domingo, 19 de dezembro de 2021

O auto-erotismo de Bolsonaro


Li na internet, um texto de Áurea Carolina que diz : "o bolsonarismo é um projeto racional que sempre passa pela manipulação dos afetos"

Isso me levou a pensar, em primeiro lugar, que talvez eu estivesse errado quando supunha ser o bolsonarismo um movimento irracional e fanático. 
O fanatismo inegavelmente é um componente essencial, mas o fio condutor pode muito bem ser um projeto absolutamente racional, estabelecido com o objetivo de provocar a irracionalidade do fanatismo, tanto nos seus seguidores, quanto nos seus adversários. O fanatismo é o caldo de cultura onde viceja o bolsonarismo. Ele não sobrevive em um ambiente asséptico, em outras palavras, racional.

O segundo ponto importante é a constatação da "manipulação dos afetos". Bolsonaro e suas sequelas (leia-se, filhos) são manipuladores dos afetos, no sentido em que usam as pessoas até atingirem seus objetivos e, quando desnecessárias ou prejudiciais aos seus interesses mesquinhos, as descartam. Quando Bolsonaro precisa ou quer se aliar a alguém, passa a usar uma linguagem homo-afetivo-erótica: "vamos nos casar", "estamos namorando", "ficamos noivos". 
E, evidentemente, quando quer afastar o ex-aliado, continua com a linguagem afetiva de "fui traído".

Os exemplos dessa prática estão na lista a seguir, composta toda ela, por ex-aliados de Bolsonaro que, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, não só foram alijados do grupo, como, a maior parte delas, foi destratada, caluniada e execrada pela manada bolsonarista e taxados de traidores.
Alguns exemplos: 
Gustavo Bebbiano, Joyce Hasselmann, Alexandre Frota, Janaína Pascoal, Sen. Major Olímpio, Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, General Santos Cruz, Luciano Bivar, Wilson Witzel, Paulo Marinho, delegado Waldir e outros.

Poucos casos são de divórcio amigável. Em geral são ex-colaboradores que simplesmente perderam a importância no cenário político, mas não representam qualquer ameaça,  tais como Magno Malta e Onyx Lorenzoni. Esse último, coitado, está divorciado de Bolsonaro, mas ainda mora na mesma casa, porque precisa da pensão.

Bolsonaro, na verdade, só é apaixonado por ele mesmo. É um caso sério e neurótico de auto-erotismo. O afeto é tão curto (sem trocadilho) que não atinge nenhuma outra pessoa. Felizmente para nós, brasileiros, essa comédia burlesca está nos momentos finais.










quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Voto auditável, eis a questão.

 A discussão do momento é sobre o voto impresso. Eu penso que, para examinarmos a questão, além das paixões, além dos interesses partidários e das ideologias, devemos considerar algumas premissas:

1- Democracia significa governo do povo, pelo povo e para o povo. Embora seja ainda um conceito abstrato e talvez irrealizável - uma vez que iguala, no direito ao voto, aqueles que não são iguais - a democracia é o regime formal, sob o qual vivemos, ou supomos viver.

2- Isso quer dizer que os governos, em qualquer nível, devem ser formados respeitando-se a vontade da maioria, para o Bem ou para o Mal.

3 - Apura-se a vontade da maioria pelo voto, processo instituído como um aprimoramento e uma evolução do escrutínio por aclamação. Aliás, nem mesmo na antiga Atenas o voto era por aclamação.

4- Sempre que possível, deve-se adotar processos mais aprimorados de apuração dessa soberana vontade popular.

Isso dito, voltemos ao assunto em questão. O sistema de votação por urna eletrônica é uma evolução do sistema de contagem física de votos no papel. Isso traz vantagens e desvantagens, como tudo na vida. A principal vantagem é a rapidez na apuração. Outra vantagem apontada seria a fidedignidade da contagem, afinal o computador não erra na soma. 

