quinta-feira, 28 de março de 2013

Cala a boca, Ofélia!

Mesmo que penalize sempre em maior grau as camadas mais pobres da população, a presidenta diz que a inflação não é uma das suas preocupações  e que isso (o controle da inflação) pertence a teorias econômicas ultrapassadas.
É um espanto uma Chefe de Estado dizer isso com tanta irresponsabilidade.
Mas nem tudo está perdido, pois parece que, entre as preocupações da presidenta, além de ganhar as eleições de 2014, claro, se inclui o crescimento do país. 
Obviamente, talvez só alguns dinossauros ideológicos e ecoterroristas o sejam, mas pessoas digamos normais, não podem ser contra o crescimento econômico. Se a população cresce, a economia tem que crescer, senão a miséria simplesmente aumenta. Isso é só uma questão matemática.
Com o que não se pode concordar, porém,  no raciocínio da presidenta, é que crescimento e controle da inflação sejam coisas antagônicas. Esse pensamento, sim, é que é ultrapassado.
A inflação é como a febre, não é a doença, é um sintoma. Mas se ignorarmos os sintomas a doença progride e um dia pode matar o paciente. No caso brasileiro, a inflação é sempre uma consequência do descalabro das contas públicas. Não é a tal inflação de demanda (derivada do consumo), até porque, por mais que se louve a ascenção da classe C e a "erradicação da miséria" com 70 reais por mês, não é essa massa de dinheiro que vai mover a economia. Mesmo porque essa massa de dinheiro não foi riqueza criada, mas riqueza transferida. Em outras palavras, algumas pessoas passaram a ter mais dinheiro, não porque tenham produzido algo novo com o trabalho, mas porque o governo tirou de uns e deu a outros. Transferiu de mãos um dinheiro que já estava "no mercado". Portanto não se pode falar em crescimento do mercado consumidor. Não se discute aqui, os eventuais benefícios e correção de injustiças, se é que houve. O que se quer demonstrar e que no Brasil não temos inflação de demanda. Temos, sim, desinvestimento na produção. Temos, sim o Estado, mau gastador, se agigantando cada vez mais via carga tributária e jogando  o nosso dinheiro pela janela. Basta citar o desperdício na obra da transposição do S.Francisco na qual já foram gastos 12 bilhões, nos estádios (vide Engenhão, no Rio,  que foi orçado em 60 milhões, custou 380 e está fechado por problemas estruturais), ...e nessa toada seguem vários outros maus exemplos.
Dilma não mencionou, porém, que além de descontrole da inflação, estamos patinando também em um pífio crescimento econômico e para resolver essa questão ela não apresenta nenhuma teoria econômica que não seja ultrapassada.
Havia uma personagem de programa humorístico chamada Ofélia, que só abria a boca para dizer besteiras e seu marido sempre a mandava se calar. Pois, Dilma deveria aprender e, quando não souber o que dizer, permanecer calada. O estrago, com certeza, será menor.




segunda-feira, 25 de março de 2013

Passividade violenta

O povo brasileiro é um povo passivo, certo? Errado! Apesar de pouco nos manifestarmos publicamente, de não protestarmos contra a canalhice que passou a dominar a política nacional, não somos um povo totalmente passivo. Digo isso porque basta olharmos para as torcidas organizadas de futebol. Bastar ver como se comportam os membros dessas torcidas, da Mancha Verde à Gaviões da Fiel. Fazem da sua opção esportiva uma religião, com todo o fanatismo que comportam os sistemas de crença de dogmas indiscutíveis.
Sou atleticano de coração e de alma. Nasci atleticano como os demais e morrerei atleticano. Isso dito, torço pelo meu time, mas nem por isso penso que os torcedores dos outros times tenham que ser atacados pelo simples fato de existirem. Eles só não fizeram a melhor escolha, mas isso é problema deles.
Depois dos lamentáveis episódios ocorridos recentemente com as torcidas do Coríntians e Palmeiras temos que nos perguntar qual é o motivo dessa selvageria. O que há de errado com as pessoas? O que está por trás disso tudo? Qual é o significado? Por outro lado, também percebemos o mesmo ranço violento nas manifestações contra a blogueira Yoani Sanchez.
Se vivêssemos sob uma ditadura, eu diria que haveria uma revolta latente, que, não podendo se expressar pelos canais "normais", estaria sendo desviada para o futebol. Mas, não. Não é o caso, pelo menos ainda.
Pensando bem, a gente até se esquece que vivemos sob a  égide da violência. No Brasil nenhum cidadão transita pela cidade, ou pára no semáforo sem medo, sem olhar pro lado ou espiar atrás. O que era uma característica das cidades grandes, generalizou-se. As outrora pacatas cidades do interior também hoje são palco de violência de vário tipos, inclusive daquela que é ter que conviver em maior ou menor grau com as cracolândias.
Ese ambiente rotineiro de violência em potencial onipresente tem que mexer com a cabeça das pessoas. O estresse provoca reações irracionais, desperta o animal que todos temos dentro de nós, adormecido pelo verniz civilizatório, mas facilmente despertado quando os instintos básicos são chamados à ação. De estar preparado para a ação e agir é um pulo. Uma simples "fechada" de automóvel pode provocar reações inesperadas. Quando então se juntam várias pessoas, despersonalizadas no meio da massa, vestindo o mesmo uniforme e berrando as mesmas palavras de ordem, está montado o cenário para a irrupção do monstro. É o "Nós" contra "Eles" básico dos tempos primitivos.
Oxalá, pudéssemos canalizar toda a nossa raiva, diante da impotência na vida urbana, para ações mais efetivas de mudança social! Mas, como não temos uma cultura de coletividade, não o fazemos, a não ser quando somos mobilizados por uma torcida "organizada" que substitui a nossa vontade e a nossa razão.

