sábado, 17 de novembro de 2018

Geleia geral

Nos anos 70, o movimento tropicalista lançou o conceito de que vivíamos no Brasil, um ambiente cultural mistureba, ao qual Torquato Neto chamou Geleia Geral (nome de uma de suas composições).

O conceito não era, em si, depreciativo, até porque a Tropicália pretendia ser uma continuação do Modernismo e seu movimento antropofágico. Caetano está para Tarsila do Amaral, assim como Manuel Bandeira está para Tom Zé.

O movimento antropofágico defendia que o Brasil absorveria tudo o que vinha de fora, devorava tudo sem qualquer critério ou distinção, e depois devolvia esse material reciclado e transformado em cultura brasileira. Continuando desse ponto, esse material cultural reciclado seria designado como Geleia Geral.

Essa, a definição por excelência, do que a cultura passou a ser no Brasil: uma geleia geral. Antes disso, predominava a cultura "alienígena". Estudávamos latim no colégio, líamos os "clássicos", falávamos empolado nos salões e nas ocasiões oficiais. Ninguém entendia (menos ainda entende agora) as letras dos nossos hinos. "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante" era a frase-terror dos alunos de análise sintática! Onde está o sujeito? E o objeto direto? Quando não era isso, era Camões!

Pois bem, nos anos 70 passamos a viver as reformas do ensino e, pouco a pouco, a geleia geral foi se introduzindo sorrateiramente no currículo escolar e hoje nos damos conta de que os jovens não precisam ir à escola para aprender coisa alguma. Se forem à escola para absorver essa geleia, é pura perda de tempo e de dinheiro. Eles já vem com ela e, possivelmente, terão mais a transmitir à escola do que a escola a eles. A geleia geral está em toda parte e, principalmente, na internet e nas redes sociais.

Ninguém sabe, nem quer saber, quem foi Camões, mas todos sabem o nome do rapper da hora. Ninguém lê mais de 3 parágrafos, nem tem tempo e paciência nem mesmo para um vídeo de mais de 3 minutos.

De repente, nos perguntamos: isso é bom ou ruim? Como foi que isso aconteceu? O que nos levou a isso e aonde isso nos levará?

Respostas (ou melhor, hipóteses) vejam nos próximos capítulos.

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