quarta-feira, 14 de junho de 2017

Avalanche de vícios

Além da corrupção pura e simples, simbolizada por mochilas de dinheiro vivo sendo entregues e recebidas sorrateiramente, há no comportamento dos agentes públicos desse país, uma frouxidão moral inquietante.

Juízes da Suprema Corte, por exemplo, não se avexam de pegar carona em jatinhos de terceiros, ou de receber, mediante sociedades das quais participam, polpudas doações ou "patrocínios" de empresas de duvidosa reputação. 
Um presidente da República é visitado à noite, clandestinamente, por um investigado da Lava Jato e tem com ele um diálogo pra lá de suspeito.

Já se foi o tempo em que se dizia que um agente público teria que ser como a mulher de César: ser e parecer honesto! Isso é a tal da reputação ilibada exigida pela Constituição para que se preencham determinados cargos da administração pública.

Hoje, basta não haver provas cabais contra o citado agente, ou mesmo, havendo abundância de provas, se por acaso, alguma tecnicalidade legal não for satisfeita, os homens públicos são considerados honestos para todos os efeitos. E a vida continua. É por isso que se chega ao ponto em que chegamos. É por isso que um Eduardo Cunha e um Sérgio Cabral são possíveis.

A tal da reputação ilibada virou letra morta e a atividade pública transformou-se em uma atividade de delinquentes, de todos os estratos, de todos os partidos e de todos os poderes.

A delinquência começa com pequenos gestos, pequenas violações, que, sendo aceitas, abrem a porta para comportamentos cada vez mais ousados. É assim na vida urbana e é assim na vida política. Assim como se faz nas megalópolis, temos que fazer na vida pública, para extirpar a bandidagem: tolerância zero! Alguns vão dizer que isso é fundamentalismo, ou histeria moralista. Que seja! Talvez seja necessário esse "excesso" de virtude para enfrentar a avalanche de vícios sob os quais a nação está sendo soterrada.

domingo, 11 de junho de 2017

Estado Islâmico no TSE

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar 
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão 
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar 
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar 
E a morte, o destino, tudo, a morte, o destino,tudo 
Estava fora de lugar, eu vivo pra consertar 
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei 
Não por um motivo meu, 
ou de quem comigo houvesse 
Que qualquer querer tivesse, 
porém por necessidade 
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu 
Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte 
Muito gado, muita gente pela vida segurei 
Seguia como num sonho 
em que o boiadeiro era um rei
Disparada - Geraldo Vandré



Dentre todas as coisas esquisitas, suspeitas, maliciosas, ridículas, hilárias, cômicas e vergonhosas, desse julgamento do TSE, destaca-se uma pela bizarrice: o gesto do ministro Napoleão pedindo que a ira do Profeta caia sobre seus desafetos e lhes corte as cabeças!

Citou, supostamente, um trecho do Alcorão e formulou o desejo que  as cabeças, dos que considera inimigos, sejam cortadas. Parecia um aiatolá em fúria!

Eu me perguntei se, acaso vivêssemos em um regime que desse tal poder a esse homem, não haveriam mesmo cabeças rolando. Haveriam! Podem ter certeza!

Pois em plena democracia, em um país majoritariamente cristão, esse homem, um juiz de um Tribunal Superior (que até parece ser evangélico), não um cangaceiro de Limoeiro, pedia de público a ira do Profeta (e ainda esclareceu, para quem tivesse dúvida, que se tratava do Profeta Maomé) e a degola, pura e simples, dos seus "inimigos", o que se poderia esperar se tivesse à sua disposição a Sharia e o fanatismo dos seguidores?

A que ponto chegamos? Esse gesto do Napoleão de Limoeiro sequer causa impressão. Foi mencionado "en passant" na mídia e pronto. Seus colegas ouviram em silêncio. Mesmo quem não concordasse não teve coragem de levantar a voz em protesto.

Isso demonstra que essa gente saiu das grotas, passou um verniz, vestiu uma toga, mas não deixou para trás os cacoetes de senhores de engenho. Pensam que ainda são coronéis, oligarcas, cuja vontade é absoluta, que tem poder de vida e de morte sobre seus súditos e não podem jamais ser contrariados, menos ainda contestados.

O Brasil está assim porque essa mentalidade de país agrário atrasado ainda está entranhada na cabeça e no comportamento da classe política dirigente. Estamos no século XXI, mas na cabeça deles ainda não saímos do XIX. Sejam esses políticos de aparência moderninha, como um Aécio, ou antiquada mesmo, como um Napoleão e um Gilmar Mendes, a mentalidade que os guia é a do "dono de gado e gente". 

E, infelizmente, até mesmo quem fazia parte do gado, quando "um dia se montou", resolveu também virar senhor de engenho. Como o poder é inebriante!

sábado, 10 de junho de 2017

Pra quê Justiça Eleitoral?

Ontem, ficou claro que a Justiça Eleitoral é de mentirinha, é uma brincadeira sem graça. Não serve para nada.

Pois ainda que diante de "provas oceânicas", como disse o ministro Herman Benjamim, quatro de seus integrantes as desconsideraram, tornando nulo um trabalho de mais de um ano, tornando nulo tudo o que se fez nessa investigação, jogando na lata do lixo tudo o que se provou ali, a pergunta que se segue é: para quê precisamos de uma Justiça Eleitoral?

O bufão-ministro Gilmar Mendes, em sua espalhafatosa fanfarronice, deveria ter dificuldade em explicar porque lutou tanto para instaurar esse processo, para, agora, ficar contra a consequência mais lógica dele, que seria reconhecer que a campanha foi tocada com propinas da Petrobras.

