domingo, 25 de junho de 2017

Cadê o líder?

Seria muita ingenuidade pensar que a operação Lava Jato continuaria a desvendar toda a sujeira escondida debaixo dos tapetes dos palácios de Brasília, sem ter nenhuma obstrução, nenhuma tentativa de bloquear suas atividades, ou, pelo menos, anular seus efeitos.

Tudo o que estamos vendo o governo Temer fazer, desde a nomeação do atual ministro da Justiça, é tentar melar todo o processo. O mesmo pode se dizer do conjunto da Câmara e do Senado, com algumas ramificações no Judiciário.
Estão todos combinados, articulados e orquestrados para fazer essa operação não chegar a lugar algum, ou, pelo menos isentar toda a classe política de qualquer punição. Agora, não importa mais a ideologia, nem o partido. Agora é "um-por-todos-e-todos-por-um". São eles contra o Brasil.

Isso mostra que a força da Lava Jato é também a sua fraqueza. Ao desvendar a universalidade da roubalheira, a Lava Jato deixou claro que não é seletiva, não tem partido; mas, a exposição de gregos e troianos, demonstrando que todos estão no mesmo barco, fez com que eles se unissem no mesmo propósito.

Agora não interessa mais ao PT se degladiar com o PSDB, nem vice-versa. O que interessa agora é tentar salvarem-se todos. Para isso, são todos muito hábeis e traquejados. A mudança de tom de Gilmar Mendes e de Reinaldo Azevedo já foi o prenúncio de que a máfias estavam se unindo. Já não se vê, nas redes sociais, a petralhada atacando o Aécio, nem mesmo atacando o Temer. Aliás, quem ataca o Temer e o Aécio, agora, são os coxinhas de ontem.

Esse é um momento crítico de nossa história: ou eles vencem a guerra e saem livres e acaba-se o que resta desta malfadada república, ou vencemos nós e teremos que reconstruir esse país, com uma nova Constituição e novas estruturas de poder.
Para que ocorra a segunda hipótese, é necessária uma liderança política competente, isenta e comprometida com a cidadania, que possa coordenar esse processo, que não será fácil. O grande problema é: onde está essa liderança? Quem poderá desempenhar esse papel?

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Avalanche de vícios

Além da corrupção pura e simples, simbolizada por mochilas de dinheiro vivo sendo entregues e recebidas sorrateiramente, há no comportamento dos agentes públicos desse país, uma frouxidão moral inquietante.

Juízes da Suprema Corte, por exemplo, não se avexam de pegar carona em jatinhos de terceiros, ou de receber, mediante sociedades das quais participam, polpudas doações ou "patrocínios" de empresas de duvidosa reputação. 
Um presidente da República é visitado à noite, clandestinamente, por um investigado da Lava Jato e tem com ele um diálogo pra lá de suspeito.

Já se foi o tempo em que se dizia que um agente público teria que ser como a mulher de César: ser e parecer honesto! Isso é a tal da reputação ilibada exigida pela Constituição para que se preencham determinados cargos da administração pública.

Hoje, basta não haver provas cabais contra o citado agente, ou mesmo, havendo abundância de provas, se por acaso, alguma tecnicalidade legal não for satisfeita, os homens públicos são considerados honestos para todos os efeitos. E a vida continua. É por isso que se chega ao ponto em que chegamos. É por isso que um Eduardo Cunha e um Sérgio Cabral são possíveis.

A tal da reputação ilibada virou letra morta e a atividade pública transformou-se em uma atividade de delinquentes, de todos os estratos, de todos os partidos e de todos os poderes.

A delinquência começa com pequenos gestos, pequenas violações, que, sendo aceitas, abrem a porta para comportamentos cada vez mais ousados. É assim na vida urbana e é assim na vida política. Assim como se faz nas megalópolis, temos que fazer na vida pública, para extirpar a bandidagem: tolerância zero! Alguns vão dizer que isso é fundamentalismo, ou histeria moralista. Que seja! Talvez seja necessário esse "excesso" de virtude para enfrentar a avalanche de vícios sob os quais a nação está sendo soterrada.

domingo, 11 de junho de 2017

Estado Islâmico no TSE

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar 
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão 
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar 
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar 
E a morte, o destino, tudo, a morte, o destino,tudo 
Estava fora de lugar, eu vivo pra consertar 
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei 
Não por um motivo meu, 
ou de quem comigo houvesse 
Que qualquer querer tivesse, 
porém por necessidade 
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu 
Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte 
Muito gado, muita gente pela vida segurei 
Seguia como num sonho 
em que o boiadeiro era um rei
Disparada - Geraldo Vandré



Dentre todas as coisas esquisitas, suspeitas, maliciosas, ridículas, hilárias, cômicas e vergonhosas, desse julgamento do TSE, destaca-se uma pela bizarrice: o gesto do ministro Napoleão pedindo que a ira do Profeta caia sobre seus desafetos e lhes corte as cabeças!

Citou, supostamente, um trecho do Alcorão e formulou o desejo que  as cabeças, dos que considera inimigos, sejam cortadas. Parecia um aiatolá em fúria!

Eu me perguntei se, acaso vivêssemos em um regime que desse tal poder a esse homem, não haveriam mesmo cabeças rolando. Haveriam! Podem ter certeza!

Pois em plena democracia, em um país majoritariamente cristão, esse homem, um juiz de um Tribunal Superior (que até parece ser evangélico), não um cangaceiro de Limoeiro, pedia de público a ira do Profeta (e ainda esclareceu, para quem tivesse dúvida, que se tratava do Profeta Maomé) e a degola, pura e simples, dos seus "inimigos", o que se poderia esperar se tivesse à sua disposição a Sharia e o fanatismo dos seguidores?

A que ponto chegamos? Esse gesto do Napoleão de Limoeiro sequer causa impressão. Foi mencionado "en passant" na mídia e pronto. Seus colegas ouviram em silêncio. Mesmo quem não concordasse não teve coragem de levantar a voz em protesto.

Isso demonstra que essa gente saiu das grotas, passou um verniz, vestiu uma toga, mas não deixou para trás os cacoetes de senhores de engenho. Pensam que ainda são coronéis, oligarcas, cuja vontade é absoluta, que tem poder de vida e de morte sobre seus súditos e não podem jamais ser contrariados, menos ainda contestados.

O Brasil está assim porque essa mentalidade de país agrário atrasado ainda está entranhada na cabeça e no comportamento da classe política dirigente. Estamos no século XXI, mas na cabeça deles ainda não saímos do XIX. Sejam esses políticos de aparência moderninha, como um Aécio, ou antiquada mesmo, como um Napoleão e um Gilmar Mendes, a mentalidade que os guia é a do "dono de gado e gente". 

E, infelizmente, até mesmo quem fazia parte do gado, quando "um dia se montou", resolveu também virar senhor de engenho. Como o poder é inebriante!

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