Como a dita-cuja já está em plena campanha eleitoral, ou seja, está pedindo votos de novo ao povo brasileiro, não custa nada relembrar o que ela prometeu na campanha passada. Cada um que confira o que foi cumprido ou não. Vou dar só a lista:
- Tornar o Brasil a quinta maior economia do mundo: caímos para o sétimo lugar.
- Reduzir a dívida pública líquida para 30% do PIB: aumentou para quase 60% do PIB.
- Reduzir fortemente os juros e manter o controle da inflação: sem comentários!
- Construir 8.600 unidades básicas de saúde em todo o país e 500 UPA's.
- Construir 6.000 quadras esportivas e 800 complexos esportivos, culturais e de lazer.
- Construir 6.000 creches.
- Construir 800 novos aeroportos e 5 refinarias com tecnologia de ponta.
- Construir 2 milhões de moradias no Programa "Minha Casa, Minha Vida"
- Terminar a transposição do S. Francisco.
- Investir 11 bilhões de reais em proteção de encostas e prevenção de enchentes.
- Investir 34 bilhões de reais em saneamento básico e abastecimento de água no Nordeste.
- Construir 2.883 postos de polícia comunitária.
- Aumentar para 7% do PIB os investimentos públicos na educação.
Além dessas 13 promessas específicas, ainda fez outras vagas, como: erradicar a miséria e o analfabetismo, eliminar as filas para exames especializados, fazer uma reforma radical no sistema penitenciário brasileiro e proteger as fronteiras contra o tráfico de armas e drogas reequipando a polícia federal e comprando 10 drones (ou VANTs - Veículo Aéreo Não Tripulado) para isso.
Como dizia o Chico Anísio na pele do Coronel Pantaleão :
"- É mentira, Terta?
- Verdaaade..."
Qual é a diferença entre extrair petróleo de águas marítimas profundas e extraí-lo à flor da terra? Custo! A diferença, brutal, é o custo. Claro que trabalho e risco estão envolvidos, mas tudo isso pode ser convertido em números e ser traduzido por uma palavra: custo.
O custo muito mais baixo da extração do petróleo de xisto, comparado com o de águas profundas como o do pré-sal, se traduz, ou em maior lucratividade para as empresas exploradoras, ou em preços mais baixos do produto final. Geralmente, quando isso acontece e quando se associa a isso a "lei da oferta e da procura", com a maior abundância do bem oferecido as duas coisas se verificam: o lucro aumenta e os preços caem.
Aonde quero chegar com isso? Quero dizer que quando o governo faz as contas da dinheirama que pretende ganhar com o petróleo do pré-sal está contando com o ovo ainda no fiofó da galinha.
Senão, vejamos. A estimativa de recuperação de óleo do pré-sal varia de 8 a 12 bilhões de barris, segundo a ANP. Fiquemos com 10 bilhões. O período de extração será de 35 anos até se esgotar a reserva. Ao preço de 100 dólares por barril essa reserva valeria mil bilhões (ou seja, 1 trilhão de dólares). O custo estimado da extração é de 25 dólares por barril. Até aí tudo bem. Todos estão ganhando muito. O problema é o "se".
Com a descoberta das reservas de xisto nos EUA e considerando o custo muito mais baixo dessa extração, o preço do óleo (e gás) não se manterá em 100 dólares pelos próximos 35 anos! Também não se sabe ainda com certeza se o custo da exploração do pré-sal será só de 25 dólares por barril! pode chegar até 50!
Se o preço do gás já caiu de 13 para 2 dólares por BTU nos Estados Unidos e eles, que são o maior importador, tornando-se autossuficientes, pode se imaginar que efeito terá sobre os preços internacionais do petróleo. Não seria espantoso, nesse cenário, se o preço do barril voltasse aos 30 dólares dos anos 80. Aí, bye, bye, valor das reservas do pré-sal.
Portanto o que Dilma tem a comemorar até agora é ainda um conjunto de incertezas. Não se sabe ainda se as reservas recuperáveis são mesmo de 10 bilhões de barris, não se sabe se o custo de extração nas águas ultra-profundas do pré-sal será mantido nesses 25 dólares por barril e não se sabe se o preço do petróleo permanecerá no patamar de 100 dólares.
Mas comemora-se assim mesmo, afinal o que interessa a ela é apenas a reeleição. Depois, quando as coisas derem errado, o problema será somente das futuras gerações do povo brasileiro.
Há países e países. Há aqueles cujo povo e, consequentemente, os dirigentes procuram construir uma nação rica e poderosa e há aqueles em que o povo e os dirigentes querem fazer o contrário. Ambos conseguem.
E viva o pré-sal! Aplausos! Maravilha! Vendemos a melhor parte da riqueza do pré-sal a um único ofertante e pelo preço mínimo do leilão. Ou seja, não houve leilão! Não houve disputa porque ninguém mais se interessou. Nem a gigante British Petroleum, nem a ExxonMobil, nem a Chevron, nem mesmo a mexicana Pemex ou a norueguesa Statoil se interessaram. Mesmo assim, Dilma comemorou a formação do "maior consórcio do mundo". Tinha que ser alguma coisa "maior do mundo". Menos que isso não atinge os objetivos marqueteiros e populistas do governo.
O "sucesso" foi também comemorado pelo ministro da Justiça e pela diretora da ANP, Magda Chambriard, que disse que um "sucesso maior que esse era difícil de imaginar".
Realmente. Imaginemos se houvesse dois ou mais consórcios concorrentes, disputando a tapa o campo de Libra. Que horror! Que falta de civilidade! O bom mesmo é fazer leilão com um só interessado. Assim não há briga e todos saem satisfeitos comemorando.
Apesar desse "sucesso" todo, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, não quis dar declarações. Talvez esteja preocupada com os 6 bilhões que a Petrobrás vai ter que pagar pela sua participação no consórcio, mas é uma bobagem se preocupar com isso.
Para quem já deve 176 bilhões (a maior dívida de empresa de capital aberto do mundo!), o que são mais 6 bilhões, menos 6 bilhões?