quinta-feira, 30 de junho de 2016

O que vamos fazer com o Brasil?

O que vamos fazer com o Brasil? Essa pergunta reflete a nossa perplexidade diante de um país que pensávamos que tínhamos e que descobrimos que não temos mais, ou melhor, nunca tivemos.

O Brasil oficial sempre foi um país de mentira. Isso todos nós sabemos. Já sabíamos e aceitamos, fingindo e fazendo parte do jogo. Escondíamos de nós mesmos as mazelas, para torcer febrilmente por um Brasil Grande nas Copas do mundo, nas Olímpíadas, na Fórmula 1. Carregávamos um certo orgulho de sermos um país pacíifico e cordial, de sermos alegres, expansivos, informais, calorosos, amigáveis. As mazelas, que era impossível esconder, eram culpa dos outros, dos colonizadores, dos exploradores, dos imperialistas.

As máscaras agora foram brutalmente arrancadas. Não somos nada disso e temos que admitir a verdade porque não há como escondê-la mais. A começar pelo sistema político: um caos e uma vergonha! Ninguém se salva. Gente de todos os partidos, líderes políticos, pessoas que assumiram os cargos mais importantes, estão todos emaranhados na mesma teia de corrupção. Aí fica a pergunta: vamos trocar quem por quem? O Congresso nos dá nojo ou vergonha e, às vezes, as duas coisas juntas. Mas quem elegeu esse Congresso? Ele é a nossa cara! 

Todos os defeitos que se escancaram no Congresso são retrato do nosso povo. O Congresso nos reflete, como um espelho. Temos que admitir que somos um país de malandros, de mentirosos caras-de-pau, de espertinhos, de contraventores e criminosos em vários graus, de corruptos e corruptores, de oportunistas, de pessoas violentas, de gente ignorante, de gente que despreza a educação, que tem horror à cultura, que não gosta de trabalhar, que não gosta de pensar, de comodistas, acomodados, de ladrões,  de machistas, misóginos, homofóbicos, racistas, enfim, a escória da escória das gentes.

É preciso que desçamos ao fundo do poço para passar esse país a limpo, se é que tem jeito. É preciso que paremos de nos iludir e tenhamos a coragem de nos confrontar a nós mesmos e encarar toda a sujeira, para podermos limpá-la. O que está acontecendo hoje no Rio é uma imagem condensada do que está acontecendo em todo o país. O caos do Rio, a violência do Rio, o desarranjo do Rio, são males do Brasil. Chegamos ao fundo do poço, como povo e como nação. Teremos a capacidade de nos reconstruir?

A vida é muito curta para morar no Rio

Reproduzo abaixo o texto de Mariliz Pereira Jorge publicado hoje na Folha. A verdade pode doer, mas não deixa de ser verdade.

A vida é muito curta para morar no Rio

30/06/2016 

Eu era a paulista mais carioca que meus amigos conheciam. Tinha a tal alma, roupas coloridas, conta na barraca do Leandro, no Posto 12, mesa cativa no Jobi, chamava os garçons pelo nome, tomava cerveja na calçada, banho de mar à noite no verão. Estava com uma mala sempre pronta, e a poltrona 8F no avião religiosamente reservada para ver lá de cima a cidade chegando.

A vida é muito curta para não morar no Rio, diziam. Eu ria, mas voltava feliz para o meu caos organizado em São Paulo, às segundas pela manhã. Até que uma proposta de trabalho me trouxe de mala e mudança. Depois do primeiro mês, a lua de mel com a cidade acabou e eu me perguntava: como as pessoas moram aqui?

Demorou, mas não sou mais solitária nesse questionamento. Vejo amigos e conhecidos compartilhando em redes sociais uma pesquisa feita pela ONG Rio Como Vamos, que mostra que 56% da população tem vontade de ir embora da cidade. Em 2011 esse percentual era de 27%.

O que faz os moradores quererem fazer as malas é o aumento da violência. Roubos na rua assustam mais as classes mais altas, enquanto as balas perdidas são o terror na vida da população menos favorecida. Mas os problemas do Rio vão muito além disso, e é um espanto que apenas tiro, porrada e bomba tenham acendido o alerta de que a Cidade Maravilhosa é uma farsa. Uma paisagem espetacular, recheada de problemas escandalosos.

Essa visão de que o Rio é o melhor lugar do mundo para se viver é um tanto provinciana e romântica, além de cega, de uma maioria que mora e trabalha na zona sul –e parte da zona oeste– e só de vez em quando tem o doce cotidiano chacoalhado pela violência que atravessa o túnel Rebouças. Gente que vive numa bolha, que eventualmente estoura num assalto com morte.

