sábado, 5 de dezembro de 2020

Suprema Excrescência

Encolhidinho e minúsculo no tempo da ditadura militar, há muito, o Supremo passou a ser um poder que paira acima dos demais. Legisla, investiga, acusa, julga e executa. Fomos cedendo aqui e acolá e agora percebemos em que abismo estamos prestes a cair.

Para começar, a maneira como seus membros são escolhidos já é uma excrescência: o presidente escolhe quem quer e o Senado aprova o escolhido. A tal exigência de notório saber jurídico e reputação ilibada, tornaram-se cláusulas ridículas, a ponto de um plagiador ter sido o último ministro ungido e um outro ter sido reprovado duas vezes em concurso para juiz. Não pode ser juiz, mas pode julgar os juízes.

Com esse sistema, não deveria nos espantar a decadência e avacalhação com que essa Corte se apresenta à nação. O respeito do povo, esse tribunal já perdeu há muito tempo. Chegamos ao ponto em que um ex-presidiário grava um vídeo achincalhando alguns membros do Supremo, equiparando-os a michês e travestis e fica por isso mesmo. Diz Roberto Jefferson, no vídeo que está aqui, disponível para quem quiser ver que "alguns ministros tem rabo preso e dois tem rabo solto. Conhecidos, um como Cármen Miranda e outro como Lulu Boca de Veludo."

Esse mesmo Supremo que tanto se indignou com as "fake news" a ponto de abrir investigação, agora calou-se por completo. Nem um pio. E o vídeo está circulando desde 21/06/20.

Pois bem, essa mesma instituição está prestes a rasgar pura e simplesmente a Constituição. Já são quatro e meio votos permitindo a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, ao arrepio do artigo 57, parágrafo 4º da Carta Magna. Digo quatro e meio, porque votaram pela excrescência, Gilmar Mendes, óbvio, Lewandowski, idem, Tófolli, ibidem e Alexandre de Moraes. O Kássio Kopia e Kola, deu meio voto a favor e meio contra.

Se essa monstruosidade passar, o Supremo estará decretando a sua ditadura. Não haverá mais Constituição. O Supremo poderá tudo, bastando para isso decidir por maioria de 6 pessoas dentre 11. Decisões serão tomadas ao bel prazer e a favor do interesse da maioria desses urubus de capa preta. E ninguém poderá falar nada. Ninguém? Bom, se Roberto Jefferson pode falar aquilo, que mais ele poderá nos dizer?

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Fascismo Nu

Contardo Calligaris, a propósito da biografia de Mussolini de Antônio Scurati  lançada no Brasil pela editora Intrínseca, faz um questionamento importante sobre o que devemos analisar em nós mesmos que contenha os germes, as sementes do fascismo.

Essa autoanálise é importante porque, como dizia Jung, o homem dito civilizado é apenas um bárbaro com um leve verniz de cultura. E o fascismo nada mais é que essa barbárie aflorada à pele e usada como método de conquista e manutenção do Poder. Henry Kissinger ainda completou: "o poder é o mais forte afrodisíaco". Que o confirmem todos os tarados sexuais.

Essa fórmula, portanto, não é nova e significa que o fascismo estará sempre à espreita dentro de nós. Quando pensamos que está acabado e derrotado, ao menor sinal de fraqueza das instituições civilizatórias, ei-lo de volta com suas garras entranhadas no coração das massas populares.

No pós-guerra, ficou muito claro ao mundo que o fascismo tinha ido longe demais: o racismo como política de Estado, a falta total de escrúpulos dos agentes públicos, o terror como mecanismo de controle, a industrialização da morte, tudo isso foi escancarado a um público estupefato, que horrorizado passou a considerá-lo como um desvio, quase uma doença, eliminando-o do espectro  político.

E passamos a acreditar que o fascismo estava erradicado. Ledo engano!

Reapareceu nos anos 80 e 90, na pele dos skinheads, mas foi considerado (erroneamente como sempre) uma aberração ridícula, uma palhaçada própria de guetos culturais. O problema então foi que os governos de esquerda, elevados ao poder, por conta do anti-fascismo, deram com os burros n'água e se mostraram corruptos e incompetentes, além de também sanguinários e inescrupulosos.

A descrença no sistema político, a desesperança das pessoas, está formando de novo o caldo de cultura no qual germinam novamente as sementes do fascismo. Essas sementes estão dentro de cada um de nós, mas quando as condições de vida se tornam precárias, os controles civilizatórios perdem força e emergem as condições primitivas que nos garantiram a sobrevivência em tempos bárbaros. Essas condições são as do eu contra você e, melhor, do nós contra eles.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Relinchos presidenciais

 Dentre os relinchos do presidente, aos quais a gente devia estar acostumado, um dos mais recentes superou todas as expectativas. Jactou-se a cavalgadura que seria ele o responsável por acabar com a Lava-Jato.

Diante da obviedade de uma frase de efeito sem nenhuma relação com a realidade, devíamos reagir com  a mesma indiferença com que reagimos ao zurrar de um jumento. O problema entretanto é que esse relincho faz mal ao país. A Lava-Jato já está sendo atacada por todos os lados. Essa foi uma das razões da vitória do animal: a defesa da maior operação de limpeza e higienização do poder público jamais deflagrada no país.

Sabíamos que a reação viria. Sabíamos que os responsáveis pela operação pagariam um preço por seu patriotismo e isenção. Mas não se esperava que viessem ataques até mesmo daqueles que se alinhavam entre os antigos defensores da Operação.

Bolsonaro foi desvestindo a máscara logo após ter sido eleito. Foi se livrando de todos os companheiros "desagradáveis", que não aceitavam tão rápida mudança de rumo. E agora, em ataque de sinceridade, admite que acabou com a operação que o ajudou a eleger-se. 

Diz ainda que acabou com a corrupção no governo. Aí, nem os muares concordam com o relincho. Como assim, cara-pálida? Como pode alguém, seja quem for, assegurar uma coisa dessas? Ainda mais, quando acaba de entregar ao Centrão o comando da política nacional. 

Ontem mesmo, o seu vice-líder no Senado foi flagrado com dinheiro escondido na bunda. Não só dentro da cueca, quase dentro do ânus mesmo! Somos um pais inacreditável, surreal, no pior sentido do surrealismo.

O que não foi dito, ou melhor, não foi relinchado, é que de fato está tentando acabar com as investigações no seu governo. Removeu o COAF do Min. da Justiça e o dissolveu no Banco Central, totalmente descaracterizado. Aliou-se à escória da politica nacional, representada por Roberto Jefferson e Renan Calheiros e também à escória do STF.

E a corrupção, que teria acabado, volta a ser descoberta, em espécie, enfiada no fi-o-fó de um Senador aliado. Calígula escandalizou Roma ao fazer seu cavalo senador, aqui ninguém se espanta com cavalgaduras ocupando todos os postos. E relinchando alto!

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