domingo, 13 de dezembro de 2015

Um rio que era doce

Dizem que essa barragem que se rompeu era "benchmark". Imagine!
Um problema que se vive hoje nas corporações é essa questão da imagem suplantar a realidade. Muito semelhante ao que acontece nas redes sociais, todos querem ficar "bem na fita". Todos estão permanentemente felizes de trabalhar na corporação. Todos sentem orgulho da empresa. Todos vestem a camisa". Todo mundo está alinhado com os valores da empresa. A linguagem e as atitudes politicamente corretas dominam a vida corporativa e esse é um ambiente no qual é quase impossível ser divergente. Daí os relatórios são todos maravilhosos e quase tudo é "benchmark". Até que a força da realidade se impõe.

Mais cedo ou mais tarde, a realidade sempre vai se impor, por isso o desafio da gestão corporativa atual é conseguir separar o joio do trigo. Um gestor, que não se deixa enganar e que insiste em enfrentar dureza da realidade, ao invés de se acomodar com a tranquilidade da zona de conforto e dos tapinhas nas costas, é sempre um chato! É mal visto pelos subordinados e pelos superiores. Sua carreira termina ali.
Esse tipo de gestor, que deveria ser celebrado pelas empresas como um dos seus mais preciosos ativos, é massacrado pelo grupo que só faz "política" e que quer se livrar dele o mais rápido possível.

Não sei a partir de quando as empresas passaram a adotar esse padrão pausteurizado de administração. Suponho que foi quando os RH's passaram a ser dominados pelo "psicologismo" e pelo relativismo cultural. Assim como os pais foram proibidos de castigar os erros dos filhos, nas grandes corporações passou a ser malvisto apontar erros dos subordinados. O que antes era chamado pelo nome de erro, trabalho mal feito, negligência, passou a ser chamado de "oportunidade de melhoria". Os empregados passaram a ser chamados de "colaboradores", como se o que eles fizessem ali não fosse uma obrigação, uma contrapartida pelo salário que recebem.

Agora tudo, nas empresas, tem que passar por uma avaliação de 360 graus, em que o chefe avalia e é avaliado pelo seu subordinado. Daí institui-se um pacto tácito. O chefe avalia bem o seu funcionário para, em troca, ser em avaliado por ele. Ficam todos bem, ficam todos felizes e garantem o recebimento dos seus bonus anuais. Dá pra levar assim por um bom tempo. Em geral, a primeira consequência é uma certa perda de produtividade, mas as grandes corporações, gigantescas e semi-monopolistas como são hoje em dia, não se ressentem de imediato e continuam fazendo seu lucro e distribuindo seus dividendos conforme o previsto. Até que...uma barragem se rompe e sai lama para todo lado! Literal e figurativamente. E o prejuízo não fica restrito àqueles que auferiram o lucro. O prejuízo é distribuído por toda a sociedade.

Era uma vez um rio que era doce. Agora está amargo. Suas águas tem o gosto de barro, de lama. Esse rio já vinha morrendo por conta do descaso dos governos. Agora recebeu um ataque maciço por conta de um decaso corporativo. Era uma vez um rio que era doce.

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