sexta-feira, 11 de março de 2016

Não há deuses!

O historiador Marco Antônio Villa disse que Lula não é nada disso que se apregoa por aí, como líder político. Para ele, Lula é apenas um ladino líder sindical que foi se aproveitando das oportunidades que lhe passaram pela frente e deu no que deu.

Primeiro foi a construção do mito. Estávamos, o país, em luta contra a ditadura. Necessitávamos de símbolos; e os políticos tradicionais, na época, como agora, não encarnavam o processo de mudança pela qual ansiávamos. Lula foi um achado para vários agentes e grupos com atuação política. Para a Igreja Católica e suas Comunidades Eclesiais de Base, o operário pobre, imigrante, nordestino, simples, homem do povo, cabia perfeitamente na fábula marxista-cristã que ela acalentava então. Para a ditadura, na pessoa do gen. Golbery, já armando a estratégia da transição, Lula, segundo Villa, era um anteparo contra o ímpeto comunista e um anteparo contra Brizola. Para os intelectuais, que também lutavam contra a ditadura, Lula podia encarnar o Lech Walesa brasileiro. Lula era o cara que subia no caminhão e fazia o que os intelectuais não sabiam e não conseguiam fazer: conversar com a massa.  Os intelectuais sabiam tomar champanhe, comer caviar e discutir Sartre e Lacan, mas nenhum deles tinha vocabulário para se dirigir ao povo. Até Fernando Henrique, um dos intelectuais que, no início, cortejou Lula, não tinha embocadura para falar com quem dava voto, o povão! FHC teve a sorte de ser convidado por Itamar para o ministério da Fazenda e se deu bem com o Plano Real. Se fosse depender de discurso para ganhar voto estava ferrado! Todos, portanto, queriam um mito, um mito popular.
Pois criaram o mito e depois acreditaram nele.

Villa diz que Lula era apenas mais um pelego, sem nenhuma ideologia, cujo objetivo era entrar para o sindicato para não ter que trabalhar mais. O negocio era ir enrolando a plebe ignorante e se manter vitaliciamente na diretoria sindical, atendendo e "comendo as viúvas dos  cumpanhero" como o próprio Lula declarou à Playboy, até que se casou com uma delas; tomar cerveja nos butecos e jogar truco. O que foi acontecendo depois, todos já sabem. A greve do ABC. primeira greve na ditadura, catapultou o  mito em formação dando lhe visibilidade nacional. Sua prisão por 30 dias, ajudou bem, começando a lhe conferir a auréola de mártir, de perseguido. Daí, com a fundação do PT, o caminho para o poder estava traçado. Era só uma questão de tempo. E Lula chegou lá. Chegou com a auréola de líder carismático, iluminado, com o destino manifesto de guiar a nação rumo ao futuro glorioso.

Até ele acreditou no próprio mito. Acreditou-se um gênio político. E começou por aí a derrocada. Acreditou-se invulnerável, acima do Bem e do Mal, acima das leis, intocável, pois afinal tinha a força do povo atrás de si, a sustentá-lo indefinidademente. Jamais pensou que perderia esse apoio. Era o chefe de um esquema de compra de apoio político. O seu partido tinha uma fonte aparentemente inesgotável de dinheiro (roubado da maior empresa do país). Não havia como dar errado. Até que... um fio puxado de uma investigação comezinha por um juiz íntegro, auxiliado por uma equipe jovem e idealista do ministério público, abriu as comportas e  a verdade foi se derramando na cara de todos, uma enxurrada de lama moral, varreu o país de norte a sul. Alguns ainda se espantam. Mas cadê o mito? Cadê o povo carregando o mito? Não há mito e não há povo para carregá-lo. O que há é um homem desmoralizado, desacreditado, que se acabou definitivamente para a vida pública.
O povo, desfeita a ilusão, vai se vestir de verde e amarelo e sair às praças no domingo, para, mais uma vez, recomeçar a construção de um país digno. Dessa vez, com os pés bem no chão, sem falsas esperanças, sem delegar a ninguém a condução de seu destino e, sobretudo, sem acreditar em mitos. Melhor assim.

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