sexta-feira, 27 de abril de 2018

País de ladrões

Na semana passada, tive um  vidro do carro quebrado para roubarem uma mochila que estava no porta-malas. Nessa mesma sexta, quase no mesmo horário, vencia o prazo, condescendentemente concedido pelo juiz Sérgio Moro, para que um ladrão, que esteve ocupando a presidência da República, se entregasse à Justiça. São dois extremos de um mesmo fenômeno: somos um país de ladrões?!

Com certeza, boa parte do povo brasileiro não é, mas vale a pena refletirmos sobre o que  faz com que, na nossa cultura, esteja tão disseminado esse desrespeito ao direito do outro, à propriedade do outro, à vida do outro.

Valores morais e civilizatórios se adquirem em casa, no berço. Uma parte do nosso povo não tem a minima condição de viver com dignidade; nesse ambiente e nessa situação, a adoção de valores morais e civilizatórios soa mais como piada. Mas isso não explica tudo. Isso não explica porque alguém que ,por exemplo, frequente uma academia de classe média alta, tenha que trancar todos os seus pertences com cadeado. E, se não o fizer, com bastante probabilidade será roubado. Isso significa que o ato de furtar não tem sanção interna, o superego o ignora. E o superego é formado pela sanção cultural. É a cultura onde você foi criado e na qual vive que determina os padrões morais de seu comportamento, o que é certo e o que é errado.

A cultura brasileira, muito bem retratada e representada pela cultura carioca, sempre foi permissiva, leniente com as "espertezas". Alguns sociólogos de araque chegaram até a justificar essa permissividade como uma reação das "classes exploradas ao controle das classes dominantes".  Roubar e enganar o outro, desrespeitar o espaço publico, seria uma forma de rebelião contra a "exploração capitalista".

Pois é, deu no que deu. As prisões superlotadas, a marginalidade crescendo exponencialmente, as classes exploradas sendo mais que exploradas, escravizadas, pela nova classe dominante delas: o crime organizado do tráfico; e a violência assustadoramente crescente. 

Nada acontece por acaso. O assassinato da vereadora Marielle Franco, não importa se quem a matou seja das milícias ou do tráfico, esse assassinato, repito, é mais uma consequência de tudo isso. É mais uma consequência da nossa tolerância com as infrações, com o desrespeito às regras.

Daí a chegarmos ao quadro político que chegamos foi apenas uma questão de tempo. Que lugar ou posição seria melhor para os delinquentes ocuparem se não uma posição de poder? De controle da máquina e do dinheiro público? Esse afã de ser eleito e reeleito nada tem a ver com a vontade de servir. Tem a ver coma vontade de se servir, ou como dizia o Pe. Antônio Vieira a respeito dos administradores públicos: "eles não querem o nosso bem, eles querem os nossos bens".




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