Mas o ministro aparentemente não teve essa dificuldade. Não há nada difícil para quem tem cara de pau. Ele quis nos convencer que, para ele, a montagem dessa farsa toda era só para nos intruir sobre como se fazem as campanhas eleitorais no Brasil. Da minha parte, eu agradeço, ministro, mas já sabia de tudo isso. Não precisava ter se dado ao trabalho.

Como eu, outras pessoas também concluiram isso, por exemplo:
SERGIO SPINOLA - No Estadão.
Pelo que entendi do portentoso Ministro Gilmar Mendes, o objetivo deste julgamento burlesco seria promover uma didática acerca da corrupção. Pelo que entendi, a lição ensinada às nossas crianças é a de que O Crime Compensa e que um resultado de julgamento pode ser previamente contratado, quando o acusado pode nomear seus julgadores. Para aplicar este tipo de lição, a este custo, melhor mesmo seria extinguir este tribunal e direcionar estes recursos para a saúde e educação básicas.
Aproveitando o momento em que estamos tentando colocar nos eixos as contas públicas, seria importante a sociedade decidir se quer continuar a bancar esse custo de 5,4 milhões por mês, apenas para o TSE, sem contar todas as demais instâncias, até aquelas que chegam ao interior de Limoeiro, terra do ministro Napoleão.

Grandes democracias, como os Estados Unidos e o Reino Unido, jamais tiveram ou cogitaram em ter uma Justiça Eleitoral. O que há é Justiça e pronto. E que funciona.







As fotos da netinha!

Resultado posto na mesa, resta agora tocar a bola pra frente. Essa constatação porém não nos impede de examinar como foi que as coisas se deram. Ao contrário, temos a obrigação de examiná-las, para saber o que devemos mudar nas nossas instituições para que elas representem a vontade e o interesse públicos.

Os bandidos conseguiram vencer essa batalha, mas não vão conseguir vencer a guerra contra o país. Temer, usando de sua prerrogativa constitucional (mais um ponto a ser mudado na reforma política), indicou, às vésperas da votação, dois ministros. Coincidentemente, votaram a favor de quem os indicou.

Um deles, Admar Gonzaga, teve seu impedimento argüído pelo Ministério Publico, uma vez que teria participado como advogado de uma das campanhas de Dilma. O vice-procurador , ao fazer essa argüição, estava cumprindo seu dever de ofício, entretanto foi violentamente atacado por Gilmar Mendes.
A mensagem que esse destempero passa ao país é que a casta dos juízes é intocável. Estão acima de todos e da Lei. Não podem ser contestados, nem confrontados! Calma lá, Gilmar Mendes! Talvez lá, em suas terras do Mato Grosso, como disse Joaquim Barbosa, o ministro grite com seus capangas e seja senhor de baraço e cutelo, mas não na mais alta corte eleitoral do país! Isso é inadmissível!

O Brasil precisa mudar muito! Ainda estamos longe de ser uma república! Certas "autoridades" ainda pensam que podem fazer o que quiserem, que são cidadãos de uma classe especial, imune ao alcance da lei, e que não tem satisfações a dar a quem lhes paga os salários. Isso não é república, quando muito uma república de bananas!

Outro fato muito estranho terá que ser investigado e esclarecido ao país. De repente, o filho do ministro Napoleão chega ao tribunal e, quer porque quer, entrar no plenário, onde se desenrolava a sessão, para entregar ao pai um envelope, que segundo o próprio Napoleão, conteria fotos de uma neta!

Conta outra, ministro! Qual seria a urgência de lhe entregarem as fotos? Era uma urgência de tal ordem, que teria que se interromper uma sessão histórica do tribunal? Isso não poderia esperar pelo intervalo de almoço? E, em tempos de mídia social, essas "fotos" não poderiam ter sido mandadas por algum aplicativo de celular?

Pode até não acontecer nada, mas a nação não deveria ter que conviver com mais esse mistério. Nós não merecemos isso! Ou será que merecemos?

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Defender o mandato ou o país?

Qualquer que seja o resultado do julgamento de hoje da chapa Dilma-Temer, no TSE, uma coisa é certa: o ministro Herman Benjamin entrou para a história e para o panteão dos homens dignos dessa sofrida Pátria.
Dentre suas frases lapidares e seu estilo direto e didático destaca-se uma, referindo-se aos colegas que querem enterrar provas: 
"Eu recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar de velório, mas não carrego o caixão".
É assim, que, aos poucos, vamos identificando no meio dos escombros de um país arrasado pela corrupção, que ainda existem homens públicos honrados. Isso nos resgata um fio de esperança. Nem tudo está perdido.

Nesse processo doloroso, já pudemos identificar, além do nome mais emblemático, o do juiz Sérgio Moro e dos procuradores de Curitiba, representados por Deltan Dallagnol,  outros, como o juiz federal Marcelo Bretas do Rio, o de Brasília, Valisney Oliveira. Agora, tomamos conhecimento da composição do TSE, e o ministro Herman Benjamin fez um trabalho espetacular, não só no sentido de desmontar a trama urdida por detrás das fachadas de legalidade das campanhas eleitorais, como preparou um voto primoroso e o defendeu com unhas e dentes no plenário, ao ponto de o ministro Admar Gonzaga (que foi indicado com a missão de defender o Temer) confessar seu constrangimento diante do relator.
Como, diante de provas oceânicas de corrupção, como afirmou o ministro Herman, ainda se vai dizer que não houve abuso de poder econômico? tem que ficar constrangido mesmo! 

Oxalá, esse constrangimento seja suficiente para o ministro Admar e o ministro Napoleão mudarem de ideia e resolverem defender o Brasil.

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