Qual é o motivo do ódio de Lula? Incensado pelos militantes de seu partido como a última encarnação da sabedoria; bafejado pela população de baixa renda que pensa que, com o bolsa-família, seus problemas estarão resolvidos; amado pelos banqueiros e pelas oligarquias aos quais deu, não apenas a segurança de ter a classe trabalhadora e os sindicatos sob controle, mas permitiu e propiciou a essa oligarquia a manutenção de seus privilégios, agora abençoados pelo "líder do povo"; elogiado por uma boa parte da imprensa domesticada pelo suporte financeiro do governo com doações de dinheiro público.
O que Lula ainda quer? O que o deixa tão irritado?
Podemos supor que seja a não-unanimidade. Há uma parcela de brasileiros que insiste em ver a realidade e sabe que o rei está nu. A irritação de Lula aumentou visivelmente agora com os primeiros resultados do Supremo no caso do mensalão. Porque com o veredicto do Supremo e com a exposição das entranhas do seu governo, Lula sabe que, embora pessoalmente não corra risco, sua mentira será exposta e que, apesar de ter indicado a maioria dos ministros eles não estão sob seu comando, como ele gostaria que estivessem.
Lula sabe ainda o que a história vai escrever. A partir das condenações não vai dar mais para falar que tudo não passa de uma invenção, que teria sido uma tentativa de golpe, etc., etc.
Lula sabe também que até mesmo a história oficial não poderá ignorar que em seu governo, em suas barbas, dentro do palácio onde se sentava, ocorreu o
maior escândalo dessa pobre Republica e que deu origem ao maior julgamento da história do Supremo Tribunal. E a história dirá que esse terá sido o maior, o verdadeiramente grande feito de seu governo.
Mal se começou a computar os votos e já temos um panorama completo dos porões onde atuavam os ratos da República. A situação é pior do que se poderia imaginar. Empresas pretensamente sérias emitindo notas fiscais frias aos borbotões, documentos sendo fraudados e destruídos às pamparras, contabilidade bancária mais parecida com contabilidade de jogo do bicho (aliás, todos os dois ramos de "negócio" são comandados por banqueiros), empréstimos fictícios, dinheiro vivo sendo distribuido na boca dos caixas e enfiados nos bolsos, nas bolsas, nas cuecas e sabe-se-lá onde mais.
Tudo isso patrocinado por um banco privado de razoável credibilidade, por um banco estatal vetusto e grave como o Banco do Brasil, por uma empresa de publicidade considerada importante e ... por várias, muitas, Excelências! Toda essa farra criminosa aconteceu sob as barbas do presidente, que nada viu e de nada soube. Crimes continuados foram articulados entre as quatro paredes do palácio do Planalto, como disse o Procurador-Geral. O palácio de governo se tornou um covil.
As teses da defesa agora vão se desmontando uma a uma. A explicação endossada pelo ex-presidente e seu partido era baseada em três premissas: a) não houve mensalão; b) não era dinheiro público; c) o dinheiro era para pagar despesas de campanha.
Essa explicação justificava inclusive a leniência com os mensaleiros. Afinal, teriam participado de um crime "menor" e para benefício do Partido, em nome do qual tudo se desculpa. Essa era pelo menos a justificativa usada pela militância mais envergonhada.
Agora, com as primeiras condenações já se pode dizer oficialmente que o dinheiro foi usado para corrupção, sim; e era, sim, dinheiro público; houve sim o pagamento regular de aliados; enfim, houve o mensalâo. E foi o maior escândalo como "nunca-antes-neste-paíz" já se tinha visto!
Armar uma quadrilha desse porte, envolvendo banqueiros, altos funcionários públicos, dirigentes de empresa, marqueteiros, vários partidos políticos e uma quantidade enorme de políticos da esfera federal, todos arriscando suas carreiras, suas empresas, suas reputações, não é obra para peixe pequeno. Só poderia ser idealizada e executada por alguém que, além de ter intimidade com o poder (ou ter nas mãos o próprio poder), pudesse avalizar e dar garantia de impunidade.
Portanto não é crível que um peixe miúdo como Delúbio Soares, sozinho, pudesse engendrar um plano criminoso tão complexo e com tantas pontas a amarrar como esse.
Pode ser que se condene, pode ser que não, mas um dia a história será contada com todas as letras e saberemos quais foram os mentores, os gênios por trás dos panos do mensalão.
Lula, mais uma vez, faz o papel de ignorante (ou espertalhão). Disse que está decepcionado com o voto dos ministros indicados por Dilma, (Fux e Rosa Weber) que votaram pela condenação de João Paulo Cunha.
Ora, o que Lula esperava? Que os indicados por ele e sua sucessora tivessem o compromisso de votar conforme a vontade e interesse de quem os indicou?
Isso mostra que Lula, ou não entende como funcionam as instituições da República, ou propositalmente finge não entender. Desconhece, apesar de ter sido presidente, que o poder Judiciário é ser um poder independente do Executivo.
Ao dizer o que disse, quer equiparar a nomeação de um ministro da Suprema Corte à nomeação de apaniguados para os demais cargos públicos, loteados entre os "companheros".
Em qualquer dos casos é vergonhoso que um ex-presidente se manifeste assim, desprezando completamente a ética e ofendendo os ministros indicados por ele e por sua sucessora, ao atribuir-lhes uma obrigação tácita de subserviência que eles evidentemente não podem ter.
Mas estamos acostumados a essas manifestações de Lula de desprezo e desconsideração pela lei e pelas instituições democráticas e republicanas.