sábado, 3 de junho de 2017

Caê, o vanguardista ultrapassado

Pessoas de vida pública, como artistas, por exemplo, deveriam saber envelhecer e não querer ficar bancando o adolescente anacrônuco.
A respeito disso, aqui vai uma excelente crônica de Jerônim Teixeira, publicada em Veja:
Síndrome do Vanguardista Ultrapassado: temos de ser compreensivos com quem padece dessa merencória condição.

A SVU (não confundir com SUV, detestado veículo da elite suja de Higienópolis) é uma espécie de Parkinson estético, produzindo tremores das convicções artísticas e políticas.


Eis aí Caetano Veloso, o tropicalista, o criador de discos para “entendidos”, o qualquer coisa, o leãozinho, o quereres. Gosto da música dele, mesmo. Da música que o cara já fez: não corro atrás de discos novos. O mais recente está lá no Spotify e eu não ouvi. Pois o baiano insiste em matar o velhote inimigo que morreu ontem. Golpe, fora Temer, a treta toda. A UJS que vaiava no Festival da Record agora pira. Os stalinistas que antes achavam a coisa toda muito alienada e colonizada, hoje convertidos em freixistas e haddadetes, estão prontos pra deixar o corpo ficar Odara. Aplaudem. Viva a Vaia? Não mais: Viva o Véio!

Mas então a Folha foi lá descobrir um coxinha do MBL que faz carreira paralela num tal Bonde do Rolé. Parece que o cara falou de uma “direita transante”. (Eu não entendi a novidade: fascista decerto não faz sexo? Esses bolsonaros juniores que concorrem a todos os cargos possíveis acaso nasceram por geração espontânea?) Bastou isso pro desespero bater em Painho: epa, tem algo novo aí! O Bonde do Rolé vai passar e eu vou ficar comendo poeira nos trilhos urbanos. E lá vai o Caetano, na mesma Folha, caetanear, aliterativo: “a direita transante é interessante”.

A expressão não é dele, certo. Mas a alegria, a alegria com que ele a abraçou! Terá escutado nela uma alusão lisonjeira ao disco londrino Transa? (Narciso, afinal, só acha bonito o que é espelho.)

Transante, derivado do verbo transar! Quando até o pueril “ficar” já caducou nestes dias do rude “pegar”, “transar” é uma brasa, mora? Nada denuncia tanto a idade quanto uma gíria ultrapassada.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Danos irreparáveis

É inacreditável! Um ex-ministro da Fazenda, por 8 anos, teve  e ainda tem uma conta no exterior, não declarada ao fisco, no valor de 600 mil dólares!
Durante esses 8 anos em que foi o chefe da Receita Federal, órgão encarregado de fiscalizar, entre outras coisas, as contas no exterior dos cidadãos brasileiros, o Sr. Guido Mantega, então ministro, simplesmente se esqueceu de declarar essa conta!

Acontece que Guido Mantega simplesmente chefiava o órgão arrecadador ao qual deveria, como cidadão, tê-la declarado! E isso não causa comoção alguma! É apenas mais um registro no meio de toda essa podridão que está sendo escancarada aos nossos olhos.

Definitivamente, o Brasil não é um país sério! Como é que as pessoas podem acreditar nas instituições de uma republiqueta como essa? Seria mais ou menos equivalente ao ministro da Justiça ser traficante de drogas, ou o ministro do Trabalho não registrar a sua empregada doméstica!

Até mesmo os petistas, acostumados a defender o indefensável,  se espantaram! Valter Pomar, quadro histórico do PT, escreveu sobre isso, reclamando que a existência dessa conta desde 2006, sem ser declarada, durante todo o tempo em que Mantega esteve ministro, era um petardo contra o PT. E previu que "isso é um detalhe perto do que está por vir".

Será que ele estava se referindo às possíveis contas do Lula no exterior, provável assunto principal da delação do Palocci? O que mais falta ser revelado e que poderia causar danos irreparáveis ao PT? Naõ tenho imaginação suficiente para isso.

domingo, 28 de maio de 2017

Caos necessário

O Brasil é um país muito engraçado! As leis aqui, além de não valerem para todos, não tem aplicação imediata após sua aprovação e publicação. Fazem-se leis, aliás fazem-se leis em profusão, mas sua aplicação depende...
Depende de quem é por elas atingido, depende de quem está mandando, depende do momento e das circunstâncias.

Querem um exemplo? Dilma e Temer concorreram juntos na mesma chapa; quem votou em um, automaticamente votou no outro. A campanha foi a mesma, borrifada com propinas milionárias como já suspeitávamos e agora temos certeza. A lei é clara e simples: em caso de constatado o abuso do poder econômico, a chapa deve ser cassada! Resolvida a questão? Não!

Surgem no horizonte, Cassandras de todo tipo a vociferar que, se a chapa for cassada e Temer perder o mandato, será o caos! Portanto, a chapa não pode ser cassada, concluem. Mas, e a lei? Dane-se a lei!

Que bela contribuição ao aprimoramento institucional do país estão a dar esses próceres da nação! Aprimoramento institucional, em primeiro lugar quer dizer: o império da Lei! O império da à lei é o que importa em países civilizados, não importa o que aconteça, não importa quem seja atingido. A lei tem que estar acima de todos e valer para todos. Isso é civilização, isso é democracia, isso é progresso social.

O maior mal dessa colônia malfadada é exatamente esse, que vem desde os tempos do descobrimento: a lei não é válida para todos. Isso permitiu as maiores distorções históricas, isso permittiu o ambiente de impunidade que aqui floresceu, isso proporcionou a relação incestuosa entre o poder econômico e o poder político, isso determinou o nosso atraso político, cultural, social e civilizatório.

Se Temer perder o mandato agora, talvez seja o caos mesmo. Mas é disso que estamos precisando. Estamos carentes de um caos que afinal jogue por terra toda essa nossa vergonhosa história e desse caos talvez possa surgir um país novo.


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