terça-feira, 25 de agosto de 2020

Crepúsculo

 As nações e as civilizações tem um ciclo de vida similar ao dos seres vivos: nascem, crescem, atingem o apogeu e depois vem o declínio. No caso do Brasil, já disse Claude Lévy-Strauss em "Tristes Trópicos",  chegamos ao declínio sem passar pelo apogeu, ou melhor: "passamos da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização".

Não conhecemos a civilização! Essa é uma dura realidade. Alguns de nós, individualmente a conhecem, mas como povo, como nação, a desconhecemos completamente.  Fico a me perguntar: onde está o Brasil que eu imaginava ser possível? O Brasil cordial? O Brasil que na minha infância seria o país do futuro, já delineado no desenvolvimentismo, no modernismo dos anos 50? Estávamos à porta da civilização, mas nela não entramos.

E agora, ao acompanharmos o processo político, podemos ver claramente a linha descendente. Primeiro foram os militares que, ao implantarem uma ditadura sanguinária, romperam com os limites civilizatórios da decência: um Estado que admite a tortura não pode ser chamado de civilizado!
Depois, veio o processo de redemocratização em que cada governo ruim, foi sucedido por um governo pior. Assim chegamos à Dilma, que parecia ser o fundo do poço. Mas, não, afundamos ainda mais com Temer e seus amarra-cachorros correndo com mochilas de dinheiro, e agora estamos nos afogando no pântano do governo Bolsonaro. 

No pano de fundo, o Centrão sempre presente.

Obviamente, não é só no Executivo que se percebe o crepúsculo. Ele fica ainda mais evidente no Congresso. 

De um Senado da República, cujo primeiro presidente foi Floriano Peixoto, não se podia esperar grande coisa, mas também não precisávamos chegar a um Alcolumbre, tendo já se desmoralizado pela presidência de um Renan Calheiros, um Edison Lobão e um Jader Barbalho.
Da Câmara não convém nem falar, mas é irresistível comparar uma instituição que já foi presidida por um José de Alencar, um Martim Francisco de Andrada, um Pedro Aleixo e um Antônio Carlos de Andrada, com aquela que acabou sob a direção de um Rodrigo Maia, não sem antes passar pelas mãos de um Michel Temer, João Paulo Cunha, Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha.

Entretanto, nada se compara à decadência do poder Judiciário. Aquele que deveria ser o fiel da balança, a última instância da cidadania, nos dá o veredito final, a confirmação de nossa precoce decadência. Basta lembrar que um Supremo, que já teve ministros da estirpe de Aliomar Baleeiro, Paulo Brossard, Evandro Lins e Silva, Thompson Flores, hoje é uma Corte absolutamente desmoralizada e ridicularizada nas redes sociais. E a culpa não é das redes sociais.

O que se pode dizer de uma Corte presidida por um Dias Tófolli, que nem juiz é? Não pode ser nada mais que o símbolo de uma decadência de todo um país. Infelizmente.


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