Vida que segue. A gente se deslumbra com a belezura da geografia e aprende a conviver com malandragem generalizada, falta de pontualidade, incompetência disfarçada de informalidade, hostilidade travestida de espontaneidade, infâncias miseráveis, pobreza, falta de tudo.

O Rio é só uma cidade decadente que vive de um glamour passado, num presente melancólico. E parte da sua população sempre foi conivente com tudo que nos fez descambar para essa triste realidade. Como fechar os olhos para uma parte gigante da cidade que apenas sobrevive?

Praias, lagoas e baía não ficaram poluídas da noite para o dia. Ainda assim, as areias estão sempre cheias, mesmo nos dias em que o mar não está nem para peixe nem para gente. O negócio é mergulhar no cocô para se refrescar, tomar uma cervejinha e tirar foto do pôr do sol. Com sorte, daqui uns anos ainda reste o pôr do sol.

Chamar favela de comunidade não muda o fato de que centenas de milhares de pessoas continuam vivendo sem saneamento, sem saúde, sem educação, reféns ora do tráfico ora da milícia. Mas é bonito subir o morro, ir ao sambinha, postar foto na "comunidade" e fazer de conta que ela está integrada. Não está. Fica bonito na letra de música, na poesia, mas é apenas gente esquecida –e tolerada– em troca de status de cartão postal.

Mas tudo bem, a gente dá uma maquiada, ergue muros nas linhas Amarela e Vermelha para que os turistas não vejam o lado mais feio, miserável e perigoso da cidade –além de evitar que balas atravessem a pista e matem os desavisados. De quebra, nós mesmo esquecemos que existe o lado mais feio, miserável e perigoso por onde só passamos a caminho do aeroporto.

O coro de "nunca pensei que diria isso, mas penso em ir embora do Rio", tomou o lugar de posts babaovistas com legenda "Rio, eu amo eu cuido", "Eu moro onde as pessoas passam as férias". Férias é somente o que uma pessoa com juízo faria aqui. Vem, passa o dia na praia, torce para não ser vítima de um arrastão, passeia pelos pontos turísticos, toma um chopp aguado, come um bolinho no Braca, vai no ensaio da escola de samba, se o tráfico não estiver em pé de guerra, pega o avião a vai embora.

Para quem mora aqui, o jeito é torcer. O que nem sempre é suficiente. Para muita gente a vida tem sido muito curta para morar no Rio. Juan, um ano e dois meses. Giselle, 34. José Josenildo, 31. Foram mortos nas últimas semanas. Bala perdida. Tentativa de assalto. Emboscada. Não há paisagem que valha a pena morrer tão cedo.

Obviamente, criminalidade, pobreza, corrupção e falta de toda a sorte de serviços básicos são problemas em maior ou menor grau em todas as capitais brasileiras, mas nenhuma se vende como Cidade Maravilhosa. E antes que algum ofendido venha me mandar embora, só tenho uma coisa a dizer: é o que eu mais quero. Eu e os 56% dos moradores do Rio.

Debaixo da toga

A nação suspeita, há muito tempo, que vários ministros do Supremo usam a estrela do PT por baixo da toga. E, de vez em quando, essas suspeitas são corroboradas por atitudes, no mínimo, duvidosas desses ministros.

O ministro Lewandowski, não bastasse sua atuação francamente pró PT no julgamento do mensalão, ainda se prestou a manter encontro secreto com Dilma em Portugal, um despropósito total, para dizer pouco. O ministro Marco Aurélio, que até então só era um chato de galocha, depois que sua filha foi nomeada pela ex-presidente para um cargo vitalício com salário monumental, virou petista de carteirinha desde a infância. Foi ele quem inventou a figura do impeachment de vice.

O ministro Barroso não procura nem tentar disfarçar. Sua atuação no episódio da eleição da comissão do impeachment, que foi anulada, deixou de modo cabal e explicíto o viés ideológico, quando omitiu dolosamente a parte do texto que não lhe interessava, ao ler um trecho do Regimento Interno da Câmara. E o ministro Dias Tóffoli, ex-advogado do PT, continua a exercer essa função sob a toga negra, sempre que precisam dele.

Sua decisão de mandar soltar um sujeito que desviou e roubou dinheiro de aposentados, dando a esse bandido a possibilidade de atuar na ocultação dos valores roubados, foi uma decisão que ainda pertence ao país que está acabando e que queremos ver morto e enterrado. 

É preciso repudiar com veemência atitudes como essa que não cabem mais no Brasil de hoje. Ainda somos um país atrasado, ainda temos muito a fazer para merecermos o título de país civilizado, mas um passo importante foi dado nessa direção desde 2013. Não há como retroceder.


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