quarta-feira, 3 de junho de 2020

"Diga-me com quem andas...

... e te direi quem és". Esse velho e conhecido ditado, ensinado por nossos pais e avós, continua plenamente válido hoje em dia. Há outro, de significado similar: "gambá cheira gambá". 

A sabedoria contida nesses ditados nos indica que não é preciso de provas jurídicas incontestáveis para se deduzir o caráter, ou a falta dele, de qualquer pessoa. Bastam certos indícios inequívocos, tais como a condição "sine qua non"Grupos divergentes em objetivos, motivos e ideias não se juntam. Em outras palavras, tal como postulado na homeopatia, semelhante atrai semelhante.

Assim, não deixa de ser curiosa, para dizer o mínimo, essa associação do governo Bolsonaro com o Centrão. Aparentemente, não poderiam haver agendas mais divergentes que as do Centrão e as do liberalismo econômico que impulsionou a candidatura de Bolsonaro.

Um quer mamar no Estado, como sempre fez, o outro quer o Estado mínimo, como é a espinha dorsal da corrente liberal. A adesão ao Centrão - não foi o Centrão que aderiu ao governo, o Centrão está onde sempre esteve - indica que o governo Bolsonaro capitulou. Entregou os pontos. Acabou. Agora quem governa são as mesmas velhas raposas que dobraram a espinha do PT. Como amor da epístola de S.Paulo aos Coríntios, o Centrão é paciente, tudo suporta, tudo perdoa, tudo espera. 

O governo Bolsonaro acabou mesmo foi no momento em que as transações mal-explicadas de seu filho Flávio vieram à tona. A partir daí, o presidente nada mais fez que tentar impedir as investigações e o devido processo legal. Ainda, no princípio do governo tentou simular que a agenda liberal continuava sendo a prioridade, mas à medida em que a situação foi se desenrolando de modo diverso ao que lhe interessava e, no momento da saída do Moro, tendo ficado exposta essa estratégia de obstrução à justiça, Bolsonaro abriu mão do resto de seu discurso e aderiu. A quem? Ao que já estava só esperando o momento de abocanhar o bolo. 

O Centrão tem uma estratégia infalível. Provoca o sangramento da vítima até o ponto de sua capitulação, mas não a deixa morrer, passa a sugar-lhe o sangue em doses equilibradas que a mantém viva, porém exânime. Até o momento que que a carcaça não mais lhe interessa. Aí, passa a mirar na próxima vitima em potencial.

Isso ocorreu no governo Collor, no segundo mandato do FHC, nos governos Lula-Dilma-Temer e agora continua. Desses, 2 não conseguiram finalizar seus mandatos. No governo Sarney não houve isso, porque o governo Sarney era o governo do próprio Centrão, ainda que não tivesse esse nome.

Ao eleger Bolsonaro, grande parte dos eleitores brasileiros acreditava sinceramente que ele seria um anteparo ao Centrão. Acho que até o próprio Centrão pensava isso. A surpresa foi a reação apavorada do mandatário ao perceber o "perigo" batendo à sua porta. Aí o Centrão percebeu a sua chance.
Infelizmente para o Brasil, ganhou mais uma vez. Parabéns, Roberto Jefferson!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Quem não deve, não teme

O capítulo mais recente da interminável novela política brasileira é essa resistência inexplicável de o governo entregar ao Supremo a gravação da reunião de ministros, citada pelo Moro, como prova de quem é que mente e quem é que diz a verdade.

Logo após a demissão de seu ministro da Justiça, Bolsonaro fez questão de vir a público e, em transmissão televisiva, dizer que iria publicar o vídeo dessa tal reunião como prova de que o ex-ministro mentia. Não só mentia, como o caluniava. Não só o caluniava, como o traía.
Melhor oportunidade para destruir a argumentação do Moro seria essa. Os fatos são, ou deveriam ser, incontestáveis.

Não dá para entender ou justificar então essa atitude de lutar com unhas e dentes para que essa gravação não seja revelada. Motivos de Estado, uma pinoia! Segredos de Estado,  por suposto, não serão revelados por um ministro do Supremo, afinal um outro poder da República. É assim que as coisas funcionam, ou deveriam funcionar.

Vamos ver se Celso de Mello na sua, talvez, última oportunidade de proferir uma decisão que pode ser histórica como ministro do STF, não recue, não trema, como já fez em alguns outros momentos cruciais. Aquele, a quem Saulo Ramos chamou "juiz de merda", tem essa oportunidade histórica de cravar uma estrela dourada na própria biografia. 

Quanto ao Bolsonaro, essa atitude só diminui sua credibilidade e dá margem aos ataques dos inimigos. A esquerda nunca teve um alvo tão fácil. Eles nem estão se aproveitando muito da situação. Aliás, a esquerda não precisa bater em Bolsonaro. Ele e seus filhos batem em si mesmos.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Vitória da Mediocridade

Bolsonaro reduziu-se ao seu verdadeiro tamanho.  Mesquinho, oligofrênico, 
incapaz de perceber a oportunidade histórica que teve em mãos, incapaz de pensar no país, apesar de bater no peito e reivindicar patriotismo como se fosse uma exclusividade sua.

Ao votar nele, obviamente, ninguém imaginava que estaria elegendo um intelectual para a presidência, até porque depois de Lula e Dilma, qualquer um estaria em melhor posição. Mas não imaginávamos também que estaríamos elegendo um energúmeno, beirando a psicopatia.

Desde que foi eleito, o que fez, foi dar tiros no pé e indispor-se com os mais variados aliados. Ao invés de se compor para aprovar as reformas necessárias ao país, preferiu ficar no varejo, nas briguinhas, nas bravatas pela internet, que não levam a nada.

Tinha o melhor ministério dos últimos tempos, mas, não sei se, por vaidade ou por cálculo político errado, colidiu com vários dos ministros de Estado. Esvaziou a própria equipe. Desautorizou, relegou a segundo plano, expeliu gente do ministério para dar lugar a terra-planistas, olavistas e outras excrescências do submundo político.

O que dá pena é que quem mais perde é a nação. Uma nação cansada, frustrada, descrente e descontente há muitas décadas.  E essa nação tem lutado! Lutamos pelas eleições diretas e pela Constituição, criamos esperança com o plano Cruzado e nos frustramos com esse e com os demais planos econômicos, elegemos FHC com seu plano Real, elegemos Lula porque FHC tinha comprado o Congresso, Lula comprou o Congresso e apoiamos o mensalão, lutamos pela prisão do Lula e pelo impeachment da Dilma e, finalmente elegemos Bolsonaro!

E estamos hoje, estupefactos, assistindo ao desmoronamento de mais um sonho. O sonho de um Brasil, limpo, honesto, digno e próspero. Outras nações conseguem, por que não conseguimos nós? Será que somos um bando de idiotas, condenados a sermos governados por corruptos e espertalhões? Não sei a resposta, mas estou muito desconfiado...

Esse dia ficará marcado como um dia negro na nossa história. O dia da Vitória da Mediocridade. Cada um tem a Vitória que merece.





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