sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Trancos e solavancos

O Reino Unido, em duas semanas, resolveu seu problema político. Nós conseguimos a proeza de arrastar por mais de um semestre o processo de destituição de um governo corrupto e inepto.

É claro que não se pode comparar o Brasil ao Reino Unido. A distância é interplanetária. Eles estão em um mundo e nós em outro. Lá, o primeiro ministro quando percebe não ter mais o apoio da base, renuncia ao cargo, sem maiores tergiversações, nem apego. E sai elogiado até pelos adversários.

Aqui, o que se vê, são todos se agarrando com unhas e dentes às cadeiras, às cortinas e às mesas, e, quando saem, saem carregando as tralhas pessoais e públicas e fazendo o possível e o impossível para não perderem as benesses do poder. Claro também que, os que perdem benesses em Pindorama, perdem muito mais do que os que as perdem no reino de Sua Majestade, porque, quando estão no poder aqui, têm muito mais benesses que os poderosos de lá.

Aqui, o Estado, infelizmente, é visto como uma terra sem dono, um despojo de guerra, ao qual todos se atiram, cada qual querendo levar a melhor parte. Não exsite a menor noção de serviço à nação, de amor à pátria. Isso parece uma coisa tão antiga, tola, risível. Amor à pátria? A última vez em que ouvi essas palavras, ditas seriamente, sem cinismo, já faz mais de meio século.

Nessa época, eu pensava que o Brasil seria uma grande nação logo em breve. A questão parecia ser apenas conseguirmos romper com o subdesenvolvimento representado pelo baixo nível de educação e pelo atraso industrial. Esse último já vinha sendo atacado pelo desenvolvimentismo de JK e o problema da educação parecia ser apenas uma questão de tempo, uma vez que a indústria precisaria de mão de obra mais qualificada.

O ciclo virtuoso foi interrompido pela má política, que acabou por nos atirar em uma ditadura. De novo a esperança se reacendeu quando FHC repôs a nossa economia nos trilhos. De novo, a má política, o messianismo cheio de má fé, nos tolheu o caminho e nos jogou nesse lamaçal de delinquência moral e descalabro social.

Nesse vaivém, nesses trancos e solavancos,  desperdiçamos meio século. O país é rico, mas o desperdício também tem limites e as vidas humanas são breves; para muita gente não haverá uma segunda oportunidade.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

República no brejo

Enquanto essa turma toda não for enfiada no xadrez não teremos paz no país. O que eles fazem diuturnamente e (como diz a Anta-mór) noturnamente não é outra coisa senão confabular e conspirar para escaparem, senão todos, ao menos uma grande maioria, das ações penais das diversas investigações correntes.
O presidente do Senado, um mafioso, que até já renunciou ao mandato para escapar de uma cassação por recebimento de propina, é o chefe dessa conspiração. Muita gente não assume claramente essa posição, mas torce nos bastidores, para que a reação à Lava Jato e demais operações dê certo. 

Abre-se um parêntesis: por falar em bastidores, onde anda o senador Aécio Neves? Houve impeachment, houve posse do Temer, defenestração e prisão de Eduardo Cunha e do Palocci, novas denúncias contra Lula e agora essa briga entre o juiz Vallisney e a Polícia Legislativa, e não se ouve uma palavra do presidente do PSDB? - fecha-se o parêntesis.

Agora o Supremo, via ministro Teori,  resolve meter a colher no meio e chamar a si as investigações de possível obstrução de Justiça por parte da Polícia Legislativa, aliás, por parte de Renan Calheiros, a defender-se e defender os seus comparsas criminosos. Esperemos que a chamada se traduza em investigação, conduzida pelo STF sobre o que esses senadores faziam para apagar os indícios de suas ilegalidades e não seja mais um processo a mofar nas gavetas, como já existem 11 deles, relativos ao Renan.
Se não for isso, o Supremo terá se transformado em uma casa de proteção da bandidagem travestida de políticos, um valhacouto.
Já que o poder Executivo e Legislativo estão absolutamente desmoralizados perante a população, é preciso que, pelo menos o Judiciário também não o seja, ou a República terá ido pro brejo e tudo pode acontecer então.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Bancos e seguradoras

Hoje eu vou mudar totalmente de assunto. Vou falar das arapucas legalizadas que só existem para tomar dinheiro das pessoas. O governo é quem mais toma, compulsoriamente, mas ao menos, teoricamente, devolve alguma coisa. Essas outras arapucas são privadas e sequer prometem devolver alguma coisa. Elas cuidam somente dos interesses dos "acionistas". Nada mais.

