quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Faxineira de bloco carnavalesco

Recentemente a "Folha" trouxe uma reportagem sobre a tortura e o assassinato do jornalista Vladimir Herzog e a farsa do suicídio que a ditadura militar tentou impingir à nação. Na mesma semana, a "presidenta" Dilma visitou Cuba e se recusou a falar sobre as violações aos direitos humanos pelo regime castrista, mas não se recusou a falar de Guantánamo.
Mesmo não esperando muito desse regime petista, eu esperava mais da "presidenta". Afinal, apesar de pertencer a um partido com viés stalinista e, portanto, deturpador da realidade histórica, ela própria sobreviveu a essa experiência durante o regime militar. Pelo que consta em seu histórico oficial, Dilma foi barbaramente torturada nos porões do regime. Se assim foi, e não há motivos para duvidarmos que assim tenha sido, a pessoa e cidadã Dilma Rousseff deveria demonstrar no mínimo um pouco de compaixão e solidariedade para com os dissidentes e opositores do regime cubano que estão apodrecendo nas masmorras da ilha. Não importa a ideologia, oposição política não é crime, é um direito; e desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano, sim, esse é um crime que não pode ter prescrição e com o qual não se pode ter tolerância de nenhuma espécie. Mesmo que os opositores dos Castro sejam porventura criminosos não poderiam ser tratados assim e o Brasil tem a obrigação moral de elevar sua voz contra essas violações de direitos humanos onde quer que ocorram, inclusive em Guantánamo.
Só que, visitando uma ilha-prisão em que o direito de ir e vir não é respeitado e cujas celas estão abarrotadas de prisioneiros políticos sofrendo as piores degradações, não cabe à presidenta, ex-presa política, escolher falar de Guantánamo e sequer mencionar a situação dos próprios cubanos.
Quanto à Guantánamo, prisão altamente questionável, mas que, ao contrário de Cuba, pelo menos recebe visitas da ONU e das entidades de direitos humanos, o fórum adequado para se discutir os problemas dessa prisão não é bem a ilha castrista, mas o plenário da ONU e principalmente a Casa Branca, que brevemente será visitada pela "presidenta".
Qualquer coisa diferente disso é, além de bravata sem sentido, uma demonstração de imenso cinismo e desrespeito pelo sofrimento alheio. Se for esse o caminho escolhido pelo governo Dilma para lutar pelos direitos humanos, não terá havido mudança alguma em relação ao governo Lula e estaremos simplesmente consolidando nossa posição "esquerdista" no mundo, exatamente quando o "esquerdismo" deixou de ter sentido.
A grande questão, para mal do Brasil, é que o governo Dilma não é um governo de fato, é um governo de factóides; a começar pelo falso doutorado, passando pela foto da Dilma/Bengell e pelos dossiês falsificados de sua equipe de campanha. Tudo é falso, desde a imagem da gerentona eficaz, até a de faxineira de bloco carnavalesco. O governo Dilma se parece mesmo é com sua paródia, por Gustavo Mendes no Canal da Dilma.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Hoje pode se ler nos jornais duas notícias interessantes. A primeira refere-se à condenação a 105 anos de reclusão do ex-suplente de deputado que mandou assassinar a deputada ganhadora e sua família para assumir o cargo no lugar dela.
O exercício da função pública, ao invés de ser um dever a ser cumprido, virou uma coisa tão cobiçada, porque lucrativa, que máfias se organizam no sentido de abocanhar e ficar com fatias de poder. Deve ter até cotação no mercado negro: quanto vale um cargo de vereador, ou de deputado, ou de prefeito? Os valores subindo e descendo conforme o "retorno" do "ativo". O assassinato da deputada eleita é apenas uma ponta escura do iceberg, que deveria ter ficado oculta, mas que por acaso, veio à tona a confirmar mais uma vez a podridão da política praticada no Brasil.
Pois nesse cenário, vem uma boa notícia: a condenação do assassino, com sentença exemplar. Pena que pela lei brasileira o máximo que esse degenerado vai ficar na cadeia é 30 anos, se chegar a tanto. Não dá para entender o motivo dessa benevolência na legislação brasileira com criminosos. Nem vale a pena falar da tal progressão da pena (que é na verdade uma regressão à incivilidade). Se a lei penal estabelece um prazo para a reclusão do facínora, porque outra lei vem dizer depois que não pode, não é bem assim, etcétera e tal...?
Pelo menos houve a condenação, coisa que não é muito comum por aqui quando o réu não pertence ao grupo dos cidadãos de segunda classe.
A outra notícia interessante foi a de que o secretário de Recursos Humanos do ministério do Planejamento, que faleceu subitamente, teve sua admissão recusada em dois hospitais de Brasília porque nenhum deles tinha convênio com seu plano de saúde e ele não portava cheques para deixar uma caução. O que é interessante na notícia não é a morte, evidentemente, nem a falta de atendimento médico. É o fato de isso ter acontecido com uma "autoridade" da República. Casos como esse ocorrem todos os dias por todo o território nacional. E o que é pior, acontece até mesmo no SUS. Pessoas desvalidas, pertencentes à segunda ou terceira classe da cidadania, tem de procurar somente o SUS e aguardar nas filas, rezando para terem capacidade de aguentar vivas até serem atendidas. Isso sem falar nas filas para transplantes, para hemodiálise, para quimio e radioterapias. Não é à toa que o "nosso guia" não fez por menos; foi logo se tratar no Albert Einstein, a catedral da excelência médica no país, para quem pode pagar por ela, é claro! Voltando ao caso do secretário: foi um azar danado! O homem pertencente ao núcleo do poder, cogitado pela ministra Miriam Belchior para uma promoção, foi bater de madrugada em duas clínicas particulares sem talão de cheques no bolso. Foi um azar para as clínicas também. Se tivesse sido um joão-ninguém, um zé-das-couves, o assunto não renderia nem nota de rodapé. Mas por pertencer à classe privilegiada de primeiros-cidadãos dessa República de bananas, a "presidenta" já acionou até o ministro da Saúde para "cuidar do caso", ou seja, é provável que as duas clínicas estejam se preparando agora para tomar chumbo.
Pois bem, o que liga essas duas notícias é que a sina destinada aos desprivilegiados de vez em quando atinge também alguém das esferas superiores. Se foi só um acaso e uma coincidência é pena. Mas pode ser também um sinal de novos tempos, quem sabe? A esperança é sempre a última que morre e com talão de cheques na mão, porque o seguro, irmão dela, morreu de velho.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Feliz Ano Velho?