quinta-feira, 21 de março de 2013

São Sepé

Na história do Brasil há uma epopéia muito triste e muito bonita ocorrida no Sul, na região das Missões jesuíticas. O filme "A Missão", com Robert De Niro e Jeremy Irons,  nos conta uma parte dessa história, mas termina com a guerra e não prossegue o relato do heroísmo e dor vividos por aquele povo. Trata-se da história de Sepé Tiaraju, também conhecido como São Sepé.
Se tivesse sido reconhecido pelo vaticano, esse seria realmente o primeiro santo legitimamente brasileiro. Sepé era um índio guarani. Li sua história, ainda criança, em um almanaque cujo nome não recordo. Mas a história ficou em minha memória, pois era uma saga daquelas de deixar boquiaberto e cheio de fantasias, um menino de dez anos, numa época em que nem havia televisão direito.
Sepé vivia em paz com sua gente, numa belíssima região de rios e quedas d'água,  em uma das Missões  jesuíticas, ou Reduções, que era como os jesuítas as chamavam. Os jesuítas eram catequistas que hoje seriam apedrejados em praça pública por quererem "violar a inocência" do bom selvagem e "adulterar-lhes a cultura". Mas na época os jesuítas eram progressistas. 
Enquanto os leigos, portugueses e espanhóis, só viam nos índios uma possível mão-de-obra escrava, os jesuítas defendiam-lhes a liberdade e trabalhavam para promover o desenvolvimento intelectual e cultural daqueles povos, ensinando-lhes... o catolicismo, claro, mas também a escrita, a aritmética, rudimentos de ciência, economia, música, ou seja, promoviam o ser humano para realizar-se em sua plenitude, o que é muito diferente de o deixar vagando pelos matos, picado de mosquitos, apanhando malária, morrendo ainda criança ou atingindo no máximo 30 anos e já encarquilhados como um velho de 90.
Fizeram esse trabalho com excelência nos Sete Povos das Missões. O problema é que estavam no caminho das duas potências imperialistas da época: Portugal e Espanha.
O Tratado de Madri reformulava a divisão das terras feitas pelo anterior Tratado das Tordesilhas. Ou seja, os poderosos se sentavam à mesa na Europa e dividiam o mundo entre si, sem perguntar nada a ninguém, como se fossem os donos incontestados da Terra.
Esse Tratado "devolveu" as terras onde estavam as missões a Portugal. A Espanha ganhou outras coisas em troca. Então foi requerido que os jesuítas e os guaranis deixassem a terra, perdendo inclusive 1 milhão de cabeças de gado que, na época, constituía o maior rebanho bovino das Américas! Eles se revoltaram e, juntamente com os jesuítas,  resolveram enfrentar os portugueses e os espanhóis à bala. Aí começa a epopéia que durou 6 anos.
Sepé Tiaraju era um destemido chefe tribal, educado pelos jesuítas,  que lutou com unhas e dentes, inspirando coragem e fé nos seus companheiros e teria dito aos colonizadores : "Esta terra tem dono!"
Morreu lutando, mas nesse momento nasceu uma lenda que ficou nas histórias dos pampas. Diz a lenda  que ele tinha uma marca, um sinal de nascença, na testa, que brilhava nas noites escuras, ou quando ele estava em combate. Naquela última batalha o sinal (também chamado "lunar")  brilhou mais forte e era um modo de ser reconhecido no calor e na poeira da luta. Mas esse sinal foi também a sua perdição. Era por ele que os inimigos procuravam. Sabiam que, morto Sepé, a resistência guarani acabaria. Quando finalmente o atingiram, ele foi arrebatado aos céus por S.Miguel e o sinal de sua testa passou a brilhar no céu, nas noites escuras do Rio Grande, tornando-se a constelação do Cruzeiro do Sul!

Com Sepé morreram os jesuítas da Missões e muitos sonhos. Pouco depois a Companhia de Jesus foi expulsa dos territórios portugueses, a começar pelo Brasil.
Agora, por ironia, a América do Sul propicia um jesuíta ao papado.

Notas:


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