quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma desgraça brasileira

Desde a época de D.Pedro II que se sabe ser a região serrana fluminense uma arapuca meteorológica. A Serra do Mar, de beleza ímpar, sobe imponente e íngreme e, por isso mesmo, transforma-se um anteparo natural ao movimento dos ventos e das nuvens, provocando precipitações abundantes e freqüentes, especialmente no verão, uma das razões da exuberância da mata atlântica naquela região. Não é preciso ser meteorologista para saber do regime de chuvas ali. E não é sequer preciso estudar engenharia para saber que a construção de casas nas encostas, especialmente numa região em que chove muito, oferece um risco aos seus moradores.
Como as pessoas insistem em ignorar as leis da física, por vários motivos, ignorância mesmo, ganância especulativa, falta de opção, cedo ou tarde temos que nos deparar com tragédias como essa que está ocorrendo agora. Alguns culpam as mudanças climáticas, mas já em 1966 houve uma tragédia semelhante no Rio. Se quisermos podemos listar várias delas: em Teresópolis, em Petrópolis, em Itaipava, em Nova Friburgo, em Angra e nos morros cariocas. As tragédias são repetitivas e previsíveis, como previsível é a reação das autoridades e dos políticos em geral. Todos com cara compungida, oferecendo condolências, lamentando-se, liberando verbas de emergência e prometendo planos para acabar de vez com esse problema. Depois, as chuvas passam, os mortos são enterrados, vêm o Carnaval e outras coisas a fazer esse povo de memória curta se esquecer, como rapidamente se esquecem também os políticos das promessas feitas, das verbas que não saíram do cofre ou não chegaram ao destino e dos planos que não saíram do papel.
Então,  daí a mais um ano ou dois, ou três,  em Janeiro voltam as chuvas e as tragédias a estampar as páginas dos jornais e tudo se repete num ciclo macabro indefinido. Até quando vamos viver assim como nação? Como povo, temos essa característica estranha de jamais resolvermos nossos problemas. Não resolvemos o problema da seca no nordeste, nem o da fome nas cidades, nem o das drogas, nem o da segurança pública, nem o da desigualdade social, nem o da distribuição de renda, nem o da saúde, nem o da educação, nem o da corrupção policial, nem o da infestação mafiosa da classe política. Vamos convivendo bem ou mal com essas mazelas, aceitando umas, contornando várias, resignando-se com outras, mas não tomamos uma atitude resolutiva. Somos inapelavelmente individualistas, não jogamos em equipe, cada um procura resolver seu problema como pode e dane-se o resto.
É assim que queremos emergir, fazer parte do grupo das nações desenvolvidas? Não vamos conseguir enquanto não mudarmos nossa conduta. Não adianta arranjar culpados, ou atirar pedras nas nações que nos superam. Eles nos superam porque são melhores do que nós. São cidadãos que pensam como tal e lutam por sua comunidade. Eles também tem problemas, mas a diferença entre uma nação desenvolvida e uma estagnada está não na ausência ou presença de problemas , mas na maneira de abordá-los e resolvê-los.

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