segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Deus dará

Uns tem xisto, outros tem xistose. E ainda dizem que Deus é brasileiro! 
Dessa crença talvez resulte o nosso conformismo, a nossa inércia, a nossa  resignação. Como já dizia Chico Buarque: "...diz que Deus dará. E se Deus negar, ó nega, eu vou me indignar e chega. Deus, dará. Deus, dará." 

Acreditamos piamente que Deus teve um predileção especial pelo Brasil quando criou o planeta; plantou aqui as maiores delícias, o clima, a natureza exuberante, as praias maravilhosas, as frutas, o alimento fácil ("Em se plantando, tudo dá."). 
E por fim, o que faltava, o petróleo, até esse apareceu. Na verdade, meio que escondido nas profundezas marítimas, mas está lá, esperando para ser retirado. Mais uma comprovação da cidadania divina! Será? Comparemos.
Há no hemisfério norte, uma nação de território ainda mais extenso que o território brasileiro, com quase as mesmas riquezas naturais, apesar do clima mais adverso e da frequência de catástrofes naturais (furacões, tufões, terremotos, nevascas). É uma nação também de imigrantes. Também teve a sombra da escravidão e foi também colônia de uma nação européia. Mas o povo, que diferença...
Esse povo não só tomou as rédeas de seu destino nas mãos, desde o princípio (Declaração de Independência - 1776), como também ajudou outros povos a definir o seu:  inspirou a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira e ajudou a independência de Cuba, lutando contra a Espanha. Em 100 anos construiu uma nação tão próspera, que em 1876 Alexander Graham Bell já estava patenteando sua maior invenção, o telefone.
A nossa independência se deu 46 anos depois. Em termos históricos essa diferença temporal foi quase insignificante, mas em termos sociais parece que se passaram séculos. São várias e extensas as razões dessa diferença, mas cabe apontar uma delas, que, no meu entender, é o fator fundamental dessa desigualdade. A nação americana é meritocrática. Lá se valoriza aquele que trabalha e se esforça para progredir. Aqui se valorizam o parentesco e as relações sociais. Daí o nepotismo e o compadrio. 
Lá o trabalho é o que  promove a ascensão social, aqui a ascensão é promovida pela adesão fisiológica e o puxa-saquismo. Por isso se disseminou entre nós o culto da cordialidade e da resignação. Nós não protestamos. Nós aceitamos o poder discricionário e tentamos, ou aderir a ele ou burlá-lo. Não valorizamos o sucesso obtido com esforço. Como dizia Tom Jobim: "No Brasil, fazer sucesso é ofensa pessoal!"
Por isso perdemos os bondes da história, um atrás do outro e, enquanto eles, com naturais avanços e recuos, acabam por vencer as dificuldade e progredir, nós ficamos sentados à beira do caminho esperando o que Deus dará.










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