Mas o século XX inaugurou uma forma de genocídio patrocinado não por clãs ignorantes ou decorrente de disputas tribais, mas esse século trouxe à tona o genocídio praticado como política pelo Estado moderno. Inaugurou-se o genocídio sem ódio pessoal, o genocídio a sangue frio, burocrático, tal como Hannah Arendt teve a surpresa de constatar diante do nazismo. Foi o que ela chamou "a banalidade do mal" e, por cuja expressão, foi tão mal compreendida.
O século XIX vinha vindo, com a segunda revolução industrial inglesa, forjando uma idéia de "progresso contínuo" e vislumbrado a possibilidade da "paz permanente entre os povos". Seria a vitória da deusa Razão, da deusa Ciência e da deusa Tecnologia sobre o atraso e a escuridão do passado.
O Homem teria atingido seu ápice cultural e a questão que ainda demandaria esforços era globalizar essa civilização, ensiná-la aos demais povos, que ainda viveriam na ignorância e assim, todos seriam felizes para sempre.
Claro que essa mesma revolução industrial estava calcada sobre a penúria de uma classe de pessoas, mas isso também seria temporário e passageiro; o reflexo dessa revolução inglesa no outro lado do Atlântico estaria a demonstrar essa verdade. Afinal o sonho americano prometia a cada um a possibilidade de ascensão e enriquecimento, não importando mais a classe de origem, nem o nascimento.
Essa visão idílica e romântica foi brutalmente destruída no romper do século. A guerra iniciada em 1914 mais uma vez jogou por terra as ilusões de paz permanente e sua brutalidade, até então desconhecida pela humanidade, trouxe talvez pela primeira vez na história o medo do extermínio total.
O homem perdeu ali a sua "inocência" e compreendeu então que, quanto mais progredia tecnologicamente, mais rapidamente caminhava para a possibilidade da autodestruição.
E, no meio dos troares de canhões e do uso de aeroplanos pela primeira vez como máquinas de morte, surge o fantasma do genocídio, a sombra da morte planejada e proposital de grupos étnicos inteiros como um instrumento de política de um estado.
Esse genocídio inaugural, vamos dizer assim, foi o que hoje faz um centenário. Foi o genocídio dos armênios taõ pouco falado e tão pouco conhecido.
A população armênia que vivia em território do império otomano foi sistematicamente dizimada. De 1915 a 1918 foram mortos 50% dessa população e, como consequência, começou a diáspora armênia pelo mundo.
Infelizmente, esse genocídio foi seguido por muitos outros, desde o emblemático Holocausto até os atuais ataques do Estado Islâmico contra os djezidis e cristãos assírios e nestorianos.
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