Uma delas é a "indústria" da religião prêt-a-porter. Depois da Constituição de 88 que garantiu a isenção tributária para as demais religiões, além da católica que já tinha esse privilégio, houve uma proliferação desenfreada de "igrejas" evangélicas. Até Eduardo Cunha tinha uma igreja para chamar de sua. E, coerentemente, uma empresa chamada jesus.com. Isso mesmo, jesus ponto com! E que está declarada em seu Imposto de Renda! 

Esse ramo de negócios, não se precisa dizer, é altamente lucrativo. As pessoas compram a salvação, ou a paz de espírito, ou a cura de doenças físicas e psicológicas, com as doações "espontâneas" que fazem aos pastores. Além de tudo, a salvação é um produto que tem que ser renovado a cada dia. Não é como uma televisão ou um carro, que se compra e depois passa-se alguns anos, sem precisar trocar. A salvação é um tipo de apólice de seguro da alma. Se as prestações não forem pagas, a apólice perde a validade e a igreja, como as companhias de seguro, não devolve o que você já pagou. E, o melhor, para essas seguradoras, oops, igrejas, é que o benefício do segurado só vai ser pago no além. Quem morrer, verá!

A outra arapuca são os bancos e suas carteiras de investimentos, que oferecem com insistência aos seus clientes, mas quem ganha mesmo nessas operações é o próprio banco. Suas taxas de administração variam de 1,5 a 3,5 %!!! Se uma incauto aplica 10.000 em um VGBL para receber 100% do CDI (ou seja, entre 14 e 14,5% ao ano), mas o banco lhe toma 3,5%, ele só recebe 11%. O banco está lhe surrupiando 25% do retorno da sua aplicação. 
Isso sem contar que, ao aplicar, o banco já lhe cobrou uma "taxa de carregamento" que podem ser outros 3,5% ou até mais. Na verdade o banco é quem deveria pagar a "taxa de carregamento" ao aplicador, pois pega o dinheiro do cliente e o empresta a outros clientes a taxas que variam de 3 a 7% ao mês!!!

Os bancos obviamente remuneram os seus gerentes regiamente por conta dessas aplicações. É por isso que os gerentes não deixam os clientes em paz e vivem oferecendo seguros, títulos de capitalização, previdência privada, etc. Todo cuidado é pouco. Parodiando o Pe. Vieira: O banco não quer simplesmente o seu bem, ele quer os seus bens!

Como ficar livre dessas arapucas? Simples, não fazendo o que eles querem, mas o que você pesquisou e definiu que é o melhor para sua aplicação financeira ou da alma. Ao invés de pagar dízimos para igreja, compre ações. Há risco? Há, mas com as ações você pode ganhar. E certamente ganhará, se tiver paciência e souber comprar. Ao invés de depositar 500 ou 1000 reais todo mês no VGBL, viaje, coma em bons restaurantes, aproveite a vida que você tem agora; você nem sabe se, um dia, vai pôr a mão nessa aposentadoria! Tomara que sim, mas quem sabe com certeza garantida em "certidão passada em cartório do céu"?como dizia Vinicius de Moraes.  Em resumo, poupe um pouco, aproveite muito e não confie em bancos, nem em igrejas.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Um senadoreco

O atleta esperneou feio diante da ação da PF em cumprimento a uma ordem do juiz Vallisney de Oliveira (guardem esse nome!). Atleta é o codinome do senadoreco, Renan Calheiros, nas planilhas da Odebrecht. Um senadoreco que já renunciou à presidência do Senado por ter prevaricado e, eleito novamente, tudo indica que prevaricou de novo. Há dois problemas aí: um, a lei que permite uma coisa dessas, o outro problema é o eleitor, que reelege um Maluf, um Fernando Collor, um Jader Barbalho e um Renan Calheiros.

