A cada intervenção do ministro Joaquim Barbosa, sinto me de alma lavada. Pois ele diz, com todas as vogais e consoantes, o que pensa e o que vê. Não dá a menor bola para os rapapés e maneirismos da corte, mas vai ao cerne da questão.
Precisamos disso. Nesse país estamos cansados de ver e ouvir contorcionismos, eufemismos e mentiras pura e simples para esconder e camuflar a verdade.
Quando então alguém, especialmente um ministro, presidente da Suprema Corte, diz abertamente que um outro ministro (no caso, o min. Lewandowski) está a fazer chicana e que é o que ele realmente está a fazer, muita gente se espanta: "Não! Mesmo que seja verdade, o presidente do STF não pode dizer isso de seu colega!". Pergunto eu: Por que não?
Se o que o ministro Lewandowski fez até agora, em todo o julgamento do Mensalão, foi apenas isso, chicana, por que o presidente da Corte não pode dizê-lo? Até demorou, até teve paciência demais. O ministro Lewandowski parece querer é isso mesmo. Ele provoca e estica e repisa a argumentação de assuntos já decididos e ultrapassados, usa um palavrório sem sentido, chegando até a ler em plenário recortes de jornais. O que ele quer com isso? Estender o julgamento até onde for possível, para ver se a prescrição alcança os réus? Parece que sim. E se não é isso, qual é então o seu eu objetivo?
Lewandowski é conhecido como o ministro da dona Marisa, pois, dizem que foi ela quem interveio junto ao Lula pela nomeação do filho de uma amiga sua. Bem, ministro Lewandowski, a gratidão é uma virtude, mas não precisava exagerar tanto!
Finalmente alguém piscou. Todos sabemos, ou melhor suspeitamos, das tramoias, maracutaias e negociatas que se fazem pelo país afora, nos negócios públicos, naqueles negócios que envolvem o nosso dinheiro administrado pelo governo. Em qualquer obra de qualquer prefeitura do interior sabemos, suspeitamos, imaginamos a formação de cartéis, os superfaturamentos e os propinodutos abertos desviando o dinheiro dos cofres públicos para os bolsos dos nossos "honrados" políticos.
Isso ocorre, pelo menos, desde os governos militares, nas rodovias Norte-Sul, na Transamazônica, em Itaipu e Ponte Rio-Niterói, etc. Está ainda entre nós, um senador da República que bem serviu aos militares e sabe bem dessas tramoias. Se quisesse podia contar muita coisa o Sr. José Sarney.
Agora, finalmente alguém piscou. A empresa alemã Siemens se dispôs a confessar o que sabe desse submundo, desse elegante e rico crime organizado. Tomara que conte tudo, diga toda a verdade porque esse país está farto de ser roubado, pelo PT, pelo PSDB, ou por qualquer outro P. Quantas pessoas perderam a vida, assassinadas ou porque deixaram de ter atendimento médico decente, por causa da leniência e incompetência dos governos, do crime organizado impune, da corrupção policial! Quantas crianças foram abandonadas pelo sistema à própria sorte, vivendo nas ruas de esmolas e de pequenos, médios e grandes delitos, sem escola, sem futuro, condenadas, mais cedo ou mais tarde, ao crime e/ou ao crack! Quantas mortes e quantos deficientes foram produzidos nas rodovias por falta de manutenção e de sinalização adequadas! Quanto já se gastou no SUS, na recuperação de pessoas acidentadas, no pagamento de pensões por invalidez.
Quanto dinheiro público já foi desperdiçado nas obras superfaturadas, nas execuções fajutas, nas medições fraudadas, nos pagamentos por serviços não executados!
Esse crime continuado contra o Brasil nunca foi devidamente investigado ou esclarecido e, pior, mesmo nos poucos casos em que um funcionário público recebeu alguma punição, nunca se viu um corruptor no banco dos réus, exceto recentemente no caso do mensalão e da Delta, mas nem o Cachoeira está preso, nem os corruptores banqueiros do mensalão estão. Talvez nunca estejam.
Esse caso da Siemens, que confessou a culpa, não pode ficar impune, mesmo que ela tenha feito um acordo, porque o acordo vale para esse caso, mas não há de se estender a todos os outros, nem as demais participantes podem se livrar disso impunemente. O povo já saiu as ruas, já disse que não quer mais aturar esse comportamento. Se for necessário voltaremos às ruas e dessa vez é para invadirmos os palácios, sim, e retirar deles, a tapa, aqueles venais, aqueles bandidos, que nos traem todos os dias.
Façamos de conta que vivemos em um país sério. Uma revista de grande circulação, talvez a de maior tiragem do país, faz uma denúncia, não contra um João-Ninguém, mas contra, nem mais nem menos, um Ministro da Suprema Corte, vice-presidente dessa Corte, e que será o próximo presidente pelo sistema de rodízio adotado por ela.
Dirão alguns críticos que essa revista é de direita, como se isso a desqualificasse de fazer reportagens ou denúncias. Precisamos, sim, numa democracia, de veículos e formadores de opinião de todas as tendências e correntes, portanto, perfeitamente legítimo que um órgão da mídioa, sejua de direita, de esquerda ou de centro.
Voltando ao tema: a revista faz uma denúncia que, se comprovada, vai manchar totalmente a reputação de um dos supremos juízes do país. Se comprovada, esse juiz teria que ser afastado de suas funções e receber a punição legal compatível com o tamanho da falta de decoro de sua atitude. Menos que isso é a desmoralização de todo um sistema.
Portanto, depois da denúncia o que os agentes do Estado tem que fazer? Não resta outra coisa: apurar!
Se a denúncia não for comprovada, que se aja contra a revista e que ela receba a justa reprimenda pelo mal que terá causado à reputação de uma pessoa idônea. Caso contrário, a ação tem que ser contra esse juiz que exorbitou de suas funções e agiu contra o interesse do Estado e traiu o povo.
Isso tudo seria válido se fôssemos um país sério. Se não for levada adiante a apuração desses fatos e as consequências não se fizerem sentir, então podemos jogar a toalha de uma vez e dizer: o último que sair apague a luz do aeroporto!