quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Esquerda ou direita?

O sindicalismo brasileiro nasceu no bojo do Estado Novo, fascista. De direita portanto. A CLT foi nada mais que uma adaptação tropical da "Carta del Lavoro" de Mussolini. Foi nesse tipo de sindicalismo, consentido, tutelado pelo estado, que nasceu e cresceu o principal ramo do PT e seu maior líder. Apesar de ter sido sempre relacionado com o movimento político da esquerda, Lula nunca foi de esquerda. O Lula político foi uma cria do General Golbery, que precisava de alguém "confiável" dentro do sindicalismo, para garantir o controle dos sindicatos no processo de abertura política que inevitavelmente teria que ocorrer.
Lula foi um achado também para a esquerda, pois poderia ser a síntese e símbolo, como de fato veio a fazê-lo, da ascensão da classe operária ao poder, mito tão ao gosto dos velhos bolchevistas.
Lula então, espertamente, foi se amoldando ao figurino da esquerda pretendido para ele e traçado pelos "intelectuais" do Partido. 
O problema é que, como sapo barbudo a classe média o rejeita, e depois de várias derrotas o partido muda de tática e resolve simplesmente se aliar aos antigos adversários. É o maquiavelismo em estado puro. E faz isso sem despegar-se (ao menos na teoria) da ideologia que se traduz na cor de sua bandeira. Vive um momento esquizofrênico em que apresenta uma face (barbuda) para o público interno e uma outra (escanhoada) para os demais.
O incrível acontece e o partido, que não fazia alianças, agarra-se à burguesia para chegar ao poder. 
Ainda não sabíamos qual tinha sido o preço pago. Ainda não sabíamos que a alma do partido estava vendida. 
Assim, endossado por setores da burguesia, representados pelo seu vive, José Alencar, e tutelado dentro do Planalto por José Dirceu, o grande e poderoso chefe da Casa Civil, Lula chegou lá, mas não tinha nem autonomia, nem segurança para governar de moto próprio.
Foi então que o impensável aconteceu, alguém de dentro do sistema, ao ser contrariado, resolveu por a boca no trombone e quase pôs tudo a perder. O Zé, em situação insustentável, e para evitar que o fogo chegasse à cadeira do presidente, teve que sair.  
A princípio, Lula parecia desorientado mas, pouco a pouco, tendo que agir por conta própria, sem o aconselhamento do grande tutor, acabou por descobrir a si próprio como a oitava maravilha do século. Passado o susto inicial e ajudado pela anemia e tibieza da oposição, Lula, a partir daí, só fez crescer. 
Para mal da nação,  o que cresceu, no entanto,  foram as suas piores qualidades. A megalomania, a ignorância travestida de simplicidade, a falta de visão global e de futuro, a mesquinhez, o imediatismo, o nepotismo,  a ganância por privilégios e mordomias tão a gosto da atividade sindical.
Ao mesmo tempo, percebendo que a oposição não o atacava por ter também telhados de vidro, descobriu-se inimputável, um verdadeiro teflon, onde nada colaria. 
A partir daí, o antigo pelego confiável de Golbery "chutou o balde" e perdeu todas as amarras. Voltou às origens sindicais. Abraçou-se ao assistencialismo da mais legítima estirpe getulista.  Subiu metaforicamente em um caminhão e daí passou a governar mediante comícios, no afã de manter a tal popularidade. 
Ao mesmo tempo, garantiu a continuidade do apoio das "elites" ao aliar-se cada vez mais fortemente a Sarney e Collor, (e posteriormente a Maluf) pouco se importando com a ideologia ou a falta dela. Escolheu e fez a sucessora. Dançou, pintou e bordou com a popularidade. E deixou o planalto com tristeza, com síndrome de abstinência que parece durar até hoje. E o partido?
Agora o partido se vê às voltas com Dona Dilma, que não é genuinamente petista, nem política e parece não gostar  desse tipo de atividade. O partido, que não sabe mais se é de esquerda ou de direita, não decide que rumo tomar quando os sindicatos açulam os funcionários públicos às greves. Essa ruptura nas bases é interessante de ser observada. Vamos ver no que vai dar.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ali Babá

Eram quarenta acusados. Um morreu, outro fez acordo e agora são trinta e oito. Mas eram quarenta! Esse número é cheio de simbolismo: foram 40 anos o tempo que as tribos de Israel ficaram vagando pelo deserto, antes de entrarem na terra prometida; são 40 os dias da quaresma; eram quarenta os companheiros de Ali Babá.

Portanto, fica no ar uma questão: falta um no banco dos réus, como disse o advogado de Roberto Jefferson. Os quarenta ladrões foram denunciados, falta porém o mais importante deles, o grande beneficiado pela compra de votos do mensalão. Falta Ali Babá.

E agora, José?

Dilma ordenou que o governo ficasse longe do julgamento do mensalão. Atitude sensata de quem observa e respeita o mandamento constitucional de separação e independência de poderes. Afinal ela não é presidenta do PT, mas de toda a nação.
Não demorou muito veio a reação. Lula ficou fulo, o Zé ficou revoltado e o Partido começou a pressionar para que o governo se manifestasse (evidentemente a favor dos réus). Essa gente demonstra a todo instante que não está nem aí para as leis e instituições do país. O que lhes interessa é seu projeto de poder a todo custo, a qualquer custo.
Tanto fizeram que Dilma autorizou o amarra-cachorro lulista, Gilberto de Carvalho, a se pronunciar. Autorizou de leve, mas autorizou. E isso é mau. Isso demonstra que a presidenta não tem autonomia, que é refém do Partido, que é refém de Lula, que é refém do Zé. 
Lula é refém do Zé, porque o Zé sabe que Lula sabe; porque o Zé tem como provar que Lula sabe e já sabia desde antes de sua primeira eleição. O ovo da serpente havia sido chocado em Santo André. O laboratório tinha servido bem ao teste de "como ficar no poder para sempre", mesmo com alguns percalços inesperados, como o de Celso Daniel, que afinal tinha sido "resolvido" ao estilo Stalin.
Mas o Zé não quer ir pra forca sozinho. O Zé aceita ser quase tudo, só não aceita ser mártir. O Zé quer porque quer que haja um amplo, geral e irrestrito movimento em seu favor. O Zé quer os estudantes nas ruas, o funcionalismo gritando em passeatas, as centrais sindicais agitando bandeiras em frente ao Supremo, o governo engajado em público e  nos bastidores pressionando os ministros. Era isso que o Zé queria, mas está difícil de conseguir. Até quando vão segurar o Zé?

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