segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Democracia?

Democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim (Millôr Fernandes)


No terreno pantanoso da política, existem alguns poucos conceitos que são tidos e havidos como verdades fundamentais, as quais ninguém discute. Um deles é o conceito de democracia. Desde os regimes mais liberais até os mais fechados, quase todos usam o conceito de democracia ao se referirem a si próprios. 

O exemplo mais atual é o moribundo regime bolivariano da Venezuela, mas há outros exemplos clássicos, como: a extinta República Democrática Alemã (Alemanha Oriental); o Camboja, durante o regime ultra-fechado e sanguinário de Pol Pot, que matou entre 20 e 25% da população cambojana, e que se denominava Camboja Democrático; mas o melhor exemplo dessa distorção é a República Democrática e Popular da Coreia (mais conhecida como Coreia do Norte). Portanto, democracia é um conceito um tanto elástico, que serve a variados propósitos políticos, e em nome do qual se cometem tantos crimes.

Acontece, porém que, independentemente de qualquer distorção, há uma questão fundamenta que jamais é discutida: será a democracia o melhor regime político para toda e qualquer nação?
Não se faz essa pergunta! Quem sequer ousar perguntar será queimado em praça pública como herege. É assumido, como postulado que não precisa de provas,  que a resposta a essa questão só pode ser afirmativa. A democracia seria o regime ideal, excelente, sob o qual todos os povos deveriam viver felizes para sempre e cuja verdade não se discute.

Entretanto, deveríamos discutir desarmadamente. Vamos começar com um exemplo corriqueiro; não é incomum pais dizerem a seus filhos: Isso aqui é uma família, não uma democracia! 
Nada mais verdadeiro. Numa família, em que os filhos sejam menores ou incapazes, não se decidem coisas pelo "voto majoritário", mas pela autoridade de quem cuida dessa prole. 
As empresas também não são um ambiente democrático e os exemplos em que se tentou implantar uma gestão coletiva (como nos países socialistas), foram retumbantes fracassos.

Há ainda um outro exemplo: as organizações militares, que, para serem eficientes, são estruturadas em uma rígida hierarquia, cuja quebra, quando acontece, leva toda a sociedade ao caos. Ainda poderia citar as organizações religiosas, educacionais, mas já basta. O que se vê, em comum a todas essas organizações não-democráticas, é que elas são mais eficientes em cumprir seu papel. E, onde a democracia impera, a situação às vezes beira o caos. Um exemplo claro e recente foi a decisão democrática britânica do Brexit. Ao fim e ao cabo, ninguém está satisfeito e o Reino Unido nem entra, nem sai da União Europeia.

Quase que daí surge uma conclusão: das democracias não se pode esperar eficiência. A democracia é intrinsecamente um regime de confusão. Os objetivos são mudados de tempos em tempos conforme o governante de plantão, não há garantia de continuidade (até pelo contrário) e, ás vezes, fica-se andando para lugar nenhum.

Dito isso, cabe a pergunta: apesar de tudo, será a democracia o melhor regime mesmo? E por quê seria? Respostas, ou melhor, livres elucubrações, no próximo capítulo.



domingo, 20 de janeiro de 2019

Facadas

Não há opção. O Bolsonaro-presidente terá que se desvencilhar do filho problemático, se quiser continuar o papel para o qual foi eleito. No aspecto pessoal, vai ser difícil, pois antes de ser presidente, Jair Bolsonaro é pai. Compreendo e até me solidarizo com ele, nesse momento de dificuldade, mas ele terá que optar por um dos papéis: o de pai de um "garoto problemático" ou o de presidente de uma nação com 200 milhões de pessoas.

Como presidente, terá que entregar o filho às feras. No mínimo, terá que se distanciar dele, até, pelo menos, que esse assunto esteja esclarecido e, se for o caso, demonstrado cabalmente que não houve nenhuma ação ilegal por parte do senador Flávio.

O ideal, agora, seria que o senador renunciasse a qualquer foro especial a que tenha direito, para manter a coerência com o discurso do pai,. E, como quem não deve, não teme, deixar a investigação correr solta na primeira instância e nas mãos da Polícia Federal.

