segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Mão na Cumbuca

 É impressionante que, apesar do julgamento do Mensalão, apesar da Lava Jato ainda estar em atividade, os políticos velhos ou novos não mudam: continuam roubando como se nada tivesse acontecido.

É claro, que eles não se intimidam muito. Afinal, foram poucos os políticos condenados que chegaram realmente a serem punidos exemplarmente. Pode-se contar nos dedos; Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e quem mais? Os demais, como Lula e Zé Dirceu estão aí, livres, leves e soltos, a dar entrevistas, viajar para onde querem, dar palpites na política, etc. Além desses, muitos outros sequer chegaram a enfrentar algum período de cadeia. E as fortunas que roubaram continuam intactas e bem guardadas, obrigado. E os advogados pagos com parte do dinheiro sujo!

Então, a relação custo x benefício é favorável ao crime. É uma questão matemática! Tem gente que toparia pegar uns 2 ou 3 anos de reclusão, se pegar, em troca de, depois, poder usufruir uma fortuna de 20, 30, 100 milhões. 

Querem melhor explicação de porque a roubalheira não vai parar? Não vai. Há, evidentemente, aqueles poucos exemplares de políticos que não roubam, mas o butim atrai larápios, que tudo vão fazer para conseguirem um cargo que lhes permita botar a mão na cumbuca.

Enquanto a lei continuar leniente, enquanto a justiça continuar lenta, venal e corporativa, não haverá mudanças reais nesse processo nefasto.

Não se trata de o povo não saber votar. Trata-se de não haver opção para o povo votar, em virtude de um sistema que favorece o sucesso dos corruptos.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Crepúsculo

 As nações e as civilizações tem um ciclo de vida similar ao dos seres vivos: nascem, crescem, atingem o apogeu e depois vem o declínio. No caso do Brasil, já disse Claude Lévy-Strauss em "Tristes Trópicos",  chegamos ao declínio sem passar pelo apogeu, ou melhor: "passamos da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização".

Não conhecemos a civilização! Essa é uma dura realidade. Alguns de nós, individualmente a conhecem, mas como povo, como nação, a desconhecemos completamente.  Fico a me perguntar: onde está o Brasil que eu imaginava ser possível? O Brasil cordial? O Brasil que na minha infância seria o país do futuro, já delineado no desenvolvimentismo, no modernismo dos anos 50? Estávamos à porta da civilização, mas nela não entramos.

E agora, ao acompanharmos o processo político, podemos ver claramente a linha descendente. Primeiro foram os militares que, ao implantarem uma ditadura sanguinária, romperam com os limites civilizatórios da decência: um Estado que admite a tortura não pode ser chamado de civilizado!
Depois, veio o processo de redemocratização em que cada governo ruim, foi sucedido por um governo pior. Assim chegamos à Dilma, que parecia ser o fundo do poço. Mas, não, afundamos ainda mais com Temer e seus amarra-cachorros correndo com mochilas de dinheiro, e agora estamos nos afogando no pântano do governo Bolsonaro. 

No pano de fundo, o Centrão sempre presente.

Obviamente, não é só no Executivo que se percebe o crepúsculo. Ele fica ainda mais evidente no Congresso. 

De um Senado da República, cujo primeiro presidente foi Floriano Peixoto, não se podia esperar grande coisa, mas também não precisávamos chegar a um Alcolumbre, tendo já se desmoralizado pela presidência de um Renan Calheiros, um Edison Lobão e um Jader Barbalho.
Da Câmara não convém nem falar, mas é irresistível comparar uma instituição que já foi presidida por um José de Alencar, um Martim Francisco de Andrada, um Pedro Aleixo e um Antônio Carlos de Andrada, com aquela que acabou sob a direção de um Rodrigo Maia, não sem antes passar pelas mãos de um Michel Temer, João Paulo Cunha, Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha.

Entretanto, nada se compara à decadência do poder Judiciário. Aquele que deveria ser o fiel da balança, a última instância da cidadania, nos dá o veredito final, a confirmação de nossa precoce decadência. Basta lembrar que um Supremo, que já teve ministros da estirpe de Aliomar Baleeiro, Paulo Brossard, Evandro Lins e Silva, Thompson Flores, hoje é uma Corte absolutamente desmoralizada e ridicularizada nas redes sociais. E a culpa não é das redes sociais.

O que se pode dizer de uma Corte presidida por um Dias Tófolli, que nem juiz é? Não pode ser nada mais que o símbolo de uma decadência de todo um país. Infelizmente.


sábado, 22 de agosto de 2020

O dia da marmota

Feitiço do Tempo (ou O Dia da Marmota) é o nome de um filme. Quem assistiu, sabe do que estou falando. Quem não viu o filme, fique sabendo que existe uma tradição, no Estado americano do Kentucky, de que uma certa marmota sai da toca em determinado dia no final do inverno. Se ela voltar para a toca é sinal que a neve prosseguirá ainda por algumas semanas. Se ela não voltar, é sinal que o degelo vai começar. O filme conta a história de um repórter televisivo que vai a essa cidade para acompanhar a saída da marmota.
Acontece que ele fica preso em uma dobra do tempo e, quando amanhece o outro dia, na verdade ainda é o dia anterior e, mesmo que os acontecimentos sejam relativamente diferentes, o dia ainda é o mesmo. Isso se repete indefinidamente, mas ninguém, exceto o repórter,  se dá conta disso.

Esse grande introito foi para dizer que, no Brasil, vivemos um eterno dia da marmota. Sai governo, entra governo e permanecemos no mesmo lugar, com as mesmas mazelas, os mesmos cacoetes, os mesmos defeitos.

O governo Bolsonaro, apesar da rusticidade e até estupidez flagrante do governante incumbido, parecia que ia nos tirar desse ciclo vicioso. Nomeou um ministério técnico e, no geral, de excelente qualidade. Não deu oportunidade aos fisiológicos de botar suas garras nas tetas estatais. Quero dizer, não havia dado. A partir do momento em que seu filho 02 apareceu com as mãos na botija, no caso das "rachadinhas", pronto! Aquele governo Bolsonaro, que esperávamos, acabou e se transformou no quê? No mais do mesmo. A mesma velha porcaria pública a que dão o nome de política, mas que na verdade é apenas um assalto orquestrado e permanente ao nosso bolso, o bolso dos pagadores de impostos.

Aí começou o troca-troca de ministros, a desavença com as próprias bases, os arroubos autoritários e as declarações desaforadas e estapafúrdias, depois veio
 o silêncio obsequioso e os conchavos, por debaixo dos panos, com Tófolli e, sabe-se-lá-mais-quem do Supremo, para deixarem as coisas como estão. O governo encolheu, talvez tenha chegado ao seu verdadeiro tamanho agora que não tem mais Moro e se pendura ainda na capacidade do ministro da Economia, que vem durando no cargo surpreendentemente, mas não se sabe até quando.

E a pandemia não tem nada a ver com isso. A verdadeira pandemia interna que está matando o país é nossa velha conhecida. É ela que nos faz ficar parados há décadas no mesmo lugar, revendo todos os dias o mesmo filme da corrupção insanável da vida pública brasileira.



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