quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tempestade Perfeita

Delfim Neto pode ser qualquer coisa, menos burro. E também nunca foi de sensacionalismos em suas análises. Serviu à ditadura por longos anos, foi o czar da economia, comandou o "milagre brasileiro" dos anos 70, que depois se revelou ter suas falhas estruturais (a inflação nunca foi controlada, muito dinheiro foi desperdiçado, além da corrupção institucionalizada e da promiscuidade entre o Estado e empreiteiras), mas o fato é que o Brasil chegou a crescer até 11% ao ano.
Foi Delfim quem profetizou que a melhor maneira de acabar com o PT seria deixá-lo chegar ao poder. Profecia cumprida.
Agora, vem ele com outra previsão do futuro. Segundo o ex-ministro estamos nos aproximando da "tempestade perfeita", um cataclisma econômico para ninguém botar defeito.
Esse cataclisma seria desencadeado por alguns fatores convergentes: o fim dos incentivos monetários nos Estados Unidos em março de 2014 conjugados aqui com uma instabilidade cambial, juros altos, inflação fora do controle, despesas públicas elevadas, deficit fiscal primário de 10,8 bilhões, deficit nas contas de comércio exterior, dívida bruta de 2,7 trilhões (59 % do PIB) e o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco.
Eis o que diz Delfim: "Violações da ordem fiscal vão se acumulando, sem consequências aparentes no curto prazo. Mas a história e a análise teórica ensinam que, em algum momento, provavelmente em tempo superior ao mandato do poder incumbente, elas geram uma "emergência" que explode num desequilíbrio fiscal, inflacionário e cambial simultâneo, que reduz a pó a economia nacional. Todo brasileiro com mais de 20 anos já assistiu em branco e preto a tragédias como essa."

Com uma tempestade dessas se delineando no horizonte, não importa se somos viajantes de primeira classe, executiva ou econômica, se não mudarmos de rumo rapidamente, a aeronave vai sacolejar feio para todo mundo. Delfim termina seu artigo alertando:

"Se isso [a tempestade] ocorrer, teremos uma rápida elevação da taxa de juros no mundo, uma mudança dos fluxos de capitais, um ajuste instantâneo e profundo da nossa taxa de câmbio, uma redução do crédito bancário, uma queda dramática da renda real dos trabalhadores e a volta - em legítima defesa - de taxas de juros reais aos absurdos níveis com que vivemos durante tantos anos, acompanhados por um aumento do desemprego. Isso sim -- e não fantasia política - poderá comprometer a confortável posição atual da presidente Dilma Rousseff no processo eleitoral."

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O plano "secreto"

