domingo, 4 de maio de 2014

Democracia de menos

Eleições de menos faz mal à democracia. Eleições demais, também faz. No Brasil pós-ditadura vivemos um porre de eleições. De dois e dois anos somos chamados às urnas para decidir quem nos representará em alguma esfera. No entanto, nada muda. Quem nos devia representar e que, na verdade, só representa a si mesmo e aos interesses de seu grupelho, são sempre os mesmos. Há uma eternidade algumas múmias como Sarney, Maluf, por exemplo, só para citar dois casos emblemáticos,  estão na cena política, desempenhando sempre o mesmo papel.
Nesse caso, pergunta-se: se não é para mudar nada, nem ninguém, para quê eleições com tanta frequência? O sujeito mal foi eleito e ainda sequer constituiu seu secretariado ou ministério e já começa a fazer campanha para a eleição seguinte! 
E, como cada campanha consome somas milionárias, começam desde antes de governar a fazer os conchavos que lhes garantirão o fluxo do próximo propinoduto que, além de lhes financiar a próxima campanha, ajuda a lhes garantir também um rendimentozinho extra-oficial e livre de impostos que será depositado nas contas dos paraísos fiscais mundo afora.
E o propósito original e legítimo das eleições vai para as cucuias.
Todos ficam felizes, menos o povo abestalhado, ou seja, nós, que além de elegermos essa corja, ainda lhes pagamos o salário com nossos suados impostos.
Se queremos ter uma democracia digna do nome, e um dos fundamentos dela se chama representatividade, já passou da hora de exigirmos mudança. Não é por termos muitas eleições que nossa democracia será mais perfeita. Precisamos espaçar mais as eleições e precisamos, principalmente, mudar o seu caráter pois o objetivo delas deveria ser produzir um quadro político de melhor qualidade e maior representatividade. 
Para isso, um das condições é mudar o regime saindo desse presidencialismo oligárquico e arcaico, para um moderno parlamentarismo em que os mandatos não tem prazo fixo e o governante só permanece enquanto estiver fazendo um trabalho que satisfaça o povo. Alguém pode argumentar que, no parlamentarismo, se os governantes forem ruins, o número de eleições vai até aumentar.
Em um primeiro momento isso pode ocorrer. Mas a depuração da classe política se faz de modo muito mais rápido e eficaz, porque quem perde o mandato no caso de mau governo, não é só o chefe do governo, mas o parlamento inteiro. A solidariedade com a boa governança é então uma imposição do sistema. 
Acabam-se as manobras de bastidores, quem é situação é situação. Quem é oposição é oposição. No dia em que o governo perder apoio, caem todos e começa-se do zero. Está na hora de o país começar a pensar seriamente nessa possibilidade. Bons exemplos não faltam pelo mundo afora.



sábado, 3 de maio de 2014

Lula não volta

Estou apostando que Lula não se candidatará, nem mesmo se os índices de intenção de voto em Dilma despencarem ainda mais do que já estão despencando.
Lula é esperto e malandro. Não será nessa hora em que, não somente Dilma, mas todo o PT com suas artimanhas e sortilégios, estão absolutamente desgastados perante a opinião poública, que o Molusco com seus nove dedos vai posar de salvador da pátria. Isso deu certo ao final do governo Fernando Henrique, mas FHC era de outro partido e, portanto, bode preferencial para expiar a culpa de todas a mazelas do país.
Lula recebeu das mãos de seu antecessor o governo de um país que andava bem das pernas, com a casa e a economia em ordem, tanto que, espertamente, apesar de reclamar da herança maldita, Lula não mexeu nessa área.
No caso presente, a herança maldita vai ser atribuída a quem? A bagunça que dona Dilma ajudou a plantar no cenário econômico está de tal forma onipresente que o novo governo gastará pelo menos dois anos para reverter a situação. Serão dois anos de ajustes e medidas duras e impopulares, para que o bonde volte aos trilhos.
Lula é quem vai fazer isso? Lula terá a competência e a vontade de fazer esse papel? Tenham a santa paciência. O que Lula quer é palanque para se exibir e mostrar como ele é imprescindível para a política brasileira, como ele é um gênio da raça que reinventa a história do Brasil cada vez que assume o cargo. Lula nunca foi de trabalhar duro. Nunca foi de trabalhar de jeito algum. Portanto podem perder a esperança aqueles que estão no movimento "Volta, Lula." 
Nessas circunstâncias e se for para "pegar rabo de foguete" que não se conte com o apedeuta, que a praia dele é outra, de maré muito mais mansa.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia do Trabalhador

