quarta-feira, 5 de abril de 2017

De atores e goleiros

Tem gente que vai dizer que é um exagero comparar o ator José Mayer com o goleiro Bruno. Realmente, um assassinato não pode ser colocado em pé de igualdade com um assédio físico. Mas o que separa as duas atitudes é só uma questão de grau.

No pano de fundo dos dois casos reside uma causa comum: o sentimento, ou a pretensão de domínio do outro. Seja um assédio verbal, seja uma agressão física, seja um estupro, seja um homicídio, tudo isso representa apenas fases subsequentes em uma mesma escalada de violência. Obviamente, nem todo mundo que assedia verbalmente, vai partir para a agressão física, mas, se não o faz, não é por falta de motivação,  e sim por medo da represália.

No caso dos que são, ou se sentem poderosos, o medo da represália, ou das consequências, é menor, especialmente em um país desigual como o Brasil. Já desde a colônia, as escravas (e também os escravos) eram assediados pelos seus donos (e donas) sem contemplação, e até mesmo sem culpa. Naqueles casos, simplesmente, o assediador era, literalmente dono do corpo do outro, portando o assédio, natural.

A escravidão acabou, mas a mentalidade no Brasil, não. As pessoas que tem mais poder, ainda se julgam, em maior ou menor grau, donas das que não tem esse poder. Nas residências de classe média, sabe-se como são tratadas muitas das empregadas domésticas. O abuso continua, inclusive o abuso sexual mesmo. Só que nada disso vem à tona, porque as vítimas não tem voz na sociedade.

Nas empresas, (está aí o exemplo da Rede Globo) o padrão se repete. Quem tem poder se julga no direito de invadir o espaço alheio, de exigir do outro um comportamento que satisfaça-lhes os instintos e as vontades. No caso da Globo, isso já era público e notório. As pessoas, atores e atrizes, se referiam ao famoso "teste do sofá" para serem admitidos e/ou escalados, para essa ou aquela novela.
Daniel Filho e Dennis Carvalho foram nomes apontados no passado como grandes assediadores e nunca se viu nenhuma atitude da empresa no sentido de coibir esse comportamento.

Será que a Globo mudou? Ou foi a sociedade que passou a exigir mais respeito? Tenho certeza que foi o segundo caso. A nossa sociedade está cansada. Cansada de não ter voz, de não ser ouvida, de ser abusada de todas as maneiras e sempre tudo ficar por isso mesmo. A sociedade está dizendo NÃO a todas as formas de abuso, a começar pelo abuso que essa classe política comete contra nós todos os dias, mas passando também por esse comportamento até então tolerado no nosso dia-a-dia. Chega! Quem quer respeito, tem que respeitar. O direito do outro é o limite para a liberdade de cada um de nós.

sexta-feira, 31 de março de 2017

País tropical abandonado por Deus

A exemplar condenação de Eduardo Cunha deveria ser um alívio para nós cidadãos submetidos a esse horror que se chama gestão pública. Só não é porque, ao mesmo tempo, 5 Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio foram presos em mais uma operação da Lava Jato. Na verdade e prisão deles também nos alivia. O que não alivia é saber, constatar, que estamos entregues às baratas, ou melhor, às raposas espertas, como diz hoje o editorial do Estadão ("De raposas e galinheiros").
Chega-se à conclusão de que não adianta criar órgãos de controle. Esse modelo de Estado que temos é incontrolável. O que devemos fazer é reduzir o Estado ao mínimo para que possa funcionar com eficiência e até seja mais fácil de ser fiscalizado. Mas isso é uma utopia longe de se ver realizada. Quem faria isso? Como? Com que meios? Da classe política, sabemos que não se pode esperar nada. Isso seria uma revolução nos padrões brasileiros, talvez a primeira verdadeira revolução da nossa história. Mas revoluções se fazem pela força e com a força.
Ninguém, que esteja no poder ou usufruindo dele, cede de graça e de mão beijada seus privilégios e seu lugar. Tem que ser retirado à força, como aconteceu na Revolução Francesa ou na Revolução Bolchevista de 1917. No nosso caso, não temos uma população apta a fazer revoluções. Apesar de todo o sofrimento, apesar da miséria e do abandono, nosso povo não se revolta. Ou porque não sabe como se revoltar, ou porque já está acostumado com o estado em que vive, ou porque é ignorante demais para compreender a realidade a que está sendo submetido, ou - pior - porque acredita nos discursos messiânicos de uma esquerda que lhes prometeu o paraíso e lhes entregou ao purgatório e ao inferno. 
O abuso, a que estamos submetidos, vem de longa data, mas agora escancarou-se de um modo que não pode ser escamoteado. Está, todos os dias, sendo esfregado na nossa cara. O que fazer então?
No próximo ano haverá eleições! Será que reconduziremos, à chefia do galinheiro, figuras escabrosas como Renan Calheiros (até rima), Fernando Collor, membros da família Sarney, Romeros Jucás, Geddéis Vieiras Limas, e outros iguais ou piores? Tudo é possível nesse país tropical, abandonado por Deus.

terça-feira, 28 de março de 2017

Malandragens

De vez em quando eu me pergunto: por que é que, nós brasileiros, somos tão incompetentes em estabelecer uma sociedade e um país digno, funcional e eficiente? Outros povos conseguiram.

Há mazelas que são universais, como o egoísmo, a corrupção, a sede desenfreada de poder, entretanto alguns povos conseguiram a façanha de confinar essas mazelas em limites civilizadamente aceitáveis. Outros, como o Brasil, parecem carecer de algo em sua constituição que faz com que essas mazelas não sejam somente toleradas, mas até mesmo estimuladas devido ao sucesso que certos indivíduos têm ao exercê-las em proveito próprio.

Ninguém, em lugar algum do mundo, conseguiu estancar a corrupção e a desonestidade, mas países como a Islândia ou Suécia ou a Finlândia, conseguem mantê-las em um nível que para nós seria considerado impossível. Lá, a probabilidade de alguém achar uma carteira com dinheiro em um Shopping e entregá-la intacta na seção de Achados e Perdidos é altíssima. Sendo assim, um cidadão comum, será assim também a classe política que o representa.

O que é que nos faz diferentes e em um nível tão baixo? Antropólogos, sociólogos, psicólogos e afins terão muitas respostas para isso. A Academia está cheia delas, mas nenhuma me convence, principalmente a que apela para a "exploração dos oprimidos" como uma justificativa para o "caráter" nacional. Para mim, essa é uma resposta religiosa, pois contém muito da culpa cristã embutida e disfarçada dentro dela. Essa mesma culpa, entretanto, é que mantém o "status quo", pois justifica e "perdoa" o erro, ao invés de corrigí-lo. Onde há culpa, acaba havendo uma desculpa. Em outras palavras, culpa e desculpa são as duas faces da mesma moeda.

A malandragem brasileira, tão cantada em verso e prosa, nos levou a essa sociedade desigual, injusta, desequilibrada e cruel. Essa malandragem chegou lá, ao poder, aos píncaros e só fez destruir o que havia ainda de bom e decente no país. Os malandros estão lá em Brasília, rindo da nossa cara. 

Está difícil tirá-los de lá. Agora, só nos resta uma esperança: no próximo ano haverá eleições. Será que os malandros bocós de cá, vão reeleger os mesmos malandros espertalhões de lá?



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