terça-feira, 19 de julho de 2016

O Golpe Turco

Erdogan é um candidato a ditador. Disso não há dúvida. À semelhança de Putin, passou de primeiro-ministro a presidente, mas manda tanto, ou mais, do que mandava antes. Seu partido é controlado com mão de ferro. E, além de tudo, traz um viés religioso. Política e religião juntos produzem um combustível de alta capacidade inflamável.

Esse golpe está muito mal explicado. Já são 6 mil pessoas presas, entre civis e militares, acusados de conspiração. É possível uma coisa dessas? Um golpe tramado por 6 mil pessoas já é uma coisa absolutamente fora do comum. E, um golpe tramado por 6 mil pessoas, e que ainda falha, é algo mais do que extraordinário!

É evidente que essas prisões são, na verdade, um expurgo que o Erdogan está promovendo com relação aos seus adversários políticos. E a Europa e os Estados Unidos não vão poder dizer nada, porque afinal têm que defender a "democracia" turca.

Para se ver livre desses adversários, Erdogan quer agora restaurar a pena de morte, que havia sido abolida em 2004. Tudo muito democraticamente, votado pelo parlamento, etc., etc.

Alguns países parece que tem uma sina da qual não se livram. A Rússia, por exemplo, não consegue sair de um regime autocrático. A China, idem. A Turquia está no mesmo grupo, junto com outros países do Oriente Médio, que não se livram dos chamados "homens-fortes". O México, Argentina e o Brasil não conseguem se livrar de políticos fisiológicos e venais. A Itália e o Japão não se livram das máfias. A África inteira não se livra da miséria, da doença, da fome, e da corrupção. 

É triste de se ver esse espetáculo de desperdício de recursos naturais e humanos. Houve um momento, na virada do séc. XIX para o séc. XX em que se acreditou que seria apenas uma questão de tempo e toda a humanidade partilharia o desenvolvimento tecnológico e cientifico. E, com isso, as abissais diferenças na qualidade de vida das pessoas, simplesmente desapareceriam.

Mas logo em seguida, vieram as duas grandes guerras e a guerra fria, a desfazer esse sonho e a colocar, em lugar dele, o pesadelo do Terror permanente. Hoje é mais fácil acreditarmos na autodestruição da espécie humana, do que na utopia de um desenvolvimento e progresso compartilhado. A Turquia é um bom exemplo. No início do século XX, conseguiu se desfazer das amarras do atraso religioso, quando Kemal Atatürk fundou a chamada Turquia moderna. Mudou o alfabeto e vários costumes à força e sua sombra política se projetou desde então até quase os nossos dias na vida do povo turco.

Tudo, porém, que a Turquia conseguiu avançar nas primeiras décadas do séc. XX parece estar retrocedendo com a recente ascensão dos partidos religiosos. Temos caminhado, no século XXI,  rapidamente em direção à barbárie. Resta saber se esse processo vai eventualmente estancar e reverter. Se depender dos líderes políticos do momento a esperança é escassa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo! Deixe aqui seu comentário:

Seguidores do Blog

No Twitter:

Wikipedia

Resultados da pesquisa