O senadoreco, esperneando, chamou de juizeco ao juiz Vallisney por este ter autorizado o prisão de agentes da polícia legislativa.
Aí vem uma grande pergunta? Para quê existe essa policia legislativa? Para manter a segurança do Congresso não basta a polícia militar do Distrito federal, ou, se for o caso, a Polícia do Exército? Essa polícia legislativa é apenas uma milícia a serviço de bandidos travestidos de parlamentares.


Renan está raivoso porque sente a aproximação do xilindró. O STF bem que podia acelerar os oito processos em que ele está envolvido e, de imediato, destituí-lo de suas funções como fez com Eduardo Cunha. Em seguida, abrir o processo e julgá-lo com celeridade, como fez o juiz Sérgio Moro, com o mesmo Cunha.

Qual é a diferença entre Eduardo Cunha, Lula e Renan Calheiros? A meu ver, nenhuma, a questão é só de dimensão dos crimes, que variavam conforme a oportunidade dada a cada um de cometê-los, em razão da função pública que exerceram.

Renan Calheiros na presidência do Senado só faz por desmerecer a instituição. Calígula, para demonstrar seu desprezo pelo Senado Romano, fez nomear seu cavalo, Incitatus, senador. Será que essa gente vai fazer o Senado brasileiro chegar ao mesmo nível?

domingo, 23 de outubro de 2016

País da hipocrisia

No Brasil, a gente tem que ir se acostumando. Sempre haverá um modo de os nossos políticos nos surpreenderem, por mais calejados que sejamos. Agora, por exemplo, a operação Métis da PF desvenda a ação sofisticada da polícia legislativa para obstruir a Justiça e proteger investigados detentores de mandato, ou mesmo sem mandato.

Um policial, Geraldo César de Deus de Oliveira, confessou ter ido ao Maranhão, fazer uma varredura na casa do genro do senador Lobão, por ordem do presidente do Senado!!! Fez o mesmo na Casa da Dinda, residência particular do nosso velho conhecido Fernando Collor. É uma polícia sendo cooptada e posta a serviço de uma bandidagem travestida de senadores.

Eles, tomaram o Estado de assalto. Tomaram conta e, mesmo sob investigação, continuam agindo nas sombras, continuam organizando o crime e se protegendo uns aos outros, no melhor estilo da máfia siciliana.
Está claro, para todos os cidadãos de bem, que o Estado necessita de mecanismos rápidos e eficazes para vencer essa turba, ou vamos perder de balaiada, porque eles são rápidos, eles não tem escrúpulos de apelar para quaisquer meios. Eles não estão parados, ou dormindo à espera que a PF lhes venha bater à porta. Não! Ele estão agindo o tempo todo para se proteger.

Assim, por causa de escrúpulos ou tecnicalidades, estamos sujeitos a ver um Lula fugindo para o Uruguai, por exemplo. Um Sarney e uma Gleisi mandando apagar evidências. Um Renan tentando aprovar uma lei de amordaçamento dos juízes, do Ministério Público e da Polícia Federal e colocando funcionários públicos para agir em seu favor como contra-espiões.

Outra coisa, que precisa mudar, é a suavidade das punições. Uma pessoa que sofreu impeachment por roubo, como foi o caso do Collor, jamais poderia exercer (ou mesmo disputar) qualquer cargo público. Um condenado a 18 anos de reclusão, após cumprir 3 anos em regime fechado tem direito ao regime semi-aberto. Ora, um condenado a 18 anos não cometeu um crimezinho qualquer. Entretanto, fica 3 anos preso, bonzinho, fazendo ares de beato e sai da cadeia, com possibilidade de repetir tudo, como de fato, repetem.

Somos o país da hipocrisia. Temos a capacidade de aceitar uma verdadeira guerra civil pela ruas, onde se mata por causa de um celular; as nossas prisões estão desumanamente superlotadas; as condições carcerárias, para quem não tem dinheiro, são sub-humanas, entretanto consideramos um horror uma condenação à prisão perpétua, por exemplo. Na Lei, naquilo que só vale para os ricos e poderosos, a pena tem que ser abrandada para proporcionar a "recuperação" do condenado. Haja hipocrisia!

Se essa mentalidade não mudar, não haverá Lava Jatos que cheguem.

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