terça-feira, 17 de maio de 2011

A República assaltada.

O novo caso Palocci merece uma atenção detalhada. A degradação da função pública chegou a tal ponto que nem sequer causa espanto saber que o ministro-chefe da Casa Civil e ex-ministro da Fazenda, defenestrado por outro escândalo e acusado de violação de sigilo bancário, agora apresenta-se à nação como proprietário de um patrimônio que simplesmente cresceu 20 vezes no interregno entre um ministério e outro. Nada contra o enriquecimento. O problema, nesse caso é que é difícil explicar como esse surto de capacidade financeira acometeu Palocci só nos últimos 4 anos e, ainda mais, porque então ele deixou essa consultoria tão fantástica para voltar ao ministério e ganhar um salário de 11 mil reais por mês? Haja vontade de "servir" à nação.
O pior é que as instituições sequer fingem que estão cumprindo seu papel. Não se pode esperar nada do Congresso, mas uma Comissão de Ética Pública da Presidência da República dar o seu aval à varrição para baixo do tapete é demais. O presidente dessa comissão, Sepúlveda Pertence, simplesmente declarou: " Não nos cabe indagar a origem das fortunas dos pobres (?) e dos ricos que chegam a ministro de estado". É patético. Cabe então a nós, povo, indagar: Para quê serve então essa comissão de ética?
Apesar de, para o governo, tudo parecer "normal" e as instituições da República simplesmente ignorarem o assunto, Palocci deve-nos uma explicação. Não adianta desviar a atenção para a legalidade ou ilegalidade de manter uma empresa de consultoria enquanto atuava na campanha da Dilma. Isso é só uma cortina de fumaça. O que se deveria dizer ao povo brasileiro é como ganhou essa dinheirama em apenas quatro anos, que tipo de consultoria prestou e a quem.
Se não, cada vez mais fica exposta a fragilidade das nossas instituições. De quê adianta só cumprir esses rituais hipócritas de declarar patrimônio à Justiça Eleitoral, etc.? De quê adiantam leis e dispositivos constitucionais como o artigo 54 que veda aos deputados a prestação de serviços às empresas públicas e concessionárias? Sempre há uma brecha legal e, para orientar quanto a isso, estão ganhando rios de dinheiro os escritórios de advocacia, com nomes muitas vezes também egressos de funções públicas. Ou seja, é uma suruba total.
Enquanto isso a população ignara segue indiferente sem saber que o pão que lhes falta à mesa, a escola e o hospital que não têm para os filhos, a droga (em todos os sentidos) que lhes é oferecida, tudo isso é consequência desse assalto que algumas classes fizeram do estado brasileiro.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A função pública degradada

Exercer uma função pública deveria causar nas pessoas um certo temor, uma certa apreensão, de não estar à altura, de não ser capaz de exercê-la com a proficiência necessária, de não ter a coragem cívica suficiente para afrontar os inimigos da coletividade. Candidatar-se a uma função pública deveria exigir do cidadão, mais que uma ficha limpa, um exame de consciência, uma avaliação sincera de suas potencialidades e das exigências do cargo, uma auto-análise que revelasse as verdadeiras intenções por trás de tal objetivo. Deveriam os candidatos despir-se primeiro de sua mesquinhez, de seus interesses pessoais, mesmo que legítimos, para dedicar-se de corpo e alma aos interesses da comunidade que os elegeria. Ou seja, é um sacerdócio. A função pública deveria revestir-se do caráter de um dever sagrado e com tal circunspecção deveria ser exercida. 
Não é à toa que os romanos vestiam-se de branco como sinal de pureza quando candidatos a uma função pública. Decorre daí a palavra "candidatus" derivada de "candidus" (branco, limpo). Hoje em dia ninguém é mais cândido. O que vemos é uma profusão de velhacos, espertos, safados, canalhas, torpes, mesquinhos, venais, egoístas, interesseiros, querendo, almejando, salivando de vontade de por a mão no butim do erário.
Novamente os romanos: entre eles o "Aerarium", o tesouro público de Roma, era tão sagrado que ficava guardado no templo de Saturno, junto com os estandartes das legiões e os decretos do Senado gravados em bronze. Isso mostra o quão sério eram as questões públicas para eles. E deveriam continuar a sê-lo, hoje, se houvesse um pouco mais de patriotismo e um pouco menos de cinismo nas figuras públicas.
Mas, ao contrário da pureza de intenções, vivemos uma espécie de Sodoma e Gomorra  na política. Vale tudo. Já nem temos uma oposição digna do nome. É muito difícil exercer a oposição quando o desejo inconfesso é fazer também parte da "festa". E quando nos deparamos com um Roberto Jefferson fazendo oposição ao governo Dilma dá até vontade de chorar. Roberto Jefferson e José Dirceu são as duas faces da mesma moeda. Tanto que brigaram por motivos que jamais saberemos, mas que podemos perfeitamente imaginar. E se não tivessem brigado, o mensalão teria perdurado pelos oito anos e estaria talvez Dirceu agora sentado no trono ao invés da Dilma. Por qualquer ângulo que se olhe é sempre um horror. 
Isso nos leva a outro temor, o da fragilidade de uma democracia sem oposição. O caso do México, em que durante 70 anos reinou o PRI deveria nos servir de alerta. Ou quando a classe política se decompõe sem identidade e nos faz lembrar a República de Weimar que desembocou na ditadura nazista. Ou como quando, na bagunça institucional italiana, criou-se o ambiente político em que proliferou o fascismo. Não há vácuo na política. Quando os verdadeiros líderes abrem mão de seu papel, inevitavelmente surgem os falsos messias querendo "salvar" o povo.
Precisamos urgentemente de candidatos, no sentido original do termo. Precisamos de pessoas que se disponham a fazer política visando o bem comum. Será isso uma utopia? Não existem tais pessoas em nosso país? Estamos condenados eternamente a essa mediocridade? Ou será que, se crescemos e nos desenvolvemos em tantas áreas, conseguiremos enfim desenvolver o nosso sistema político? São perguntas que vão ficando sem resposta em razão dos fatos e do choque de realidade a que somos submetidos todos os dias, mas não podemos perder as esperanças, nem jogar a toalha pois então estaremos admitindo a derrota dos cidadãos de bem.

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