domingo, 6 de janeiro de 2019

João de quem?

A credulidade humana não tem limites. Somos primatas assustados e perplexos diante da complexidade da existência. Não sabemos de onde viemos, por quê viemos, e muito menos para onde vamos, se é que vamos a algum lugar além da sepultura.
No intervalo entre esses dois infinitos, o antes e o depois do Ser, tentamos dar uma explicação e um sentido ao incognoscível. Aí entra o fator credulidade. 

Como não há meio de se conhecer a "realidade em si", criamos, nós mesmos, as mais variadas explicações e hipóteses, todas elas sem o menor embasamento que não seja a fé, ou, melhor dizendo, a crença, ou ainda, a credulidade. 

As pessoas creem em qualquer coisa na qual queiram! Não há necessidade de provas! Quando entra a crença, a razão sai de cena. Não há como discutir com as crenças. É por isso que tanto charlatão surge e obtém sucesso explorando a credulidade alheia, mesmo que o interesse financeiro esteja ululando de obviedade. E, nessa nossa época de relativismo cultural e politicamente correto, não se pode criticar esses charlatães, em nome do respeito às religiões.

Não é de se espantar, portanto, que acabem, por surgir, na esteira dessas atividades "religiosas", várias delinquências, tais como a pedofilia e outros abusos sexuais. A síndrome é a mesma: dinheiro, poder e sexo.

A diferença do mundo profano é que, neste, a troca de uns pelos outros se faz às claras. Todos sabem que comercia-se sexo por poder e/ou por dinheiro. Mas nesse caso, o preço é negociado de antemão e todos os atores sabem do que se trata e, desde que não envolvam menores ou pessoas vulneráveis, não é crime. Em outras palavras, a putaria é mais honesta.

O crime surge inapelavelmente quando entra um quarto elemento: o da exploração da crendice alheia. É a mesma coisa que exploração de vulnerável porque o crédulo nada mais é que isso: uma pessoa em estado de vulnerabilidade. E, além da fé, há sempre a presença de outros fatores que ajudam a desestabilizar psicologicamente essas vítimas: a doença, o sofrimento físico e/ou psicológico, o medo da morte.

Quem frequenta esses ambientes são pessoas em estado de sofrimento e que acreditavam que a fé as salvará. São pessoas que tem fé na fé. Nada mais propício para embotar a razão e jogá-la no porão da psique. Aí entram em cena os variados charlatães, prometendo curas milagrosas, nas quais as vítimas desesperadamente querem acreditar.
E, esse João, autodenominado "de Deus", um grande predador, farejava essas vítimas e sabia como lidar com elas, como encurralá-las e dar o bote final, quer seja o bote para obtenção de dinheiro, quer seja o da satisfação da sua lascívia, o que é mais ou menos a mesma coisa (ver Freud).

Como resolver isso? É preciso antes de mais nada que o Estado deixe de privilegiar entidades religiosas. Tem que tratá-las como qualquer outra organização civil, sujeita à fiscalização de suas atividades, inclusive sob o ponto de vista da segurança pública e, por que não?, sujeita ao pagamento de impostos sobre suas arrecadações. Depois, trata-se de um processo de educação secular, que tanta falta faz no Brasil, um processo educativo que eleve o homem à soberania sobre sua vida, que transmita às crianças e adolescentes a segurança de pensarem com a própria cabeça ao invés de acreditarem em mitos, ou de entregarem seu destino nas mãos de outrem.
Em tal sociedade haverá pouco espaço para Joões de Deus.



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