sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Triste Brasil

Á guisa de prólogo:

"Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante

Que em tua larga barra tem entrado
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante."
  


O autor desses versos, Gregório de Matos Guerra, advogado baiano, do século XVII, tinha o apelido de "Boca do Inferno" e não era à toa, pois fazia críticas ferrenhas à sociedade da época, incluindo membros da alta cúpula da Igreja.
Por causa disso, foi condenado pela Inquisição ao degredo em Angola.

A semelhança com os tempos presentes não é mera coincidência. Quem desnuda o sistema e aponta os erros e crimes é que acaba sendo julgado. É só ver o que está ocorrendo com o procurador Deltan Dallagnol e com o ministro Sérgio Moro.
Ousaram tocar nos intocáveis da República e agora sofrem na pele as consequências de tal ousadia.

O mais irônico é que, contra eles, se aliaram os pretensos novos agentes políticos da esquerda, que criticavam as oligarquias, com os antigos oligarcas que jamais tinha sido molestados. PT e PCdoB aliados ao Centrão. Lula e Renan Calheiros de mãos dadas. Essa é a síntese do quadro político de hoje.

Gregório de Matos, se vivesse hoje, não teria menos motivos de destilar suas sátiras. Triste Bahia, uma de suas pérolas poéticas, que foi até musicado por Caetano Veloso, poderia bem ser intitulado Triste Brasil.

E, fazendo menção aos ínclitos ministros do Supremo, essa quadra lhes cai muito bem:

"Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre, o vil decepa;
O velhaco maior sempre tem capa."

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