quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Terrorismo "cowboy"

Há uma diferença flagrante entre o terrorismo islâmico, patrocinado por governos como os do Irã e da Síria, e o terrorismo de loucos como os do norueguês Breivik, do Unabomber e de  outros atiradores avulsos como esse recente de Connecticut.
No primeiro caso, o terrorismo é de caso pensado, utilizado como uma arma política e pode ser abandonado se e quando a célula, que o mantém, assim o decidir. Esse tipo de terrorismo não depende de uma figura central. Embora emblemática no plano simbólico, uma figura como a de Bin Laden desaparecendo, não significa que a Al-Qaeda toda vá desaparecer ou sequer interromper suas atividades. Esse terrorismo independe das pessoas que o praticam.

O outro, não. O terrorismo avulso é um complemento da patologia pessoal. Geralmente pensado, planejado e executado sozinho, mesmo que vinculado a um grupo ou corrente ideológica.
Aliás toda e qualquer ideologia extremista atrai desequilibrados mentais que vêem naquele extremismo uma possibilidade de preencher a sua nulidade psíquica, mediante um simulacro de realidade, nem que seja por poucos minutos. É como se, ao perpetrarem uma tragédia de proporções épicas, estivessem provando ao mundo e a si mesmos a realidade de sua própria existência. Existem porque são capazes de fazer aquilo. A prova está lá, estampada nas primeiras páginas dos jornais.

Assim o que esse louco tem de fazer é algo de proporções tais que ultrapassem o local, o bairro, até mesmo a cidade. A repercussão terá que ser, se possível, mundial. Assim eles, ou escolhem numerosas vítimas, ou uma vítima que por si só repercuta da mesma maneira. Foi assim com John Lennon, foi assim com as crianças do Rio, foi assim com Breivik, na Noruega. Chapman agiu sozinho do começo ao fim. Já Breivik alistou-se em grupos de extrema esquerda.

O mais estranho é que esses tipos de loucura não acontecem aleatoriamente. Toda psicopatologia tem preferências culturais relacionadas ao seu próprio tempo e lugar. No Oriente Médio, as pessoas são capazes de se amarrar em bombas e se explodir em um lugar público, matando-se e levando consigo as que se encontravam aleatoriamente ao seu redor. Nos Estados Unidos é diferente. Ninguém se explode desse jeito. Ali a preferência é por um atirador solitário, que mata, um por um, antes de dar cabo de si. Isso fica culturalmente explicado. No Oriente, o coletivo é mais importante que o individual. Já nos EUA o ideário celebra o herói solitário que resolve "tudo" sozinho.

Ambos são muito difíceis de combater, mas o terrorismo político talvez seja mais fácil de se prevenir porque segue uma "lógica" política por trás de suas ações. Já o terrorismo individual, na minha opinião, não se combate com a restrição à venda de armas, mas com uma mudança cultural. Enquanto os americanos continuarem a considerar a si mesmos como os "cowboys" do mundo, terão que enfrentar, de tempos em tempos, esse tipo de problema interno.

2 comentários:

  1. Não consigo justificar nenhum tipo de terrorismo.
    Ambos são bárbaros e incompreensíveis.

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  2. Eu tampouco estou justificando. Só tento entender os mecanismos internos de cada um, as semelhanças e diferenças. Em um país, dito civilizado, como os EUA é inquietante ter que se defrontar com esse tipo de atitude.

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