quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Voto auditável, eis a questão.

 A discussão do momento é sobre o voto impresso. Eu penso que, para examinarmos a questão, além das paixões, além dos interesses partidários e das ideologias, devemos considerar algumas premissas:

1- Democracia significa governo do povo, pelo povo e para o povo. Embora seja ainda um conceito abstrato e talvez irrealizável - uma vez que iguala, no direito ao voto, aqueles que não são iguais - a democracia é o regime formal, sob o qual vivemos, ou supomos viver.

2- Isso quer dizer que os governos, em qualquer nível, devem ser formados respeitando-se a vontade da maioria, para o Bem ou para o Mal.

3 - Apura-se a vontade da maioria pelo voto, processo instituído como um aprimoramento e uma evolução do escrutínio por aclamação. Aliás, nem mesmo na antiga Atenas o voto era por aclamação.

4- Sempre que possível, deve-se adotar processos mais aprimorados de apuração dessa soberana vontade popular.

Isso dito, voltemos ao assunto em questão. O sistema de votação por urna eletrônica é uma evolução do sistema de contagem física de votos no papel. Isso traz vantagens e desvantagens, como tudo na vida. A principal vantagem é a rapidez na apuração. Outra vantagem apontada seria a fidedignidade da contagem, afinal o computador não erra na soma. 

A desvantagem é que o processo é obscuro para a maioria dos usuários (leia-se, eleitores). Nós, exemplares de homo sapiens, não estamos a ver nada que registre o nosso voto, a não ser alguns barulhinhos na urna, depois que apertamos a tecla "confirma".
Além disso, a contagem pode ser simplesmente modificada por um código malicioso de computador!!!!! Isso anula  a suposta vantagem da fidedignidade e o voto digital fica apenas com a vantagem da rapidez.

Ora, rapidez para conduzir ao erro ou ao resultado fraudulento não é vantagem nenhuma. Os que, por razões insondáveis,  não querem o voto auditável, juram de pés juntos que a urna eletrônica é indevassável e o sistema é seguro e à prova de invasão. Não é verdade. Todos sabemos que não há sistema eletrônico indevassável ou à prova de invasão. Estão aí as invasões do Pentágono, ou mesmo do próprio STF ou Receita Federal para os desmentir.

Outro ponto a considerar é que, mesmo que o sistema fosse perfeitamente seguro, ele não é transparente. A transparência é fator essencial na manifestação da vontade democrática. Qualquer cidadão tem o direito de saber se sua vontade foi ou não considerada em qualquer apuração. Sem isso, adeus democracia. O que teremos será um simulacro, um teatro.

Por último, voltando aos antigos, "Quod abundat non noscet", o que abunda não prejudica. Isso quer dizer que ainda que o sistema atual fosse a oitava maravilha, não há problema algum em torná-lo mais transparente e confiável. Por quê então tantos não querem um sistema de contagem auditável? Não é fácil responder a essa pergunta sem entrarmos no terreno pantanoso da fraude e da burla. Mas o Brasil é um país onde  fraude e a burla são impensáveis, não? 



sábado, 29 de maio de 2021

Idade das Trevas

Para alguns estudiosos, a História é cíclica. A teoria desenvolvida pelo historiador Reinhardt Kosseleck não foi a primeira a levantar essa hipótese. 

Karl Marx, citando Hegel, já afirmara: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Considerando isso, estou convencido de que estamos entrando em uma nova Idade das Trevas. Os sinais estão em toda parte: fervor religioso extremo, fanatismo, negação da ciência - e até mesmo da realidade - em favor de uma narrativa mitológica (muitas vezes mitômana), regressão cultural, desvalorização do conhecimento. 

Paradoxalmente, nunca tivemos tanto domínio da tecnologia na vida diária. Da alimentação aos medicamentos, da universalização da informação às interações sociais e ao acesso físico e virtual a qualquer parte do globo rapidamente, a tecnologia está indissociável de nossas vidas. 

Ao mesmo tempo, nunca tivemos tanto medo dela. Proliferam por aí as mais estapafúrdias teorias sobre o que quer que seja. Seremos dominados pelas máquinas, a IA está controlando as nossas vidas, e por aí vão as teorias conspiratórias.

Vejamos o caso das vacinas, uma das maiores conquistas da medicina, porque evita a doença, ao invés de simplesmente lutar para curá-la ou amenizar seus efeitos. Pois não são poucas as pessoas, algumas de alto nível cultural, inclusive médicos, a propalar as maiores sandices contra a vacinação.

Outro exemplo: dominamos, ainda que incompletamente, as viagens espaciais. Temos tecnologia para mandar pessoas ou robôs a Marte. Para que isso seja possível tivemos que colocar todo o conhecimento da geofísica em ação, calcular os movimentos planetários relativos entre si, etc., etc.  Pois surge, em pleno século XXI, uma turma que não só acredita, mas desenvolve uma teoria conspiratória, a de que a Terra seja plana!

O ser humano acredita em tudo! Em pleno século XX, mata-se e se morre em nome de uma entidade abstrata, a que chamam Alá, Deus ou  Jeová. A partir daí, tudo é possível. Quem não mataria em nome de um poder mais palpável e mais concreto como um ditadorzinho local?

Concluindo: a tecnologia não melhora o animal Homo sapiens, só lhe confere maior capacidade de exercer sua ignorância e barbárie. A Idade das Trevas não nos abandona nunca.

sábado, 20 de março de 2021

Freud x Antônio Conselheiro

Desconfio muito de quem vive pregando lições de moral aos outros. Geralmente é um puritano com taras irreveláveis. Aquilo contra o qual investe, furiosamente, representa seus demônios interiores, que o atormentam diuturnamente e cujas imagens ele enxerga em tudo e em todos.

O melhor exemplo disso são os padres envolvidos com pedofilia, que, do alto dos púlpitos, geralmente, são os mais veementes e ardentes pregadores da moralidade sexual e da castidade, até que sejam descobertos!

Quanto mais fanático for o pregador, mais atolado estará nos pecados que condena. Freud explica.

Faço esse paralelo a propósito dos bolsonaristas, que vivem apelando para Deus acima disso, Deus acima daquilo. 

Autodenominam-se patriotas, excluindo dessa classificação todos os demais que não comungam da mesma cartilha aloprada. Supostamente só eles querem o bem do país e todos os seus adversários políticos representam o Mal encarnado. 

Dos que atrelam religião, então, aos seus discursos, deve-se correr léguas de distância. Falam de perdão, mas se pudessem, o atirariam ao fogo do inferno. Falam de caridade, de amor, mas ai de quem resolver criticar seus dogmas! Se tivessem poder para isso, fariam como a Inquisição.

O que mais me impressiona, entretanto, é o seu dogmatismo messiânico. Seu líder é a encarnação da perfeição humana, infalível e inatacável. Não conseguem ver nele a realidade de um político do baixo clero, inexpressivo, até cair-lhe nas mãos a bandeira anti-petista. Isso não combina com o fervor religioso.

No Brasil temos predecessores desse fenômeno. Desde Antônio Conselheiro em Canudos, esperando a volta de el-rey D.Sebastião, até o Messias Bolsonaro de agora, incluindo, é claro, o deus Lula, cada qual com seu séquito de seguidores fanáticos.

Coitado do país que precisa de um Salvador!

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