sexta-feira, 10 de março de 2017

Empresas que doam

No afã de defender, por antecipação, os seus amigos do PSDB, o ministro Gilmar Mendes acaba de fazer mais uma declaração desastrada e desairosa para o Supremo Tribunal, que já anda tão desacreditado.
Disse ele que "caixa 2 deve ser desmitificado" e que seria "uma opção da empresa que faz a doação".
Um ministro do tribunal mais elevado do país dizer que um ato ilícito e ilegal deva ser desmitificado, seria um absurdo inconcebível, fosse o Brasil um país decente e normal. Só não é absurdo e, talvez, ninguém se espante, porque o Brasil não é um país normal, nem decente.

Na semana passada, Roberto Pompeu de Toledo, relembrou um poema de Carlos Vogt, "Identidade Nacional", que repito abaixo: 
"Terra de contrastes, como sempre, tudo é igual a si e a seu contrário, o temporário segue permanente e o permanente permanece temporário".
É uma bela definição desse país estranho, virado de cabeça para baixo, no hemisfério sul. 

Quer dizer então, senhor ministro, que caixa 2 é "normal"? Então as empresas, não me refiro àquelas bafejadas com contratos milionários nas estatais, refiro-me às outras, as que pagam impostos, taxas, emolumentos, contribuições e outros quejandos; quer dizer então que essas podem também escolher? Se não quiserem pagar essas taxas, impostos, emolumentos, contribuições e que tais, elas podem optar pelo caixa 2 e deixar de contabilizar seus ganhos?
Que bela notícia seria, se fosse verdade; mas não é.

O ministro não está estendendo seu raciocínio a todo gerador de riqueza nesse país, não. Ele só se refere às empresas que doam, não às empresas que doem. As que doam são inocentes de qualquer coisa, por princípio. Elas podem optar, podem escolher se querem doar no caixa 1 ou caixa 2. Afinal, se doam para quem pode perder as eleições, melhor doar no caixa 2, escondido de tudo e de todos. E como a escolha é delas, o pobre coitado do humilde e inocente político que apenas recebe a doação, não pode ser responsabilizado pela escolha que o outro fez. Assim, está resolvido! Quem doou, doou e pronto! Doa a quem doer! Ou melhor, doe a quem doar.

sexta-feira, 3 de março de 2017

O ser humano

Há momentos em que se chega a concordar com os filósofos pessimistas, como Schopenhauer, que não acreditam no ser humano. Nossa espécie é dentre todas, a que mais males causa si mesma e às demais. Nós nos agredimos o tempo inteiro, impomos a nós mesmos e aos nossos semelhantes, sofrimentos absolutamente sem sentido e desnecessários e, basta o controle social afrouxar um pouco, transformamo-nos em bárbaros selvagens. 

Em nome de um deus qualquer, mutilamos, decapitamos, queimamos na fogueira, tal como fez a Igreja na Idade Média ou faz hoje o Estado Islâmico. Em nome de uma filosofia qualquer, mandamos milhares aos fornos crematórios, submetemos crianças a experimentos "científicos", segregamos famílias e amigos, como se fez e ainda se faz no tráfico de escravos, ou nos regimes salvacionistas do nazismo e do comunismo.

Em escala menor, mais próxima de nós, acontece um fenômeno assustador que confirma todo esse pessimismo:o ex-goleiro Bruno, condenado pelo assassinado brutal de sua amante, foi recebido como celebridade em Sete Lagoas, depois de sua libertação. Mulheres se aglomeraram na porta da delegacia, ansiosas por tirar "selfies" com ele! O que é isso? Que fenômeno é esse? Francamente, não consigo entender.

Outro absurdo é o massacre de macacos por populações assustadas com a febre amarela. Não só estão perseguindo e matando macacos perfeitamente sadios, como ainda os submetem a rituais de tortura! Isso é demais! A polícia militar está sendo obrigada a intervir para tentar impedir esses crimes hediondos. A invés de se revoltar contra os políticos que fizeram com que a saúde pública nesse país chegasse a esse ponto, essas populações atacam quem nada tem a ver com a história.

Meu pai, que era um outro pessimista, nunca acreditou na espécie humana, com exceção de um ou outro indivíduo. Dizia ele que o ser humano é um projeto fracassado; que, se Deus existisse (ele era ateu) devia ter muita vergonha de sua obra. Eu, que sou um incorrigível otimista, nessas horas chego a concordar com ele.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Juiz de merda

O ministro José Celso de Melo não falha. Como o ex-ministro da Justiça, Saulo Ramos, deixou bem claro em seu excelente livro "O Código da Vida", na hora em que o calo aperta, Melo pula para o lado dominante. Foi por causa da pusilanimidade de Celso de Melo, que Saulo Ramos o chamou, como cita nesse livro (páginas 205 a 207), de "juiz de merda".

Um exemplo: no caso Renan Calheiros, partiu dele a engenhosa solução "salomônica" de fatiar a decisão mantendo Renan no cargo, mas retirando-o da linha sucessória à presidência.
Agora, no caso Moreira Franco, ele conclui (contra o fatiamento) que Angorá deve ser mantido não só no cargo, mas também com o direito ao foro privilegiado. Em outras palavras, resolveu mantê-lo com o escudo protetor do próprio Supremo, que não julga ninguém, e muito menos condena.

Nunca tivemos uma Suprema Corte de tão baixo nível. É um tribunal que decide com vários pesos e várias medidas, dependendo da situação e "cui bono" (a quem beneficia).

A cada decisão, o Supremo desce mais um degrau no respeito da opinião pública. Com a nomeação, praticamente certa, de Alexandre de Moraes, o nível dessa Corte já está abaixo da linha da cintura. E, se existe algo, que por si só, contribua para a desestabilização do sistema é essa desmoralização do mais elevado tribunal do país. Na hora em que já não se confia na Justiça, acabou a democracia, acabou o Estado de Direito. E a autoridade da Justiça é baseada absolutamente na confiança. O poder Judiciário não comanda forças armadas, nem nomeia para cargos. Sua força e sua autoridade reside na aceitação tácita que as pessoas que o integram e que vão julgar e decidir, são pessoas isentas, imparciais e de conduta inatacável. Sem isso, acabou o sistema.

Os agentes públicos no Brasil estão dançando na beira do abismo! Ora são os parlamentares tentando atropelar a Lava Jato e querendo promover uma auto-anistia absolutamente imoral, e sendo estimulados e apoiados pelo poder executivo nesse intento. Ora, é o presidente da República nomeando suspeitos de corrupção para cargos blindados. E quando se recorre à Justiça é esse vexame, como se viu agora com a decisão infeliz do ministro Celso de Melo.

Definitivamente, o país não pode continuar a depender de juízes de merda. Merecemos coisa melhor.


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