Era uma vez um país não muito distante onde um partido se aboletou no poder. Esse partido enganou muita gente. Dizia ser contra a corrupção, o coronelismo, o nepotismo, a política de compadrio, o fisiologismo, os conchavos, a privatização do Estado, etc. 
Mal acabou de chegar lá esse partido começou a operar o seu plano secreto. E qual era esse plano? Nunca mais devolver o poder, ficar nele para sempre ou pelo menos o maior tempo possível. Décadas, se não puder ser séculos. Para isso foi necessário fingir aceitar a via democrática, como um meio de conquistar essa posição e depois começar o trabalho de destruição dessa mesma democracia. Afinal, democracia implica em alternância, o que não interessa a esse projeto.
Esse partido, dominando as instituições, começou por aliciar aqueles que antes eram apresentados como inimigos, porque sabia como aliciá-los. Todos eram venais e o partido passou então a comprá-los, um a um, para formar a tal base aliada, que nada mais é que o controle do parlamento, do poder legislativo. Claro que nesse processo muita ilegalidade teve que ser cometida, portanto era necessário ter contatos no submundo empresarial. Um publicitário e um banco voraz foram os mecanismos encontrados para criar um sistema de desvio de dinheiro público sob a aparência de contratos legais. O publicitário simulava negócios com empresas públicas, como a Petrobrás e o Bnaco do Brasil, e o dinheiro ia parar em vários bolsos, entre eles o de vários membros do partido vermelho, porque afinal ninguém é de ferro.
Comprada a base aliada, com dinheiro ou com cargos (que significam dinheiro) ficava fácil mudar as leis de modo tal que aos poucos fosse sendo garantido ao partido a sua permanência no poder. Em paralelo, o Judiciário foi também sendo colocado sob o mesmo jugo. Em 10 anos de governo, nomearam 8 juízes do Supremo em um total de 11. Mesmo que alguns, como o ministro Joaquim Barbosa e o ministro Fux, demonstrem total independência em suas decisões, há exemplos de outros que se revelam submissos aos desejos do chefe do Executivo! 
Dominados os 3 poderes o que resta fazer para se implantar uma ditadura no Brasil? Resta submeter o quarto poder, os militares! Digam o que disserem, a Comissão da Verdade não deixa de ser uma tentativa de intimidação aos quartéis. A imprensa, quando não puder ser dominada pelo aliciamento (rede Globo por exemplo) e pela simples compra via publicidade oficial, será eventualmente silenciada pelo "controle" social da mídia, um eufemismo ao estilo marxista chinês para censura pura e simples. Já tentaram também amordaçar o Ministério Público.
Luiz Felipe Pondé publica hoje  uma crônica  muito boa mostrando as garras e dentes desse projeto totalitário dentro das universidades brasileiras, especialmente na área de ciências sociais. Vejam aqui.

sábado, 2 de novembro de 2013

Mau humor

É paradoxal verificar, em tempos politicamente corretos, surgirem esses "humoristas" barra-pesada, tais como Danilo Gentili e Rafinha Bastos, que extrapolam todas as fronteiras do bom gosto e do respeito à sensibilidade das pessoas. Não defendo o "politicamente correto" até porque o acho,  além de chatíssimo, muito hipócrita. 
Portanto uma das funções do humorista, como crítico de costumes, seria denunciar esse politicamente correto quebrando os paradigmas. É isso o que um bom humorista sempre fez. Mas há um limite, além do qual o humor se transforma em agressão e aí já não deveria ter o apoio da sociedade. Passar desse ponto é o que um bom humorista jamais faria. Estabelecer qual é o ponto certo, qual é a dose correta de iconoclastia é o trabalho de um artista, o que, supostamente, os humoristas são. Entretanto para o bem e para o mal, a democratização da mídia hoje proporciona a qualquer um se intitular artista e, em especial, humorista. O "Youtube" está cheio de vídeos de gente que pensa que fazer arte e humor é gravar e publicar aquele monte de baboseiras que se postam por lá.
Reconheço também que, diante do esforço que os politicos fazem para encarnarem os papéis mais ridículos, fica difícil para um humorista se sobressair. Mas não precisavam apelar assim. Primeiro, o Rafinha Bastos veio com aquela "piada" sobre o estupro e agora o tal de Danilo Gentili nos brinda com um escracho, em termos bastante baixos, sobre a maior doadora de leite do Brasil.
E pensar que o humor no Brasil já foi representado por Millôr, Péricles, Chico Anísio, Manoel da Nóbrega, José Vasconcelos, Paulo Gracindo, Juca Chaves, Grande Otelo, Oscarito e outros. Nem mesmo a causticidade de uma Dercy Gonçalves chegou a tanto. Dercy era desbocada e sem papas na língua, mas não me lembro de tê-la visto calcar o humor sobre ofensas e desrespeito ao outro.
É claro que defendo o direito de livre expressão desses "humoristas", até mesmo para todo esse "humor" de baixo calão. Não é essa a questão. A questão é que, do mesmo modo que eles podem falar o que quiserem, a parcela da sociedade que se sente agredida por eles também pode. E deve!
Demonstrar o repúdio e não dar publicidade a esse mau humor é a melhor maneira de fazê-lo recolher-se ao seu nicho no submundo de onde nunca devia ter saído.

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