segunda-feira, 25 de março de 2013

Passividade violenta

O povo brasileiro é um povo passivo, certo? Errado! Apesar de pouco nos manifestarmos publicamente, de não protestarmos contra a canalhice que passou a dominar a política nacional, não somos um povo totalmente passivo. Digo isso porque basta olharmos para as torcidas organizadas de futebol. Bastar ver como se comportam os membros dessas torcidas, da Mancha Verde à Gaviões da Fiel. Fazem da sua opção esportiva uma religião, com todo o fanatismo que comportam os sistemas de crença de dogmas indiscutíveis.
Sou atleticano de coração e de alma. Nasci atleticano como os demais e morrerei atleticano. Isso dito, torço pelo meu time, mas nem por isso penso que os torcedores dos outros times tenham que ser atacados pelo simples fato de existirem. Eles só não fizeram a melhor escolha, mas isso é problema deles.
Depois dos lamentáveis episódios ocorridos recentemente com as torcidas do Coríntians e Palmeiras temos que nos perguntar qual é o motivo dessa selvageria. O que há de errado com as pessoas? O que está por trás disso tudo? Qual é o significado? Por outro lado, também percebemos o mesmo ranço violento nas manifestações contra a blogueira Yoani Sanchez.
Se vivêssemos sob uma ditadura, eu diria que haveria uma revolta latente, que, não podendo se expressar pelos canais "normais", estaria sendo desviada para o futebol. Mas, não. Não é o caso, pelo menos ainda.
Pensando bem, a gente até se esquece que vivemos sob a  égide da violência. No Brasil nenhum cidadão transita pela cidade, ou pára no semáforo sem medo, sem olhar pro lado ou espiar atrás. O que era uma característica das cidades grandes, generalizou-se. As outrora pacatas cidades do interior também hoje são palco de violência de vário tipos, inclusive daquela que é ter que conviver em maior ou menor grau com as cracolândias.
Ese ambiente rotineiro de violência em potencial onipresente tem que mexer com a cabeça das pessoas. O estresse provoca reações irracionais, desperta o animal que todos temos dentro de nós, adormecido pelo verniz civilizatório, mas facilmente despertado quando os instintos básicos são chamados à ação. De estar preparado para a ação e agir é um pulo. Uma simples "fechada" de automóvel pode provocar reações inesperadas. Quando então se juntam várias pessoas, despersonalizadas no meio da massa, vestindo o mesmo uniforme e berrando as mesmas palavras de ordem, está montado o cenário para a irrupção do monstro. É o "Nós" contra "Eles" básico dos tempos primitivos.
Oxalá, pudéssemos canalizar toda a nossa raiva, diante da impotência na vida urbana, para ações mais efetivas de mudança social! Mas, como não temos uma cultura de coletividade, não o fazemos, a não ser quando somos mobilizados por uma torcida "organizada" que substitui a nossa vontade e a nossa razão.

Um comentário:

  1. Ótimo texto. 50.000 mil mortes por ano.Mais que em guerras.

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