terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O grande risco

Estive em Auschwitz. Impossível descrever a sensação de estar dentro de um local que era uma fábrica de matar seres humanos. A começar da ironia em seu portão de entrada, onde está escrito: "Arbeit macht frei", o trabalho liberta.
O mais intrigante para um visitante como eu, sem história pessoal ligada ao Holocausto, é tentar entender como uma sociedade sofisticada e culta, como a alemã, se permitiu regredir a essa barbárie selvagem não aceitável nem mesmo entre os povos mais primitivos.
A consciência de que o nazismo aconteceu no seio da Europa nos leva a duvidar dessa pretensa civilização que achamos que temos. O desencanto acabou com o idealismo burguês do século XIX e início do século XX. Não à toa, desembocamos na sociedade pós-moderna com seu cinismo, sua descrença e sua depressão. O homem "civilizado", que já não acreditava em Deus, passou a não acreditar em si mesmo.
O escritor Uwe Timm, em seu excelente livro "À sombra do meu irmão", compartilha conosco dessa perplexidade. A pergunta-constatação que se faz é que se nem a cultura, nem a erudição, nem as artes, nada pôde deter o avanço da barbárie, como é que estaremos a salvo no futuro? O que seria um antídoto suficientemente seguro contra o renascimento da selvageria humana?
Há tentativas de explicações para o nazismo que falam de uma situação de humilhação dos alemães, de problemas econômicos graves, de penúria, de falta de perspectiva. Mas não se pode aceitar isso como razão suficiente para essa regressão.
O temor permanente é que a chamada civilização, como diz Jung, seja apenas um verniz sobre uma camada selvagem e brutal que pode irromper a qualquer momento, sob a mínima pressão externa. Estudos modernos sobre o comportamento dos nossos parentes próximos, os chipanzés, reforçam essa idéia. O homem é um mamífero extremamente violento. O canibalismo, o assassinato de filhotes, a disputa das fêmeas sob o tacão brutal do macho dominante, tudo isso é encontrado também entre esses "primos". 
Se é assim, precisamos de medidas de contenção eficazes, e que não dependam da vontade do governante de plantão. A começar pela extinção dos focos violentos onde quer que surjam.
Do mesmo modo que não de pode, nem se deve, aceitar o desenvolvimento de sociedades neo-nazistas em nosso meio, não podemos aceitar a existência de organizações como o Estado Islâmico. O ocidente tem que se mobilizar e apoiar as ações que visem a contenção dessas ideologias fanáticas e regressivas, onde quer que se encontrem. Todo esforço ainda será pouco. Isso é mais urgente que salvar o planeta de uma suposta catástrofe ambiental.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Santa Dilma das Bondades

Depois de privatizar o Estado, o governo petista agora está terceirizando o governo. 
Quem foi eleita foi a Dilma das Bondades. A Dilma, que não iria mexer nos direitos trabalhistas, que não ia aumentar nem os juros, nem os impostos, que iria investir na educação, que garantiria a manutenção do preço da energia elétrica, que isso, que aquilo, não é a mesma que chefia o atual governo.
Quem está governando não é a mesma pessoa. Quem governa é a Rainha Má, a Dilma das Maldades, aquela que provavelmente, tal como a Marilena Chauí, tem ódio da classe média.
Pois é em cima da classe média que ela está descascando o pau. Depois de dificultar a obtenção do seguro-desemprego, agora se recusa a corrigir a tabela do imposto de renda, em um cenário de inflação oficial de 6,7% crescente e inflação real de mais de 15% e já começando a ficar fora do controle. E quem é que paga imposto de renda nesse país como pessoa física, recolhido na fonte, sem possibilidade de choro ou de vela? Se não é a classe média assalariada, eu não sei quem mais poderia ser: talvez os banqueiros, os políticos? Parece piada de mau gosto. Exatamente quando o desemprego começa a aumentar, a Rainha Má, depois de dar boas gargalhadas no seu palácio, vai visitar o cupincha Evo Morales na posse do terceiro mandato (essa gente não larga o osso jamais!).

O governo parece que foi repartido entre diversos terceirizados: a Economia, nas mãos do neoliberal Joaquim Levy; a Política, nas mãos e no bigode do Mercadante; a Cultura nos lábios e na lábia do Pablo Capilé, quero dizer Juca Ferreira. E por aí vamos. Como na atual administração pública brasileira ninguém sabe de nada, ninguém vê nada, tanto faz, como tanto fez.  Quem estiver lá não vai saber de nada mesmo. Depois, joga-se a responsabilidade nas costas de uma conjuntura internacional adversa qualquer, mente-se mais um pouco para o povo ignorante e estaremos daqui a  pouco repetindo o gesto de Evo Morales, dando o terceiro mandato ao Exu de Garanhuns. Merecemos!




domingo, 18 de janeiro de 2015

Passou da conta

Em economia não dá para enganar por muito tempo. É uma questão matemática. A equação tem que fechar. Mas dona Dilma parece acreditar em suas próprias fantasias. Ou ela pensa que a realidade obedecerá à sua vontade. Simples assim. Só que que a realidade não está nem aí para o pensamento capenga dessa senhora. Por isso quem votou nela estranhou a guinada "neoliberal". Mas não é nada disso. Não há guinada alguma. Dilma busca apenas algum fôlego e ainda não compreendeu que o buraco em que elas nos colocou não se resolverá só restabelecendo a "credibilidade" do mercado. Maquiagens e contabilidades criativas não serão mais suficientes para esconder que a bomba está armada e pronta para estourar ainda em 2015, com consequências que se estenderão por muitos anos.
Senão, vejamos: um ministro do Tribunal de Contas, relator das contas da Dilma de 2013, informa que as contas são um descalabro total. As contas públicas escondem um rombo de 2,3 trilhões de reais!!! Vou repetir: 2,3 TRILHÕES!!!
Sabem o que é esse valor? Representa a metade do PIB brasileiro! Ou seja, o governo está tentando esconder da nação que operou com um deficit equivalente à metade do PIB do país em 2013! Que gastou tudo o que se produziu de riqueza no país em um ano e ainda ficou devendo a metade do ano seguinte. E por enquanto não se fala de 2014, ano em que se gastou muito mais, com a Copa e com as eleições.
O TCU, cumprindo a sua função, enviou as contas ao Congresso propondo a sua rejeição, mas o Congresso simplesmente não as examinou até agora. O Sr. Renan Calheiros está sentado em cima da papelada e não as leva à apreciação das casas legislativas. Com isso as contas não são rejeitadas (por que não tem mesmo como ser aprovadas!)  e dona Dilma não sofre um processo de impeachment for irresponsabilidade fiscal. Simples assim. Basta não examinar, não ver.
Aliás, o mesmo ministro informa que nenhuma das contas dos governos Lula e Dilma foram até hoje examinadas e votadas pelo Congresso! Ou seja, para quê serve um Congresso que não cumpre sua principal função, que é a de fiscalizar o governo? Pois agora não dá mais. O rombo foi grande demais para continuar escondido ou maquiado. Vamos ter que enfrentar essa realidade, gostemos ou não, queiramos ou não, tenhamos votado na Anta ou não. E já sabemos quem será o alvo preferencial no qual vai cair o encargo de pagar essa conta. Não serão os bancos, nem as empreiteiras.

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