz "comercial", para atrair mais consumidores.

E nao se vê os defensores dos direitos humanos gritarem diante desses absurdos que se cometem todos os dias nas favelas e nas periferias das grandes cidades, das médias e até das pequenas. A polícia, o ministério público, os órgãos de defesa da criança e do adolescente, os juizados de menores, todos fingem que esse universo não existe. Somente quando um caso, como esse, escandaliza a opinião pública, é que se finge tomar providências.

Quantos casos semelhantes acontecem e ninguém faz nada? Ou seremos ingênuos de pensar que esse estupro aconteceu só dessa vez? Na sexta-feira passada não houve baile funk na favela do Barão. Por quê? Porque a polícia estava, mesmo que a contragosto, procurando pelos estupradores. Isso deixa claro que, quando quer, a polícia assume o controle.

Não vai adiantar fazer passeatas contra a "cultura do estupro". Ela faz parte de uma cultura maior, a cultura da corrupção e da impunidade.

sábado, 28 de maio de 2016

Processos ocultos

Demorou, mas o Supremo, deu essa semana uma demonstração de avanço institucional ao eliminar os processos ocultos. Em um democracia, prevalece a regra da transparência nas atividades públicas. O sigilo só é justificado em questões de segurança, no interesse de facilitar investigações policiais (enquanto são investigações) e nas questões de âmbito estritamemte privado, como as questões de família.

Nos demais casos, prevalece a publicidade. Nós, cidadãos, temos o direito e até o dever de saber e acompanhar o que as autoridades constituídas estão fazendo em nosso nome e, supostamente, para nosso benefício.

É interessante notar que, coincidência ou não, essa atitude do Supremo, assim como a decisão de prender após condenação em segunda instância, só foram adotadas depois da Lava Jato.

A Suprema Corte do país, que deveria liderar os processos de saneamento das atividades públicas, vem a reboque de uma vara de primeira instância. Não é à toa que os bandidos, fantasiados de políticos, prezam tanto o foro privilegiado. Sabem que lá nas alturas do Poder terão muito mais possibilidade de escaparem ilesos dos rigores da Lei, quando menos pela demora na tramitação de processos, o que lhes facilita a prescrição (a meu ver outra excrescência jurídica).

O foro privilegiado tem de acabar, ao menos para os crimes comuns. Não se pode passar a mensagem ao povo de que quem tem poder pode tudo. Não há nenhuma razão republicana para dividir os cidadãos em duas ou mais classes. Se quisermos ser um país moderno temos que acabar de vez, com qualquer tipo de privilégio. O que os cidadãos precisam é de ter direitos. E que esses direitos sejam convertidos em realidade, ao invés de serem apenas letra morta.

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