sábado, 12 de fevereiro de 2022

Por quê?

Meu irmão faleceu anteontem. Foi submetido a uma cirurgia de média complexidade, mas com prognóstico e perspectivas muito boas e... deu tudo errado! Não houve erro médico, já digo desde já. O que houve então? Houve vida! Foi a vida continuando a ser o que é, pois a morte é apenas uma das suas pontas. Tudo que começa acaba.

Entretanto, não me sai da cabeça a expressão de espanto,  a pergunta sem som que meu irmão me fez ao recobrar a consciência de sua última cirurgia, preso a uma cama de CTI, cheio de tubos, traqueostomizado: por quê?

Era um homem forte, decidido, gostava de desafios. E agora estava ali naquela situação e sem entender o que teria acontecido. Por quê? Único questionamento possível! Por quê?

Por quê surgimos do nada, nesse mundo hostil, que nos repele de cara? Por que percorremos os caminhos da vida, em luta permanente, tentando acertar e errando quase sempre? Por que amamos e somos amados e um dia tudo termina, para uns ou para outros e os que ficam, ficam moídos de dor por causa de uma separação que não queriam, não pediram e que quase não podem suportar?

Por quê? Essa é a pergunta sem resposta que todos consciente ou inconscientemente nos fazemos. Como Vinícius de Moraes: "se foi para desfazer, por que é que fez?".

Meu irmão se foi. Que esteja em paz. Mas a imagem de seu rosto perplexo, aquele olhar de interrogação e inconformismo, olhar que conheço bem desde a nossa infância, vai continuar comigo para sempre, assim como a sua pergunta muda e sem resposta: Por quê?

domingo, 19 de dezembro de 2021

O auto-erotismo de Bolsonaro


Li na internet, um texto de Áurea Carolina que diz : "o bolsonarismo é um projeto racional que sempre passa pela manipulação dos afetos"

Isso me levou a pensar, em primeiro lugar, que talvez eu estivesse errado quando supunha ser o bolsonarismo um movimento irracional e fanático. 
O fanatismo inegavelmente é um componente essencial, mas o fio condutor pode muito bem ser um projeto absolutamente racional, estabelecido com o objetivo de provocar a irracionalidade do fanatismo, tanto nos seus seguidores, quanto nos seus adversários. O fanatismo é o caldo de cultura onde viceja o bolsonarismo. Ele não sobrevive em um ambiente asséptico, em outras palavras, racional.

O segundo ponto importante é a constatação da "manipulação dos afetos". Bolsonaro e suas sequelas (leia-se, filhos) são manipuladores dos afetos, no sentido em que usam as pessoas até atingirem seus objetivos e, quando desnecessárias ou prejudiciais aos seus interesses mesquinhos, as descartam. Quando Bolsonaro precisa ou quer se aliar a alguém, passa a usar uma linguagem homo-afetivo-erótica: "vamos nos casar", "estamos namorando", "ficamos noivos". 
E, evidentemente, quando quer afastar o ex-aliado, continua com a linguagem afetiva de "fui traído".

Os exemplos dessa prática estão na lista a seguir, composta toda ela, por ex-aliados de Bolsonaro que, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, não só foram alijados do grupo, como, a maior parte delas, foi destratada, caluniada e execrada pela manada bolsonarista e taxados de traidores.
Alguns exemplos: 
Gustavo Bebbiano, Joyce Hasselmann, Alexandre Frota, Janaína Pascoal, Sen. Major Olímpio, Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, General Santos Cruz, Luciano Bivar, Wilson Witzel, Paulo Marinho, delegado Waldir e outros.

Poucos casos são de divórcio amigável. Em geral são ex-colaboradores que simplesmente perderam a importância no cenário político, mas não representam qualquer ameaça,  tais como Magno Malta e Onyx Lorenzoni. Esse último, coitado, está divorciado de Bolsonaro, mas ainda mora na mesma casa, porque precisa da pensão.

Bolsonaro, na verdade, só é apaixonado por ele mesmo. É um caso sério e neurótico de auto-erotismo. O afeto é tão curto (sem trocadilho) que não atinge nenhuma outra pessoa. Felizmente para nós, brasileiros, essa comédia burlesca está nos momentos finais.










quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Voto auditável, eis a questão.

 A discussão do momento é sobre o voto impresso. Eu penso que, para examinarmos a questão, além das paixões, além dos interesses partidários e das ideologias, devemos considerar algumas premissas:

1- Democracia significa governo do povo, pelo povo e para o povo. Embora seja ainda um conceito abstrato e talvez irrealizável - uma vez que iguala, no direito ao voto, aqueles que não são iguais - a democracia é o regime formal, sob o qual vivemos, ou supomos viver.

2- Isso quer dizer que os governos, em qualquer nível, devem ser formados respeitando-se a vontade da maioria, para o Bem ou para o Mal.

3 - Apura-se a vontade da maioria pelo voto, processo instituído como um aprimoramento e uma evolução do escrutínio por aclamação. Aliás, nem mesmo na antiga Atenas o voto era por aclamação.

4- Sempre que possível, deve-se adotar processos mais aprimorados de apuração dessa soberana vontade popular.

Isso dito, voltemos ao assunto em questão. O sistema de votação por urna eletrônica é uma evolução do sistema de contagem física de votos no papel. Isso traz vantagens e desvantagens, como tudo na vida. A principal vantagem é a rapidez na apuração. Outra vantagem apontada seria a fidedignidade da contagem, afinal o computador não erra na soma. 

A desvantagem é que o processo é obscuro para a maioria dos usuários (leia-se, eleitores). Nós, exemplares de homo sapiens, não estamos a ver nada que registre o nosso voto, a não ser alguns barulhinhos na urna, depois que apertamos a tecla "confirma".
Além disso, a contagem pode ser simplesmente modificada por um código malicioso de computador!!!!! Isso anula  a suposta vantagem da fidedignidade e o voto digital fica apenas com a vantagem da rapidez.

Ora, rapidez para conduzir ao erro ou ao resultado fraudulento não é vantagem nenhuma. Os que, por razões insondáveis,  não querem o voto auditável, juram de pés juntos que a urna eletrônica é indevassável e o sistema é seguro e à prova de invasão. Não é verdade. Todos sabemos que não há sistema eletrônico indevassável ou à prova de invasão. Estão aí as invasões do Pentágono, ou mesmo do próprio STF ou Receita Federal para os desmentir.

Outro ponto a considerar é que, mesmo que o sistema fosse perfeitamente seguro, ele não é transparente. A transparência é fator essencial na manifestação da vontade democrática. Qualquer cidadão tem o direito de saber se sua vontade foi ou não considerada em qualquer apuração. Sem isso, adeus democracia. O que teremos será um simulacro, um teatro.

Por último, voltando aos antigos, "Quod abundat non noscet", o que abunda não prejudica. Isso quer dizer que ainda que o sistema atual fosse a oitava maravilha, não há problema algum em torná-lo mais transparente e confiável. Por quê então tantos não querem um sistema de contagem auditável? Não é fácil responder a essa pergunta sem entrarmos no terreno pantanoso da fraude e da burla. Mas o Brasil é um país onde  fraude e a burla são impensáveis, não? 



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