domingo, 21 de julho de 2013

Bode expiatório

A grande falácia orquestrada pelo governo Dilma e repetida à exaustão pelos militantes é que a solução para os problemas da saúde no Brasil está na mão dos médicos.
Quando os protestos bateram forte nos gastos exorbitantes com a Copa e o compararam com a situação dos hospitais, exigindo o padrão-Fifa para a saúde, a saída que o governo encontrou foi "concordar" com as ruas e procurar um "culpado". Esse culpado, obviamente, não é o próprio governo, nem essa classe política indigente que temos no país. Eles não são nunca culpados de nada. 
Sendo a questão da saúde um ponto sensível para o povo,  onde as ações e omissões dos governos ficam mais rapidamente expostas e dão manchetes na mídia,  foi nessa área que os marqueteiros aconselharam o governo a jogar suas cartas. 
Aí ficou fácil. Quando se fala em saúde, o símbolo arquetípico que imediatamente surge nas mentes é a figura do médico, aquele ser meio místico, poderoso, que detém um conhecimento iniciático, capaz de curar doenças, sanar as dores, ou até piorá-las,  salvar vidas, ou deixar que elas se percam. O médico, nas sociedades primitivas, equivale-se ao curandeiro, ao feiticeiro e ao sacerdote. É ele quem faz a comunicação com as forças espirituais da vida e da morte.
Aproveitando-se do fato de que esse arquétipo, mesmo que inconsciente, continua presente nas sociedades ditas modernas, se o tratamento da saúde das pessoas não está bom, a quem seria mais fácil atribuir a culpa?
Não se leva em consideração que ações de sáude pública são complexas, exigem investimento de curto, médio e longo prazo, exigem planejamento, mudanças de paradigmas e até mudanças culturais (lembremo-nos da guerra da vacina). Não se leva em conta que essas ações exigem um trabalho cordenado de governos em todos os níveis e que somente o Estado tem condições de leva isso a cabo. 
Mas, não. Fica muito fácil eleger a figura de branco como o responsável pelo estado de calamidade que se encontra a saúde no país, apesar de até recentemente o Lula ter dito que a saúde no Brasil estava próxima da perfeição
Todo mundo sabe que faltam médicos no país, porque, dependendo de qual seja o nosso ideal de atendimento realmente faltam. Na Alemanha o padrão é de 3,3 médicos por mil habitantes, nos EUA é 2,4, no Japão é de 2,0. No Brasil, atualmente, é 1,9. Não estamos tão longe assim.
Todos sabemos que a presença dos médicos está concentrada nos grandes centros urbanos do Sudeste. Não só de médicos, mas também de profissionais de qualquer outra área. A pergunta que cabe aqui é: por quê ocorre esse fenômeno? Por que os profissionais de nível superior de qualquer área não migram para os grotões e preferem se concentrar nas grandes cidades?
A resposta que vale patra os médicos, vale também para os enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas, advogados, contadores, economistas, professores, engenheiros, etc., etc.
O que não se diz, o que se omite por má-fé,  é que a causa principal da ausência de assistência à saúde na maior parte dos grotões brasileiros se deve à incúria do próprio Estado, quer no nível federal, estadual e municipal.

Os médicos contratados pelas prefeituras, pelos "maravilhosos salários" que apregoam, são diuturnamente desrespeitados, não tem vínculo empregatício, não tem direito a FGTS, seus contratos são burlados, recebem pagamentos com atraso ou às vezes nem os recebem. Os postos de saúde capengam sem recursos, estão inflados de parentes e correligionários dos políticos locais, que são os que mandam no posto.
Não há possibilidade de fazer um simples raio-x, um examo de laboratório demora semanas. E mesmo que o médico esteja presente, mesmo que consiga diagnosticar só com o exame clínico, colocando até a sua reputação em risco, como tratar o paciente sem a mínima infra-estrutura?

E não se precisa ir aos grotões da amazõnia ou do nordeste para ver isso. Em qualquer estado do sudeste, basta entrar nos hospitais públicos que se vê o aglomerado de pessoas sendo atendidas em macas nos corredores. 

Isso já foi dito à exaustão. Não é necessário repetir. Mas o governo insiste que a solução está na mão dos médicos e coloca a sociedade contra toda a classe ao divulgar meias-verdades. Isso é terrorismo. Isso é vandalismo. A sociedade tem que repelir mais essa mentira porque somente quando a verdade ficar escancarada cruamente é que teremos dado o passo inicial em direção à solução dos nossos problemas. 


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