Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 29 de março de 2012

São Chico e São Millôr

Em uma semana lá se foram Chico Anísio e Millôr. E o Brasil ficou mais triste e mais burro. Talvez seja um (mau) sinal: dois humoristas partindo de uma só vez; isso deve nos levar a refletir em que nação estamos nos transformando.
O riso fácil, o bom humor, a gozação, a capacidade de achincalhar e expor as mazelas escondidas em pretensas coisas sérias, a carnavalização e o deboche (no bom sentido) sempre foram características essencialmente brasileiras, mais bem representadas pelo que se convencionou chamar de "alma carioca". Tudo isso foi muito bem sintetizado na arte desses dois monstros sagrados: o guru do Méier e o gênio dos caracteres.
Gênios de outro tempo, um tempo em que não éramos politicamente corretos, mas éramos mais sinceros em nossos sentimentos e palavras. Um tempo em que se podia rir de tudo e principalmente de si mesmo, sem culpa e sem precisar de explicações. Tempo em que dicionários não eram ameaçados de censura. Tempo em que os fundamentalismos e os fanatismos não encontravam terreno onde prosperar, pois éramos um povo que não acreditava fácil, que duvidava de tudo e que sempre conseguia perceber as intenções veladas por baixo das peles de cordeiro.
Estamos perdendo essa característica, estamos nos tornando um povo mal-humorado, correndo para lá e pra cá, esbaforidos no trânsito, estressados, com medo permanente de tudo e de todos, com medo do Outro. É por aí que proliferam os extremismos, o fanatismo e o fundamentalismo. Nessas áreas escuras da vida social, onde o riso é suprimido, é que vicejam os germes do totalitarismo e do fascismo. Que S.Francisco Anísio e S.Millôr orem por nós e nos protejam.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Feliz Ano Velho?

Todo mundo começou o ano com um pé atrás. Ressabiados, não projetamos para 2012 as esperanças radiosas com que costumamos saudar a passagem de ano. Ainda nos desejamos "Feliz Ano Novo", mas sem aquele ímpeto, aquela vibração que se originava da quase certeza que tudo iria melhorar. Não bastassem as ameaças esotéricas, a situação da economia europeia e americana se projeta sobre 2012 como uma sombra ainda mais forte e mais ameaçadora do que o calendário maia.
Alguns economistas simplesmente estão "pirando" e prevendo realmente o caos, o fim do mundo. Será que sempre foi assim na história de humanidade? Sabemos que crises sempre existiram e elas coincidem com o esgotamento de um ciclo econômico e, antes que um novo modelo seja implantado, vive-se uma espécie de caos, de vale-tudo. Portanto em alguns micro-universos o fim de um ciclo pode representar realmente o fim de um mundo particular.
O que está sendo novidade agora talvez, o que ainda não tínhamos visto, é esse caos generalizado, globalizado, afetando a economia mundial como um todo e em velocidade muito maior do que os acontecimentos anteriores. O fim da hegemonia européia, da qual a americana era apenas uma continuação deslocada geograficamente, é o fim de um mundo particular. Um mundo cheio de defeitos como qualquer outro, mas que trouxe pela primeira vez na história da humanidade, para o palco central, valores como a democracia, direitos humanos, respeito ao indivíduo, limitação ao poder do Estado, e, como cereja do bolo, o conceito de bem-estar social. Não se pode negar que nesse mesmo caldo de cultura proliferaram cânceres como o nazismo, o racismo, a intolerância e a xenofobia, mas pode-se dizer que tudo isso foram desvios e o que prevaleceu foram valores humanistas acima de tudo.
O eixo econômico se desloca agora para a Ásia, onde a tradição democrática é restrita, circunscrevendo-se ao Japão e à Índia, mas todos os dois com democracias recentes, de pouco mais de 50 anos, o que em termos históricos é muito pouco.
Os demais países da Ásia, destaque principalmente para a China, nunca tiveram tradição de democracia, participação popular, oposição política e liberdade de opinião. Sem esses valores a questão do desenvolvimento econômico fica também comprometida, pois sem a liberdade criativa e sem a liberdade de empreender, a economia vai girar apenas do modo que os governos autocráticos decidirem, o que não significa que irão escolher o melhor, o mais eficaz, ou o mais produtivo.
Se o capitalismo ocidental que era visto como um sistema selvagem e desumano que só obedecia às leis de mercado e procurava o lucro acima de tudo, conseguiu produzir esse valores que tanto prezamos, o que devemos esperar desse novo "capitalismo" oriental, estatal, dirigido, autocrático, fechado e antilibertário? Teremos saudade da prepotência americana? Tomara que não, mas só o saberemos em futuro breve. Enquanto isso: Feliz Ano Novo pra todos.

Seguidores do Blog

No Twitter:

Wikipedia

Resultados da pesquisa