Todo mundo começou o ano com um pé atrás. Ressabiados, não projetamos para 2012 as esperanças radiosas com que costumamos saudar a passagem de ano. Ainda nos desejamos "Feliz Ano Novo", mas sem aquele ímpeto, aquela vibração que se originava da quase certeza que tudo iria melhorar. Não bastassem as ameaças esotéricas, a situação da economia europeia e americana se projeta sobre 2012 como uma sombra ainda mais forte e mais ameaçadora do que o calendário maia.
Alguns economistas simplesmente estão "pirando" e prevendo realmente o caos, o fim do mundo. Será que sempre foi assim na história de humanidade? Sabemos que crises sempre existiram e elas coincidem com o esgotamento de um ciclo econômico e, antes que um novo modelo seja implantado, vive-se uma espécie de caos, de vale-tudo. Portanto em alguns micro-universos o fim de um ciclo pode representar realmente o fim de um mundo particular.
O que está sendo novidade agora talvez, o que ainda não tínhamos visto, é esse caos generalizado, globalizado, afetando a economia mundial como um todo e em velocidade muito maior do que os acontecimentos anteriores. O fim da hegemonia européia, da qual a americana era apenas uma continuação deslocada geograficamente, é o fim de um mundo particular. Um mundo cheio de defeitos como qualquer outro, mas que trouxe pela primeira vez na história da humanidade, para o palco central, valores como a democracia, direitos humanos, respeito ao indivíduo, limitação ao poder do Estado, e, como cereja do bolo, o conceito de bem-estar social. Não se pode negar que nesse mesmo caldo de cultura proliferaram cânceres como o nazismo, o racismo, a intolerância e a xenofobia, mas pode-se dizer que tudo isso foram desvios e o que prevaleceu foram valores humanistas acima de tudo.
O eixo econômico se desloca agora para a Ásia, onde a tradição democrática é restrita, circunscrevendo-se ao Japão e à Índia, mas todos os dois com democracias recentes, de pouco mais de 50 anos, o que em termos históricos é muito pouco.
Os demais países da Ásia, destaque principalmente para a China, nunca tiveram tradição de democracia, participação popular, oposição política e liberdade de opinião. Sem esses valores a questão do desenvolvimento econômico fica também comprometida, pois sem a liberdade criativa e sem a liberdade de empreender, a economia vai girar apenas do modo que os governos autocráticos decidirem, o que não significa que irão escolher o melhor, o mais eficaz, ou o mais produtivo.
Se o capitalismo ocidental que era visto como um sistema selvagem e desumano que só obedecia às leis de mercado e procurava o lucro acima de tudo, conseguiu produzir esse valores que tanto prezamos, o que devemos esperar desse novo "capitalismo" oriental, estatal, dirigido, autocrático, fechado e antilibertário? Teremos saudade da prepotência americana? Tomara que não, mas só o saberemos em futuro breve. Enquanto isso: Feliz Ano Novo pra todos.

Seguidores do Blog

No Twitter:

Wikipedia

Resultados da pesquisa