sábado, 25 de dezembro de 2010

Já vai tarde!

A morte do Quércia nos proporciona um momento de reflexão: a qualidade da política brasileira é como a lei da entropia, sempre tende a piorar.
Perto do que o PT (adversário ferrenho) aprendeu a fazer, Quércia pode ser considerado um reles amador. Ele e Sarney, depois da morte de Ulisses Guimarães, tomaram conta do que um dia foi um partido de oposição à ditadura militar e destruiram a alma desse partido transformando-o nesse espectro que aí está a nos assombrar. 
Não lamento sua morte e nem farei seu panegírico. A morte não redime ninguém de nada, ao contrário, torna definitivo tudo o que fizeram. Portanto, o Brasil não perde nada com sua ausência e que desapareça da nossa memória pois nada de bom ou de útil deixou para os seus conterrâneos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Natal com Hugo Chavez

Hoje, supostamente, era para se falar do Natal, de Paz, de Harmonia, mas não dá para ficar calado e passivo diante do que está acontecendo ao nosso lado, com os nossos irmãos venezuelanos. Hugo Chavez escancarou de vez a ditadura que mal conseguia disfarçar. Concedeu-se o direito de legislar por decreto por 18 meses. O projeto original era de 12, mas uma deputada mais realista que o rei propôs aumentar pra 18 meses e, (claro quem seria contra?), foi aprovado pela Assembléia Nacional.
Olhando a foto ao lado, os que tem um "pouco mais" de idade lembram-se de alguma coisa? Não parece repetição do mesmo velho e desgastado filme? só que com outros nomes e outros atores? Nesse país, há não muito tempo, tivemos a mesma luta; os "mesmos" estudantes sairam às ruas em protesto contra a ditadura militar e foram acompanhados pelos libertários de então: artistas, professores, intelectuais, pessoas da imprensa e até, pasmem, por gente que hoje se encontra ao lado de Chavez e sua nova velha ditadurazinha sulamericana.
Agora, entretanto, ao invés de levantarem sua voz em protesto, muitos "líderes",  libertários e progressistas em oposição à ditadura da época, se calam diante do absurdo que ocorre na Venezuela.
De uma figura como Lula, não se pode esperar mesmo muita coisa. Foi invenção de um general, o  Golbery do Couto e Silva, que o queria justamente para dividir a oposição à ditadura militar. O bruxo Golbery inventou o líder operário "confiável", assim como reinventou um PTB "de direita" com Ivete Vargas e tal. Hoje podemos dizer que o bruxo foi bem sucedido. Sua cria aí está, provando, para quem quer que seja, que o ex-líder operário pode ser tudo, menos oposição às ditaduras. Ao contrário, se tivesse encontrado um ambiente mais propício, uma democracia mais frágil, quem sabe? Não faltaram áulicos a insuflar idéias liberticidas, haja vista as várias tentativas de restaurar a censura, possibilitar um  terceiro mandato ou o tal Plano de "Direitos Humanos", tudo travestido sob a forma de uma democracia "popular" baseada nos índices de popularidade presidencial.
Agora que na Venezuela, fica tudo mais claro, talvez seja melhor para nós outros. Assim quem se calar ou defender a truculência chavista não terá desculpa alguma, estará assumindo a posição de inimigo da democracia.
Dá pena perceber que junto daqueles estudantes brasileiros, que sairam às ruas e tiveram a coragem de enfrentar a truculência militar no Brasil, havia tantos que só a queriam substituir por outra truculência.
Que haja Paz e Felicidade ao bravo povo venezuelano. Que busquem coragem e conforto na história, que nos mostra que todas as ditaduras tem um fim; e, quando os povos são corajosos, esses crápulas normalmente ainda pagam pelo que fizeram.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Gilberto Carvalho o bajulador


Carta do presidente Fernando Henrique ao Estadão a respeito das aleivosias levantadas pelo "amarra-cachorro" de Lula, Sr. Gilberto Carvalho, aquele, do caso Celso Daniel.


Li com espanto a entrevista do sr. Gilberto Carvalho publicada neste jornal na edição de domingo passado (“Ninguém engana a Dilma nem põe faca no pescoço dela”, 5/12, A10). Espanto porque imaginei que o entrevistado devesse estar mais preocupado em se defender de insinuações que podem manchar a sua biografia ─ a de haver sido receptador de propinas extorquidas por um bando de seus companheiros de partido que teriam usado a administração petista de Santo André para obter recursos para uso político, como afirmam procuradores estaduais ─ do que em dar curso a calúnias contra mim.
Lula, segundo o entrevistado, recusa o termo “mensalão” para caracterizar os desatinos praticados nas relações entre seu governo e a Câmara dos Deputados, quando da alegada compra de apoios políticos. Na verdade, trata-se de mero jogo de palavras para negar a periodicidade da propina, e não sua existência. Artifício semelhante a outro ─ este com consequências jurídicas maiores ─ quando afirmou que o dinheiro utilizado naquelas práticas teria sido obtido de “sobras de campanha”, esquecendo-se de que houve transações entre poder público e agentes privados como no caso da Visanet.
Para melhorar a imagem presidencial, Gilberto Carvalho diz que Lula, ao negar que seu governo tenha comprado votos, me acusa nominalmente de tê-lo feito para aprovar a emenda da reeleição. Ora, jamais houve qualquer indício nem qualquer afirmação direta de que eu assim procedera. Mais ainda, os rumores sobre uma escuta telefônica feita entre deputados de um Estado que estariam envolvidos em tais práticas aberrantes surgiram num jornal meses depois de aprovada a referida emenda, com votação avassaladora ─ 80% no Senado e margem de mais de 20 votos acima dos 308 requeridos na Câmara.
No caso, a referida escuta teria feito alusão ao primeiro nome de um de meus ministros. Para evitar dúvidas o ministro eventualmente aludido foi, por decisão própria, à Comissão de Justiça da Câmara, prestou todos os esclarecimentos e desafiou quem dissesse o contrário da verdade, que era sua inocência. Posteriormente, três ou quatro deputados ─ mais tarde ligados à base do governo Lula ─ renunciaram a seus mandatos para evitar cassações, confessando culpa, mas sem qualquer envolvimento do PSDB e muito menos do governo ou meu.
Se não fosse o suficiente ser um procedimento contrário à ética, mesmo em termos pragmáticos, seria de todo descabido comprar o que era, explicitamente, oferecido: a opinião pública, os editoriais de toda a mídia e a maioria avassaladora do Congresso Nacional eram favoráveis à emenda da reeleição, contra a qual se batiam isoladamente o PT e os “malufistas”, pela razão de haver nessas correntes quem quisesse disputar as eleições presidenciais e temesse minha força eleitoral, comprovada na reeleição em primeiro turno em 1998. Estes são os fatos.
Custa-me a crer que Lula, para se defender do indefensável no caso do mensalão, ataque a honra de um ex-presidente que foi seu amigo nas horas difíceis e que não usa de artimanhas para desacreditar adversários. Dói mais ainda que pessoas como Gilberto Carvalho ecoem o sabidamente falso para endeusar o chefe. Sinal dos tempos, que arrastam mesmo os que parecem ser melhores a cair na calúnia, na mesquinharia e na mediocridade.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

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