domingo, 21 de agosto de 2022

Hoje em si

Há alguns dias recebi uma ligação telefônica de uma empresa financeira. O seu funcionário, certamente não de baixo nível de educação, conseguiu, em 10 minutos, dar-me o exemplo da Nova Língua Brasileira que está nascendo.

Parece-se, vagamente, com o português do Brasil, mas não é.  Por exemplo: não há plurais para os substantivos, nem para os adjetivos. O plural é indicado pelo artigo, simples assim: os omi vem agora;  as pranta verde secou tudo; ele comprou os carro novo.

Os tempos verbais simplificaram-se em: pretérito perfeito (você andou) e imperfeito (eu andava), presente simples (nós anda), presente contínuo (estou andando) e futuro composto: eu vou andá, ela vai falá, nós vai cantá.

Obviamente, o "r" final do infinitivo desapareceu há muito tempo.

Não há futuro simples: andará, nem pensar. Mas há um futuro mais-que-composto: eu vou está falando, você vai está andando.

O modo subjuntivo foi abolido terminantemente. Eu andaria, se você andasse comigo, é quase intraduzível nessa nova língua. A não ser que se opte por um maravilhoso: se você andá comigo, eu vou está andando com você.

Tem também o "no qual" que surge inesperadamente sempre que falta alguma coisa na frase: "O contrato que você assinou, no qual eu vou mandar hoje para imprimir..."; 

Agora, novidade mesmo foi o "hoje em si", ao qual esse rapaz do telemarketing me apresentou. Não é hoje em dia. É hoje em si. "Hoje em si eu não posso te dar a resposta".  Deve ter também o "agora em si". 

- Agora em si eu  não posso te dar a resposta. OK?

- Ah, é? E quando será?

- Daqui a umas meia hora. Ás uma, ou até as duas e pouca.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Não combinou com os russos

 Bolsonaro foi à Rússia no pior momento político. Como, coincidentemente, algumas tropas russas foram  remanejadas, os bolsonaristas começaram a gritaria de que o Bozo tinha conseguido demover o Putin do intuito de invasão. Inclusive o Min do Turismo caiu no ridículo de postar essa bobagem nas redes sociais.

Bom, o que se viu é que a realidade não dá a menor bola para esse comitê de Fake News. Nem o Putin.

E agora, depois de ter prestado solidariedade à Rússia, o Bozo decide que o Brasil ficará neutro nessa questão. Como é, cara-pálida? Neutro? A Ucrânia, um país democrático, foi invadida sem nenhum motivo por um ditador e o Brasil, tradicionalmente um país pacífico, vamos ficar neutros? 

Não que vá fazer alguma diferença a posição do Brasil. Nós não apitamos nada no cenário internacional. Mas tem o depois! Depois que o conflito acabar, como ficará a cara do Brasil perante as nações do mundo ocidental? Qual será nosso poder de barganha ou de persuasão, se na hora H, ficamos em cima do muro, com medo de tomar posição? 

De que valeu então essa viagem do Bozo? Foi para quê? 

E já que  fez essa viagem inútil, em hora errada, por quê deixou de combinar com os russos???

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Por quê?

Meu irmão faleceu anteontem. Foi submetido a uma cirurgia de média complexidade, mas com prognóstico e perspectivas muito boas e... deu tudo errado! Não houve erro médico, já digo desde já. O que houve então? Houve vida! Foi a vida continuando a ser o que é, pois a morte é apenas uma das suas pontas. Tudo que começa acaba.

Entretanto, não me sai da cabeça a expressão de espanto,  a pergunta sem som que meu irmão me fez ao recobrar a consciência de sua última cirurgia, preso a uma cama de CTI, cheio de tubos, traqueostomizado: por quê?

Era um homem forte, decidido, gostava de desafios. E agora estava ali naquela situação e sem entender o que teria acontecido. Por quê? Único questionamento possível! Por quê?

Por quê surgimos do nada, nesse mundo hostil, que nos repele de cara? Por que percorremos os caminhos da vida, em luta permanente, tentando acertar e errando quase sempre? Por que amamos e somos amados e um dia tudo termina, para uns ou para outros e os que ficam, ficam moídos de dor por causa de uma separação que não queriam, não pediram e que quase não podem suportar?

Por quê? Essa é a pergunta sem resposta que todos consciente ou inconscientemente nos fazemos. Como Vinícius de Moraes: "se foi para desfazer, por que é que fez?".

Meu irmão se foi. Que esteja em paz. Mas a imagem de seu rosto perplexo, aquele olhar de interrogação e inconformismo, olhar que conheço bem desde a nossa infância, vai continuar comigo para sempre, assim como a sua pergunta muda e sem resposta: Por quê?

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