quinta-feira, 4 de junho de 2020

Briga na Zona

A política no Brasil está igual a briga na zona, todo mundo bate em todo mundo e ninguém sabe de que lado está. E, ainda por cima, apagam a luz!

Já há algum tempo em que a degradação do nível da nossa política foi se aproximando do baixo meretrício. Venais, como putas rodando bolsinha, nossos ínclitos deputados e senadores encastelam-se no Congresso, a casa de Mãe Joana, à espera do cafetão, o plantonista do planalto, o homem da caneta, do qual vão extrair os cargos, as emendas, as nomeações pelas quais usarão do poder, que não lhes pertence, para vender favores à banca e a quem mais os quiser comprar.

Puta é assim mesmo. Não escolhe freguês. Desde que tenha a carteira recheada, tudo bem!

Do outro lado da rua,  mora o grande cafetão desse puteiro, que se chama presidente da República. O sistema foi beem engendrado. O presidente tem a caneta, mas não manda, só pode vender ou comprar favores. Para que qualquer coisa aconteça no país é necessário que as meretrizes do Congresso o aprovem. E para que aprovem, todos sabemos o que querem. 

Era para funcionar. Na zona boêmia também é assim. Uns compram e pagam, outros vendem, e todos ficam felizes. Mas, de vez em quando, sai um furdunço. Alguém passou alguém pra trás, alguém não recebeu o combinado e aí o tempo fecha. De repente, a zona toda briga. Voam cadeiras, quebram-se copos, navalhas saem das algibeiras. É um salve-se-quem-puder, tudo pode acontecer.
Pois é assim que está o panorama político atual. Até há pouco tempo, sabia-se quem estava do lado de quem, quem era da esquerda ou da direita, quem continuava a apoiar o PT, quem era bolsominion.

A confusão foi se desenrolando até que chegamos ao ponto em que um Alexandre Frota está quase defendendo o Lula. Os terraplanistas atacam os militares.  Joyce Hasselman é inimiga número 1 do clã Bolsonaro. Paulo Marinho, suplente de senador do 01 faz declarações contra o seu ex-aliado. Roberto Jefferson, ex-tropa de choque do Collor, ex-aliado do PT, ex-comparsa de Zé Dirceu, passa a atacar o ex-juiz Sérgio Moro, a defender Bolsonaro e consegue emplacar um aliado seu no Banco do Nordeste, que, no entanto, dura apenas 24 horas no cargo. 

O mais espantoso, porém, é esse ex-promotor, ex-filiado do PSOL, Sr. William Koressawa, passar a integrar uma tropa de choque pró-Bolsonaro, o movimento "300 do Brasil" liderado pela recém-famosa Sara Winter e, por duas vezes, se dirigir ao Superior Tribunal Militar para pedir a prisão do Moro e de ministros do Supremo!

Dá para entender? Quem puder que me explique.


quarta-feira, 3 de junho de 2020

"Diga-me com quem andas...

... e te direi quem és". Esse velho e conhecido ditado, ensinado por nossos pais e avós, continua plenamente válido hoje em dia. Há outro, de significado similar: "gambá cheira gambá". 

A sabedoria contida nesses ditados nos indica que não é preciso de provas jurídicas incontestáveis para se deduzir o caráter, ou a falta dele, de qualquer pessoa. Bastam certos indícios inequívocos, tais como a condição "sine qua non"Grupos divergentes em objetivos, motivos e ideias não se juntam. Em outras palavras, tal como postulado na homeopatia, semelhante atrai semelhante.

Assim, não deixa de ser curiosa, para dizer o mínimo, essa associação do governo Bolsonaro com o Centrão. Aparentemente, não poderiam haver agendas mais divergentes que as do Centrão e as do liberalismo econômico que impulsionou a candidatura de Bolsonaro.

Um quer mamar no Estado, como sempre fez, o outro quer o Estado mínimo, como é a espinha dorsal da corrente liberal. A adesão ao Centrão - não foi o Centrão que aderiu ao governo, o Centrão está onde sempre esteve - indica que o governo Bolsonaro capitulou. Entregou os pontos. Acabou. Agora quem governa são as mesmas velhas raposas que dobraram a espinha do PT. Como amor da epístola de S.Paulo aos Coríntios, o Centrão é paciente, tudo suporta, tudo perdoa, tudo espera. 

O governo Bolsonaro acabou mesmo foi no momento em que as transações mal-explicadas de seu filho Flávio vieram à tona. A partir daí, o presidente nada mais fez que tentar impedir as investigações e o devido processo legal. Ainda, no princípio do governo tentou simular que a agenda liberal continuava sendo a prioridade, mas à medida em que a situação foi se desenrolando de modo diverso ao que lhe interessava e, no momento da saída do Moro, tendo ficado exposta essa estratégia de obstrução à justiça, Bolsonaro abriu mão do resto de seu discurso e aderiu. A quem? Ao que já estava só esperando o momento de abocanhar o bolo. 

O Centrão tem uma estratégia infalível. Provoca o sangramento da vítima até o ponto de sua capitulação, mas não a deixa morrer, passa a sugar-lhe o sangue em doses equilibradas que a mantém viva, porém exânime. Até o momento que que a carcaça não mais lhe interessa. Aí, passa a mirar na próxima vitima em potencial.

Isso ocorreu no governo Collor, no segundo mandato do FHC, nos governos Lula-Dilma-Temer e agora continua. Desses, 2 não conseguiram finalizar seus mandatos. No governo Sarney não houve isso, porque o governo Sarney era o governo do próprio Centrão, ainda que não tivesse esse nome.

Ao eleger Bolsonaro, grande parte dos eleitores brasileiros acreditava sinceramente que ele seria um anteparo ao Centrão. Acho que até o próprio Centrão pensava isso. A surpresa foi a reação apavorada do mandatário ao perceber o "perigo" batendo à sua porta. Aí o Centrão percebeu a sua chance.
Infelizmente para o Brasil, ganhou mais uma vez. Parabéns, Roberto Jefferson!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Quem não deve, não teme

O capítulo mais recente da interminável novela política brasileira é essa resistência inexplicável de o governo entregar ao Supremo a gravação da reunião de ministros, citada pelo Moro, como prova de quem é que mente e quem é que diz a verdade.

Logo após a demissão de seu ministro da Justiça, Bolsonaro fez questão de vir a público e, em transmissão televisiva, dizer que iria publicar o vídeo dessa tal reunião como prova de que o ex-ministro mentia. Não só mentia, como o caluniava. Não só o caluniava, como o traía.
Melhor oportunidade para destruir a argumentação do Moro seria essa. Os fatos são, ou deveriam ser, incontestáveis.

Não dá para entender ou justificar então essa atitude de lutar com unhas e dentes para que essa gravação não seja revelada. Motivos de Estado, uma pinoia! Segredos de Estado,  por suposto, não serão revelados por um ministro do Supremo, afinal um outro poder da República. É assim que as coisas funcionam, ou deveriam funcionar.

Vamos ver se Celso de Mello na sua, talvez, última oportunidade de proferir uma decisão que pode ser histórica como ministro do STF, não recue, não trema, como já fez em alguns outros momentos cruciais. Aquele, a quem Saulo Ramos chamou "juiz de merda", tem essa oportunidade histórica de cravar uma estrela dourada na própria biografia. 

Quanto ao Bolsonaro, essa atitude só diminui sua credibilidade e dá margem aos ataques dos inimigos. A esquerda nunca teve um alvo tão fácil. Eles nem estão se aproveitando muito da situação. Aliás, a esquerda não precisa bater em Bolsonaro. Ele e seus filhos batem em si mesmos.

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