Emblemática a condução do Zé Genoíno à prisão exatamente no dia do trabalho, ele que foi presidente do Partido dos Trabalhadores... Como dizia Joelmir Beting: "O PT começou como um partido de presos políticos e acabou sendo um partido de políticos presos."
É evidente que a indigência moral da classe política não é privilégio petista. Já se disse isso mil vezes. A questão é que o PT se apresentava à sociedade brasileira como uma alternativa sadia a essa política nojenta, de trocas de favores, de conchavos, de privatização do Estado, de roubalheira pura e simples.
E bastou chegar ao poder para se revelar um partido tão sujo quanto aqueles a quem criticava. Talvez até mais, pois vinha faminto de cargos, mordomias e maracutaias.
A falta de pudor chegou ao ponto de considerar natural e defensável aliar-se a representantes do mais sujo e do mais profundo atraso que há na atividade política brasileira. O que parecia inconcebível, ver Lula elogiando Sarney, tornou-se corriqueiro e quando o PT foi em comitiva beijar a mão do Maluf já não causou mais espanto.  Lula, Dilma, Collor, Sarney, Maluf, Renan, são todos gatos, ou melhor, ratos, do mesmo balaio.
Agora que as coisas estão mais definidas e mais claras, algumas outras começam a fazer sentido. O sindicalismo no Brasil, até quase o final da ditadura militar, nunca foi de esquerda. Eram simples pelegos sem ideologia. Quem juntou-se ao sindicalismo, na formação do PT, e o coloriu de vermelho, foram as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica e os intelectuais acadêmicos. Foram esses que emprestaram ao PT a fachada de esquerda e até o discurso marxista. Emprestaram a pele, mas não mudaram o lobo, que continuou sendo o que sempre foi. Outro ponto que faz sentido é a atuação do gen. Golbery escolhendo a dedo o sindicalista Lula da Silva para transformá-lo em líder de uma "oposição confiável" que se fazia necessária na transição para a democracia. Antes, Lula, que seria um líder cooptado e domesticado e controlador das massas operárias, do que uma liderança mais afoita e mais genuinamente esquerdista que poderia forçar demais a mão e errar na dose de oposição consentida. Foi desse caldo que surgiu o PT e que, tão logo começou a abocanhar cargos executivos nas prefeituras, pôs em prática o seu esquema de privatização das instituições em favor do partido e do desvio de verbas sistemático e contumaz. Os puros e ingênuos ainda continuaram por um bom tempo acreditando no discurso, até que os fatos se impuseram com mais força e eles foram obrigados a optar: aderir ou cair fora. Assim sairam ou foram saídos do PT: Luiza Erundina, Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Vladimir Palmeira, Fernando Gabeira, Marina Silva e outros. Acho que dessa turma, ainda continua no partido somente o senador Eduardo Suplicy, mas esse é tão lento que nem conta.
O PT já não engana a mai ninguém. Isso ficou absolutamente claro hoje com a situação carregada de significado simbólico que foi o ex-presidente dessa agremiação, José Genoíno, se dirigir para o xilindró em pleno 1º de Maio. E a grande esperança que surge foi explicitada pelas vaias e apupos com que os petistas foram recebidos e impedidos de discursar no evento da CUT e no evento da Força Sindical em São Paulo.

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