A desvantagem é que o processo é obscuro para a maioria dos usuários (leia-se, eleitores). Nós, exemplares de homo sapiens, não estamos a ver nada que registre o nosso voto, a não ser alguns barulhinhos na urna, depois que apertamos a tecla "confirma".
Além disso, a contagem pode ser simplesmente modificada por um código malicioso de computador!!!!! Isso anula  a suposta vantagem da fidedignidade e o voto digital fica apenas com a vantagem da rapidez.

Ora, rapidez para conduzir ao erro ou ao resultado fraudulento não é vantagem nenhuma. Os que, por razões insondáveis,  não querem o voto auditável, juram de pés juntos que a urna eletrônica é indevassável e o sistema é seguro e à prova de invasão. Não é verdade. Todos sabemos que não há sistema eletrônico indevassável ou à prova de invasão. Estão aí as invasões do Pentágono, ou mesmo do próprio STF ou Receita Federal para os desmentir.

Outro ponto a considerar é que, mesmo que o sistema fosse perfeitamente seguro, ele não é transparente. A transparência é fator essencial na manifestação da vontade democrática. Qualquer cidadão tem o direito de saber se sua vontade foi ou não considerada em qualquer apuração. Sem isso, adeus democracia. O que teremos será um simulacro, um teatro.

Por último, voltando aos antigos, "Quod abundat non noscet", o que abunda não prejudica. Isso quer dizer que ainda que o sistema atual fosse a oitava maravilha, não há problema algum em torná-lo mais transparente e confiável. Por quê então tantos não querem um sistema de contagem auditável? Não é fácil responder a essa pergunta sem entrarmos no terreno pantanoso da fraude e da burla. Mas o Brasil é um país onde  fraude e a burla são impensáveis, não? 



sábado, 29 de maio de 2021

Idade das Trevas

Para alguns estudiosos, a História é cíclica. A teoria desenvolvida pelo historiador Reinhardt Kosseleck não foi a primeira a levantar essa hipótese. 

Karl Marx, citando Hegel, já afirmara: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Considerando isso, estou convencido de que estamos entrando em uma nova Idade das Trevas. Os sinais estão em toda parte: fervor religioso extremo, fanatismo, negação da ciência - e até mesmo da realidade - em favor de uma narrativa mitológica (muitas vezes mitômana), regressão cultural, desvalorização do conhecimento. 

Paradoxalmente, nunca tivemos tanto domínio da tecnologia na vida diária. Da alimentação aos medicamentos, da universalização da informação às interações sociais e ao acesso físico e virtual a qualquer parte do globo rapidamente, a tecnologia está indissociável de nossas vidas. 

Ao mesmo tempo, nunca tivemos tanto medo dela. Proliferam por aí as mais estapafúrdias teorias sobre o que quer que seja. Seremos dominados pelas máquinas, a IA está controlando as nossas vidas, e por aí vão as teorias conspiratórias.

Vejamos o caso das vacinas, uma das maiores conquistas da medicina, porque evita a doença, ao invés de simplesmente lutar para curá-la ou amenizar seus efeitos. Pois não são poucas as pessoas, algumas de alto nível cultural, inclusive médicos, a propalar as maiores sandices contra a vacinação.

Outro exemplo: dominamos, ainda que incompletamente, as viagens espaciais. Temos tecnologia para mandar pessoas ou robôs a Marte. Para que isso seja possível tivemos que colocar todo o conhecimento da geofísica em ação, calcular os movimentos planetários relativos entre si, etc., etc.  Pois surge, em pleno século XXI, uma turma que não só acredita, mas desenvolve uma teoria conspiratória, a de que a Terra seja plana!

O ser humano acredita em tudo! Em pleno século XX, mata-se e se morre em nome de uma entidade abstrata, a que chamam Alá, Deus ou  Jeová. A partir daí, tudo é possível. Quem não mataria em nome de um poder mais palpável e mais concreto como um ditadorzinho local?

Concluindo: a tecnologia não melhora o animal Homo sapiens, só lhe confere maior capacidade de exercer sua ignorância e barbárie. A Idade das Trevas não nos abandona nunca.

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