Aí, haverá duas possibilidades: ou Flávio tem mesmo "culpa no cartório" e deve receber a punição prevista na Lei, ou é inocente e então poderá prosseguir na sua carreira política sem esqueletos no armário. Não há terceira via: a de manter-se a salvo do alcance da Lei em virtude de especificidades legais próprias de uma republiqueta de  bananas. Se essa terceira via for trilhada, ao modo de Aécio Neves, Flávio Bolsonaro terminará o serviço que Adélio começou: estará dando uma facada mortal no governo de seu pai.

E, o pior, é que essa facada não atingirá somente o governo, mas toda a nação brasileira, que nele está depositando suas mirradas e calejadas esperanças.

domingo, 6 de janeiro de 2019

João de quem?

A credulidade humana não tem limites. Somos primatas assustados e perplexos diante da complexidade da existência. Não sabemos de onde viemos, por quê viemos, e muito menos para onde vamos, se é que vamos a algum lugar além da sepultura.
No intervalo entre esses dois infinitos, o antes e o depois do Ser, tentamos dar uma explicação e um sentido ao incognoscível. Aí entra o fator credulidade. 

Como não há meio de se conhecer a "realidade em si", criamos, nós mesmos, as mais variadas explicações e hipóteses, todas elas sem o menor embasamento que não seja a fé, ou, melhor dizendo, a crença, ou ainda, a credulidade. 

As pessoas creem em qualquer coisa na qual queiram! Não há necessidade de provas! Quando entra a crença, a razão sai de cena. Não há como discutir com as crenças. É por isso que tanto charlatão surge e obtém sucesso explorando a credulidade alheia, mesmo que o interesse financeiro esteja ululando de obviedade. E, nessa nossa época de relativismo cultural e politicamente correto, não se pode criticar esses charlatães, em nome do respeito às religiões.

Não é de se espantar, portanto, que acabem, por surgir, na esteira dessas atividades "religiosas", várias delinquências, tais como a pedofilia e outros abusos sexuais. A síndrome é a mesma: dinheiro, poder e sexo.

A diferença do mundo profano é que, neste, a troca de uns pelos outros se faz às claras. Todos sabem que comercia-se sexo por poder e/ou por dinheiro. Mas nesse caso, o preço é negociado de antemão e todos os atores sabem do que se trata e, desde que não envolvam menores ou pessoas vulneráveis, não é crime. Em outras palavras, a putaria é mais honesta.

O crime surge inapelavelmente quando entra um quarto elemento: o da exploração da crendice alheia. É a mesma coisa que exploração de vulnerável porque o crédulo nada mais é que isso: uma pessoa em estado de vulnerabilidade. E, além da fé, há sempre a presença de outros fatores que ajudam a desestabilizar psicologicamente essas vítimas: a doença, o sofrimento físico e/ou psicológico, o medo da morte.

Quem frequenta esses ambientes são pessoas em estado de sofrimento e que acreditavam que a fé as salvará. São pessoas que tem fé na fé. Nada mais propício para embotar a razão e jogá-la no porão da psique. Aí entram em cena os variados charlatães, prometendo curas milagrosas, nas quais as vítimas desesperadamente querem acreditar.
E, esse João, autodenominado "de Deus", um grande predador, farejava essas vítimas e sabia como lidar com elas, como encurralá-las e dar o bote final, quer seja o bote para obtenção de dinheiro, quer seja o da satisfação da sua lascívia, o que é mais ou menos a mesma coisa (ver Freud).

Como resolver isso? É preciso antes de mais nada que o Estado deixe de privilegiar entidades religiosas. Tem que tratá-las como qualquer outra organização civil, sujeita à fiscalização de suas atividades, inclusive sob o ponto de vista da segurança pública e, por que não?, sujeita ao pagamento de impostos sobre suas arrecadações. Depois, trata-se de um processo de educação secular, que tanta falta faz no Brasil, um processo educativo que eleve o homem à soberania sobre sua vida, que transmita às crianças e adolescentes a segurança de pensarem com a própria cabeça ao invés de acreditarem em mitos, ou de entregarem seu destino nas mãos de outrem.
Em tal sociedade haverá pouco espaço para Joões de Deus.



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