domingo, 4 de junho de 2017

Quem não deve, não Temer

O trocadilho é infame, mas irresistível e, além disso, expressa uma verdade cristalina da qual nos esquecemos no dia a dia da política suja desse país. É costume ver-se no noticiário, coisas como: fulano de tal teme a delação de A ou de B. 

Hoje, por exemplo, a manchete principal do Estadão é: "Rocha Loures é preso e Planalto teme delação". 
A pergunta que cabe a seguir é: por que o "Planalto" teme? Se teme é porque o delator tem algo a dizer que compromete o atual chefe de Estado. Ao manisfestar temor o suspeito só faz aumentar o grau de suspeita sobre si. É praticamente uma confisão de culpa.

Fosse o "Planalto" inocente, não temeria coisa alguma. Ao contrário, faria como Itamar fez no caso Hargreaves (então ministro da casa Civil): demitiu o funcionário suspeito e o readmitiu depois que, terminadas as investigações, concluiu-se que não havia indícios para incriminá-lo.

Nesse caso, o "Planalto" saiu ileso. Mesmo que Hargreaves tivesse sido acusado, e eventualmente condenado, o "Planalto" teria continuado ileso. Essa foi uma atitude de chefe de Estado, que não devia e não temia. E, só uma notinha a mais de esclarecimento, Henrique Hargreaves era amigo pessoal de longa data de Itamar. A relação entre os dois não se abalou nem um pouquinho.

Bom, isso é de uma época em que negócios de Estado não se confundiam com negócios de partido, e, muito menos, com negócios pessoais. Portanto, aqueles que dizem que a corrupção vem desde o descobrimento, e que isso e aquilo, que não tem jeito, que atinge a todos, etc., etc., fiquem sabendo que, mesmo assim, mesmo no reino normalmente sujo da política, há possibilidade de se fazer as coisas sem a malfadada corrupção. 

Além do exemplo de Itamar, na democracia, há o exemplo de Castelo Branco, na ditadura, que demitiu seu próprio irmão, Lauro, da Receita Federal por ter recebido um fusca (ou Aero Willis, segundo outras fontes) como presente. Castelo teria exigido a devolução, ao que Lauro argumentou que ficaria mal como ocupante do cargo, por ter que devolver o presente. Teria que pedir demissão. Castelo respondeu: demitido do cargo, você já está. O que estou decidindo é se mando prendê-lo ou não. 




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